• Cuiabá, 12 de Julho - 2025 00:00:00

Especialista fala sobre Endometriose e a importância do tratamento multidisciplinar


Rafaela Maximiano

Na última semana a cantora brasileira Anitta viralizou nas redes sociais ao contar que somente após nove anos de dores durante o ato sexual foi diagnosticada com endometriose, doença inflamatória provocada por células do endométrio, tecido que reveste o útero.

Para saber mais sobre o assunto o FocoCidade conversou com a ginecologista e obstetra Giovana Fortunato, especialista em endometriose e infertilidade e docente da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).

A especialista falou sobre sintomas, método mais eficaz para o diagnóstico precoce e importância de uma equipe multidisciplinar para tratamento adequado da doença.

“O melhor tratamento é sensibilizar a sociedade para os problemas da doença e democratizar informações sobre diagnóstico e tratamento, ações preventivas e terapêuticas”, pontua Giovana Fortunato.

Confira a entrevista na íntegra e boa leitura!

O que é a endometriose e a quem atinge?

A endometriose é uma doença inflamatória que ataca o tecido do útero, os ovários, a bexiga e até o intestino. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 180 milhões de mulheres enfrentam a endometriose. No Brasil, são sete milhões de casos, o que corresponde a aproximadamente uma em cada dez mulheres em idade reprodutiva.

A doença atinge uma a cada seis mulheres em período reprodutivo e tem maior chance de ocorrer se houver outros casos na família, o que sugere uma tendência genética. Embora, normalmente, a endometriose seja diagnosticada entre 25 e 35 anos, a doença provavelmente começa já alguns meses após o início da primeira menstruação.

Quais os sintomas da endometriose?

Os sintomas podem surgir na adolescência e incluem dores durante relações sexuais, entre as menstruações, ao defecar e ao urinar, sangramento na urina ou nas fezes, além de forte cólica menstrual. O processo inflamatório progressivo causado pela enfermidade pode comprometer a função de órgãos e tecidos, causando infertilidade.

A infertilidade está presente em cerca de 40% das mulheres com endometriose.

Existe um exame para identificar a doença?

O melhor exame para o diagnóstico da endometriose profunda é o chamado Ultrassom Transvaginal de Mapeamento de Endometriose, mas tem também a Ressonância Magnética. Ambos com preparo intestinal, sendo que a associação destes exames na mesma data, propicia um aumento da sensibilidade e especificidade, ajudando na avaliação pré-operatória.

O exame é realizado com o mesmo aparelho de uma ultrassonografia comum. No entanto, seu preparo envolve a limpeza de intestino. No exame, o médico irá analisar cuidadosamente todas as estruturas que podem ser afetadas pela endometriose, inclusive o intestino.

No Brasil, são sete milhões de casos, o que corresponde a aproximadamente uma em cada dez mulheres em idade reprodutiva. 

Como é o tratamento para a doença?

Uma vez diagnosticada, a endometriose pode ser tratada de diferentes formas. O tratamento terapêutico, depende da idade, da gravidade dos sintomas e da doença, e se a mulher deseja ter filhos.

O tratamento clínico habitualmente envolve a interrupção do ciclo menstrual. Para isso, são usadas pílulas anticoncepcionais de modo contínuo, ou seja, sem pausas para menstruar. Também podem ser usados progestagênios isolados, hormônios injetáveis, implantes ou DIU (Dispositivo Intra Uterino) que libera progesterona.

Este tipo de terapia alivia a maioria dos sintomas, mas não elimina os focos de endometriose ou as aderências causadas pela doença.

Também é importante mudança no estilo de vida e tratamento medicamentoso. A mudança no estilo de vida engloba quatro pilares principais, são eles a alimentação, melhoria da qualidade de sono, manejo do estresse e prática de atividades físicas.

Já o tratamento hormonal também não reverte as alterações anatômicas que já ocorreram. Considerados cada vez menos no tratamento da endometriose, este método impede os ovários de produzir estrogênio.

Quando há necessidade de cirurgia?

O tratamento cirúrgico é reservado para as pacientes que não conseguiram obter uma melhora significativa dos sintomas com as medicações e mudança do estilo de vida ou quando apresentam alguma contraindicação ao uso dos medicamentos, seja por efeitos colaterais, por riscos ao uso de hormônios ou pelo desejo de gravidez.

A cirurgia para o tratamento da endometriose é feita através de técnicas minimamente invasivas, que inclui a videolaparoscopia e a cirurgia robótica. Como a endometriose pode ser desde mínima até muito avançada, a complexidade de cada cirurgia varia de paciente para paciente.

Chamamos de técnica de excisão completa das lesões, que exige um domínio técnico superior pelo cirurgião. É preciso ter amplo conhecimento da anatomia da pelve, que é extremamente complexa. Isso irá permitir que a retirada completa das lesões de endometriose seja realizada de forma efetiva e com risco mínimo de complicações.

Alguma consideração final?

Por se tratar de uma doença complexa e multissistêmica é essencial o tratamento multidisciplinar, com atuação conjunta e harmônica dos profissionais envolvidos, garantindo assim os melhores resultados possíveis e benefícios para as pacientes.




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