Rafaela Maximiano
Ômicron, vacinas, feriadão e o futuro da covid-19 foram os principais assuntos abordados na Entrevista da Semana com o médico, Hélio Marcelo Pesenti Sandrin.
“Obviamente, devido à desobediência civil, haverá aglomerações e transgressões em todos os lugares, mas pelo menos o carnaval em si está 'proibido'. Mas certamente haverão festas particulares. Eu abomino isso e peço encarecidamente que as pessoas façam desses dias de feriado momentos de lazer conscientes e até momentos de reflexão porque a vida está difícil e pode piorar.”
A afirmação do especialista leva em consideração não somente o feriadão mas também a guerra entre Rússia e Ucrânia.
Ao FocoCidade, Sandrin também aborda a vacinação para crianças, a gripe H3N2, o possível declínio da pandemia e levanta a necessidade de o Ministério da Saúde implantar um programa periódico de vacinação contra o coronavírus, focado nas variantes ou cepas.
“Tem que ter um programa de vacinação com atualização das cepas, assim como as da gripe, da H1N1. Se não tiver um programa será aleatória a vacinação”, disse Sandrin.
Experiente, trabalha como Clínico Geral desde 1987 e é também professor de medicina. Presidente do Hospital e Maternidade Santa Helena e ex-presidente da Federação das Santas Casas, Hospitais e Entidades Filantrópicas do Mato Grosso, Sandrin critica o valor repassado pelo Sistema Único de Saúde aos hospitais contratados e avisa que parcela de especialistas e recém-formados não querem mais trabalhar para o SUS.
“Existe no Brasil um grau de desobediência civil e de pouco se importar com o próximo cada vez mais significativamente e triste”, lamenta.
Confira a entrevista na íntegra:
Estamos diante de um cenário que já temos estudos científicos suficientes para demonstrar segurança e eficácia de vacinar a população pediátrica, ou seja, os pais podem ficar despreocupados e levar seus filhos de 05 a 11 anos para vacinar?
As vacinas de adultos precisam ainda chegar à finalização. O que temos visto é que ela induz a uma quantidade razoável de imunidade por isso mesmo ela vem sendo usada com atestações.
Quanto às crianças já se iniciaram os trabalhos, até onde podem ir as pré-verificações, elas são passíveis de serem usadas em crianças de 05 a 11 anos, mas também os testes finais referendadores terminam em 2026.
Eu, particularmente, deixo aqui registrado que não vejo justificativa alguma para os pais se preocuparem. É válido que busquem recomendação do pediatra, do médico que acompanha a criança, ou mesmo de orientação médica pediátrica em um posto de saúde, quando tiverem dúvidas.
Eu falo isso quanto ao uso de vacinas em crianças aprovadas pela Anvisa. A vacina clássica como a gente tem a coronavac ou a vacina que está sendo produzida pela Fiocruz que é de tecnologia já testada de vírus atenuados mortos. Na realidade chegou a se pensar na possibilidade de fazer vacinas para o público de zero a cinco anos. Eu particularmente vou ter que ser convencido de que a vacina geneticamente manipulada pode ser aplicada nesse público infantil.
Em dois anos a ciência deu respostas importantes no combate a essa pandemia. Um deles, que é o foco da prevenção e do combate – as medidas de biossegurança e a vacina. Qual sua avaliação sobre esse momento vivido, onde muitas pessoas não aceitam o novo normal e vivem como se a pandemia estive encerrada?
Assim como aconteceu com a chegada da dengue, até muitos anos atrás com a chegada da síndrome da imunodeficiência adquirida, a Aids, também depois com a Zica, com a H1N1, nós temos um potencial muito grande de aprender rapidamente. E, essas medidas de biossegurança e vacina, neste caso da Covid-19 só esbarraram na politização inadequada, totalmente fora de propósito de uma doença.
Nós tivemos maiores dificuldades no Brasil, mas podemos dizer que hoje nós temos maior sucesso do que maiores nações do mundo, onde havia o consenso sobre vacinas mais havia uma resistência tremenda. Falava-se muito e vacinava-se pouco e tomava-se pouco cuidado.
