Rafaela Maximiano - Da Redação
O FocoCidade preparou uma entrevista especial, realista e comovente. O relato de três mulheres que vivem na periferia de Cuiabá e Várzea Grande e que como a maioria dos brasileiros se desdobra para conseguir sobreviver com um salário mínimo e às vezes até menos.
Mães, avós, filhas. Elas cuidam da casa, trabalham fora, educam e ajudam os vizinhos. Apesar de não se conhecerem elas têm muito em comum: “Somos mulheres guerreiras”, dispara Ana Maria da Conceição. Mãe de três filhas e três netos, ajuda a criar e sustentar todos, mas não reclama. Porém, se emociona quando fala da saúde da mãe, que já tem 70 anos.
De acordo com o relatório anual da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), divulgado em março deste ano, a pobreza e a extrema pobreza alcançaram em 2020 na América Latina níveis que não foram observados nos últimos 12 e 20 anos, respectivamente.
O relatório também aponta uma piora dos índices de desigualdade social e nas taxas de ocupação e participação no mercado de trabalho, sobretudo das mulheres.
O estudo revela que a pandemia da covid-19 foi um agravante para o aumento da pobreza nos países da América Latina, mas “a falta histórica de políticas públicas, a existência das desigualdades estruturais e os altos níveis de informalidade e desproteção social, comprometeram o pleno exercício dos direitos e a autonomia das pessoas principalmente as mulheres”, diz o relatório.
O documento ainda acentua que se somente a pandemia fosse o fator agravante “as medidas de proteção social emergenciais que os países adotaram iria freá-la ou amenizá-la”, revela o anuário que pode ser acessado na página das Nações Unidas (www.cepal.org/pt-br).
Assim - nesse enredo, as chefes de família, Sueli de Lima, Neusa da Silva Rondon e Ana Maria da Conceição são as personagens da Entrevista da Semana e um retrato desse estudo.
Boa leitura!
Sueli de Lima, 50 anos – “Sou paranaense mas vivo em Mato Grosso há 38 anos. Vim para cá ainda adolescente, cheia de sonhos. Hoje sou mãe de três filhos e cinco netos. Isso me dá muita alegria. Atualmente eu não tenho renda e meu marido também está desempregado. Desde que eu tive problemas de saúde não pude mais trabalhar em emprego fixo, e também não tenho aposentadoria.
O mais difícil hoje para mim é buscar assistência à saúde no SUS. Infelizmente não tenho mais saúde para trabalhar, não tenho como pagar consulta, comprar remédios, fazer exames, então é muito difícil, não é fácil não.
Mas apesar das dificuldades, graças a Deus não sofro violência doméstica – conheço várias mulheres que passam por isso. Meu companheiro é maravilhoso, muito amoroso. Mesmo ele estando desempregado, não perde a paciência. Faz bicos para nós sobrevivermos e vamos levando, é o que é possível. Um dia tem, outro dia não tem, e é assim a vida”.
Neusa da Silva Rondon, 54 anos – “Sou mãe de dois filhos, um rapaz de 23 e uma menina de 17. Sou chefe de família, criei meus filhos sozinha e ainda cuido deles. É difícil ser mulher hoje, tem que dar conta de tudo, trabalhar, ser dona de casa, dar atenção para filho, resolver tudo. Não é fácil, mas a gente tem que fazer. Eu ganho um salário mínimo e acho que isso não é justo. Enquanto vários políticos aí roubando mais do que conseguem gastar. Minhas prioridades são gás, luz e comida. Não sobra para mais nada.
Mas mesmo assim compro material escolar para minha filha estudar, quero que ela tenha um futuro melhor. Meu filho começou a trabalhar esse ano e já ajuda um pouco, mas não posso abusar, o salário é dele.
Hoje temos que ser mulheres batalhadoras e correr atrás de tudo sozinhas e é preciso ter muita coragem para enfrentar a vida que a mulher tem hoje. E, o mais difícil para nós mulheres é enfrentar a maternidade sozinha, pois os casais se separam e acabamos ficando com os filhos e toda a responsabilidade, um grande peso”.
Ana Maria da Conceição, 43 anos – “Eu tenho três filhas e três netos. Apesar de eu já ter criados os filhos, eles e os netos sempre precisam de mim. Aí tenho que socorrer, seja financeiramente ou com apoio. Eu também não tenho dinheiro, mas a gente corre atrás, porque nenhuma delas têm emprego, fazem bico. Também não têm benefício de bolsa família ou algo assim.
A minha filha caçula por exemplo, recebe R$ 150,00. Agora me diz o que faz com esse dinheiro? Mas é o que ela tem para sustentar o filho dela. E eu pago o aluguel. Só tenho uma coisa a dizer: somos mulheres guerreiras, eu ganho atualmente R$ 400,00 reais para dar conta de tudo. Faz muito tempo que não consigo ganhar um salário mínimo.
Eu fico indignada: porque nós temos que passar por isso? Por tanta privação? Queria ver algum desses políticos que vem pedir voto para gente conseguir pagar saúde, alimentação, roupa e tudo mais, com R$ 400,00 reais. Somos seres humanos também, e precisamos de tudo o que é necessário para sobreviver, não é somente eles que tem direito.
O que mais me dói é ver minha mãe, depois de ter trabalhado tanto, ainda ter que pagar aluguel e ficar correndo atrás de tratamento de saúde em postinho. Ela não tem mais saúde e não tem como pagar. Ela tem 70 anos, eu ajudo no que posso. O mais difícil para o pobre, a mulher hoje, é conseguir ter uma moradia própria”.
Ainda não há comentários.
Veja mais:
Agressão a aluno: TJ mantém condenação de escola por omissão
Operação da Polícia Civil derruba golpe em compra de whiskies
Após cobrança do TCE, MT atinge 100% de adesão ao Saúde Digital
Super taxa dos Estados Unidos sobre exportações brasileiras
AL destaca momento inédito com três mulheres no Poder
Ação do MP: Justiça manda Juína implantar ações de proteção animal
Preços de alimentos caem, inflação perde força e fecha junho em 0,24%
Se o dinheiro virou patrão, quem comanda a sua vida?
Mercado Imobiliário: movimentação financeira aponta quebra de recorde
Deadlock: tabuleiro societário e as estratégias para evitar o xeque-mate