Uma das coisas que aprendemos rapidamente, e é muito importante em qualquer pandemia ou epidemia, é fazermos o diagnóstico precoce para que possamos ter uma intervenção precoce. Eu nem uso mais o termo tratamento precoce porque ele ficou estigmatizado com essa politização. Nós usamos a intervenção precoce para que se previna e tenha-se em mente com uma rapidez a possibilidade de ajudar pessoas acometidas pela doença. Isso tudo foi muito importante e obviamente a campanha de vacina está aí. Agora, porque respondem negativamente, uma parte é por estafa. São dois anos de batalha, após o segundo pico veio uma nova infectiva, a Ômicron, seu pico está em descendência graças a Deus. Classifico que será um pico moderado com baixa agressividade.
E, existe no Brasil um grau de desobediência civil e de pouco se importar com o próximo cada vez mais significativamente e triste. Os jovens por exemplo, são flagrados o tempo todo transgredindo as regras de biossegurança e esquecem completamente da família, inclusive aqueles que provêm seu sustento, os estudos, até a própria diversão e carregam o vírus para dentro de casa, e, os idosos, seus pais que tenham doenças são acometidos. Outros não tomam as doses da vacina, não usam álcool em gel, não mantém o afastamento e, as autoridades também tem uma parte de culpa, elas flutuam demais. Eu queria que me explicassem porque era tão necessário com trina e pouco mil pessoas em Cuiabá estando ainda sob a situação que vivenciamos. Eu não consigo entender.
Com o feriadão de carnaval corremos o risco de termos novos picos de contaminação e até mortes?
Obviamente, devido à desobediência civil, haverá aglomerações e transgressões em todos os lugares, mas pelo menos o carnaval em si está “proibido”, ou seja, não haverá clubes cheios, aglomerações na região Porto em Cuiabá, na avenida Mato Grosso. Mas certamente haverá festas particulares em diferentes locais em nosso estado e no país. Eu abomino isso e peço encarecidamente que as pessoas tenham comedimento, façam desses dias de feriado e de ponto-facultativo, momentos de lazer conscientes e até momentos de reflexão por que a vida está difícil, temos aí uma Europa conflagrada com uma guerra. Não sabemos as consequências dessa convulsão na Europa e as dificuldades econômicas podem se agravar. Lembrem-se que nós podemos ter graves consequências e, já sofremos as consequências desses dois anos de pandemia. Os profissionais de saúde estão exauridos, poderemos ter com essa guerra desgastes econômicos e as coisas podem piorar. Então não é bom brincar, é bom refletir.
Acredita que o Ministério da Saúde irá indicar a quarta dose de vacina contra o coronavírus para toda a população? Ou teremos a partir de agora uma vacinação anual como ocorre com as gripes, com apenas atualização das cepas?
É uma boa pergunta essa da quarta dose. É melhor que não tenha porque se não daqui a pouco cairemos no ridículo com a quinta dose, a sexta, nona dose, vigésima dose. Tem que ter um programa de vacinação com atualização das cepas, assim como as da gripe, da H1N1. Se não tiver um programa será aleatória a vacinação.
Particularmente eu não tomo quarta dose, eu quero entrar um programa regular de vacinação se possível for com a tradicional vacina coronavac que tomei logo de início e na terceira dose tomei a Pfizer e não me senti nada bem. Ainda tenho um ano de vacinação e não estou a fim um ano depois de tomar a quarta dose, a terceira já não foi muito agradável. Tenho imunidade, verifico sempre e acho que não precisa uma quarta dose e sim um calendário para coronavirose que deve se tornar uma doença crônica viral, onde teremos que tomar vacina quiçá todo ano ou semestralmente. Existem estudo que em breve devem ser divulgados apontando que a quarta dose não aumenta a imunidade. Vamos ver o que vai acontecer por aí, mas não vejo liberar a quarta dose para todo mundo algo bom, muita gente não tomou nem a terceira ainda.
O cenário da gripe H3N2 ainda é preocupante ou já foi corretamente administrada pelas autoridades em Saúde?
Quanto a gripe ou a H3N2, ela não preocupou quase ninguém. Alguns torciam para que ela causasse problemas mais sério, mas ela apresentou um comportamento a exemplo do H1N1. Surpreendentemente, o desespero era tanto que começou novamente a tomar a vacina para gripe “normal”, anual, como se ela inibisse a H3N2, essa vacina cobre cepas normais e H1n1. Obviamente já deve ter sido aprimorado e na próxima rodada de abril, maio ou março – depende do Ministério da Saúde, nós tomaremos uma vacina que poderá também imunizar contra o H3N2.
Aí, a gente espera que a população tome e não faça o que fez, o desespero veio do fato que essa gripe veio fora de hora, fora do contexto, dificilmente se vê fora do verão uma cepa de vírus que poderia causar problemas e todo mundo morrendo medo de tudo principalmente quem não tinha tomado a vacina no tempo certo. Mas graças a Deus não evoluiu, não causou insuficiência respiratória severa, poucos casos foram reportados.
Muitos pacientes chegaram no consultório com um pool de exames: dengue, covid-19, e outros, e também não era H3N2, foi uma forma de encarecer mais ainda as coisas.
Após as variantes que surgiram da covid-19, o que se espera da pandemia para 2022? É cedo para falarmos em fim ou declínio dela?
O painel agora parece que vai ser esse de declínio da pandemia. Temos mais pessoas resistentes com imunidade, cepas poderão aparecer mais poderosas ou não, a classificação que se deu a essa cepa que se deu o nome de Ômicron, falaram que ela é muito infectiva, mas não é grave, ou talvez a gente já tenha uma imunidade que não está levando à gravidade, porque tiveram casos graves.
Recentemente tive que mandar internar um senhor com diagnostico recente e que está com 60% do pulmão afetado, ou é uma cepa das mais violentas, ou o mais provável em 95% dos casos que a Ômicron esteja aí fazendo pessoas vítimas. Paciente com insuficiência cardíaca, tivemos que interná-lo, não está no CTI, ficará em enfermaria e isolamento. E vamos observar para ver se é o H3N2, vamos ver e ver o que fazer. É uma incógnita o que vem no futuro. A gente tem que ficar observando e cuidar com o maior carinho porque as coisas podem fugir de controle, mas parece que o Ministério da Saúde, as Secretarias de Saúde, estão conscientes de fazer um planejamento a melhor para o ano de 2022 e 20233. É provável aí que tenhamos vacinações sequenciais.
Eu por exemplo já tive a doença, quando a taxa de anticorpos diminuir muito, eu vou buscar intensificar minha vacinação, mas não vou ficar tomando doses de reforço aleatórias, não vou exaurir meu sistema imunológico sem necessidade.
Suas considerações finais sobre o assunto...
Precisamos em primeiro lugar ser um povo mais unido, um povo mais ordeiro, um povo que pense um pouco mais nas consequências dos seus atos e que realmente responda positivamente em bloco – apesar da divisão política no país ser intensa, em bloco a favor da saúde pública de todos. Nos impressiona por demais pessoas de um lado e de outro desse viés político torto e agressivo, até chegarem a comemorar que a pessoa pegou a doença porque não se vacinou ou que alguém morreu, ou ao contrário, que a pessoa tomou as vacinas e mesmo assim morreu. Isso não é postura ética, moralmente pensável. Nós precisamos claramente nos apaziguar, lembrarmos que tivemos – se não me enganos – estamos nos aproximando das 600 mil vidas brasileiras ceifadas. Tivemos aí bilhões de reais, quase trilhão de reais dispendidos, que poderiam ter sido utilizados por exemplo, na nossa rodovia da morte, a BR aqui pedagiada.
Somos escrocados por uma empresa bandida, Odebrecht que não faz nada, segundo eu ouvi, quase todos os dias se relatam acidentes e pelo menos duas, três vezes por semana acidentes com mortes nessa rodovia. Se não tivéssemos gastos talvez um trilhão, por exemplo, teríamos dinheiro para duplica-la, até onde necessário. Indigno, dá medo sair para viajar nessas rodovias, especialmente nessa. E, cobram pedágio.
E, temos também que pensar, que não tem como falar de obrigar uma pessoa a isso ou aquilo. Me assusta muito passados defensores das liberdades desejarem que as coisas sejam feitas na marra ou que se submeta cidadãos brasileiros livres, e livres de consciência e de pensamento, a se obrigar ou fazer andar com passaporte de vacina, etc. eu acho que vai da consciência de cada um.
Na boa literatura médica, com o aconselhamento médico adequado você vai ter a resposta para as dúvidas, tomar a melhor decisão como por exemplo não chegar em reuniões sem proteção adequada, sem seu álcool gel, sempre usando máscaras de boa qualidade e não se aproximando mais de um metro, um metro e oitenta das pessoas. Eu acho que a gente precisa ter muita cabeça no lugar.
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