• Cuiabá, 05 de Setembro - 2025 00:00:00

Devemos diminuir a expectativa de vacinação um pouco, alerta coordenador de pesquisa


Foto: Reprodução  - Foto: Foto: Reprodução Médico infectologista doutor Cor Jesus Fernandes Fontes. Foto/Reprodução: Felipe Carvalho
Rafaela Maximiano - Da Redação

O início da imunização contra a Covid-19 representa um enorme avanço para conter a pandemia de Covid-19, que já vitimou milhares de pessoas em todo o planeta. No Brasil, a aprovação mesmo que emergencial, das vacinas CoronaVac (Sinovac/Instituto Butantan) e da CoviShield (FioCruz/Universidade de Oxford/AstraZeneca) representa vida e esperança para os brasileiros.  

Essas duas vacinas são as primeiras a serem liberadas pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), mas outras ainda permanecem em teste e aguardando liberação. Em meio a tanta expectativa e planejamento, a população brasileira está cheia de dúvidas e perguntas a respeito dos produtos e, claro, de como vai acontecer.  

Por isso, o FocoCidade conversou com o médico infectologista doutor Cor Jesus Fernandes Fontes que, desde outubro do ano passado coordena uma pesquisa do Instituto Butantan com a vacina Coronavac, no Hospital Universitário Júlio Muller, em Cuiabá.  

Na Entrevista da Semana, o infectologista fala sobre as vacinas que estão em testes e as que já foram aprovadas, a politização do assunto, sobre as diferenças entre os imunizantes, reações, eficácia e segurança, bem como desmente boatos sobre o movimento antivacina que tem crescido no Mundo e no Brasil.  

Além de docente do curso de medicina da Faculdade de Ciências Biomédicas de Cacoal em Rondônia, o professor Cor Jesus Fernandes Fontes é pesquisador da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Mato Grosso e um entusiasta na defesa dos imunizantes em geral.

Sobre as Fake News que circulam na internet sobre o assunto respondeu “a mídia responsável tem que enfatizar em todas as matérias sobre a Covid e sua vacina. Pessoas não autorizadas, não competentes para falar sobre o assunto, devem ser consideradas como falsas. Tratamento de doenças, prevenção de doenças precisam ser debatidas e faladas por quem é da área, por quem tem essa competência. Em outros tempos tivemos outras doenças graves como a Aids, por exemplo, e nunca vivemos no mundo uma situação de tanta desinformação como agora vivemos, de pessoas que não entendem nada sobre saúde e querem dar opinião sobre vacina. Vejo que o papel da mídia responsável é sempre deixar para o leitor que se a informação não vem de uma fonte com competência para falar é mentira”.  

Confira a entrevista na íntegra e tire sus dúvidas:  

Quantas vacinas estão em testes para serem aprovadas pela Anvisa e pelos órgãos de segurança em saúde no Brasil?  

Vacinas que estão em testes, são vacinas que já solicitaram de algum órgão regulatório para fazer ensaio, para fazer a pesquisa, e, nesse caso são várias. Mas, as que estão mais adiantadas são cinco: da Pfizer, da Moderna, de Oxford, Janssen e a Coronavac. Cada uma delas tem um fabricante do produto sob investigação e uma instituição de pesquisa. O fabricante é uma indústria, mas quem faz a pesquisa são os centros de pesquisa clínica e muitas vezes são ligados a universidades ou instituições de pesquisa.  

A Pfizer é uma indústria alemã e fabrica a vacina que ela patrocinou o estudo, por isso que falamos vacina da Pfizer. Já a vacina produzida pela indústria anglo-sueca AstraZeneca é pesquisada pela universidade de Oxford, por isso falamos vacina Oxford/AstraZeneca. A indústria chinesa Sinovac produz a vacina Coronavac e quem está fazendo o teste aqui no Brasil é o instituto Butantan. A indústria AstraZeneca também faz a vacina que está sendo testada pela Fiocruz, que é a mesma pesquisada e testada pela Oxford. E, tem a Moderna e a vacina da Rússia chamada Sputnik, que não sei ao certo sobre a produção e testes. Mas, enfim, todas em fase 3, fase final para uso profilático, que são os testes de segurança e eficácia da vacina, por isso solicitaram aprovação da Anvisa. As que solicitaram registro no Brasil foram a da Pfizer, da Fiocruz/AstraZeneca e a Coronavac, sendo as duas últimas liberadas pela Anvisa para uso emergencial no Brasil.    

Essa liberação se baseia nas análises preliminares dos testes clínicos. Esses estudos acompanham milhares de voluntários e geralmente demoram alguns anos para serem finalizados.   

O que significa uso emergencial da vacina?  

O uso emergencial é uma aprovação que as agências regulatórias, como a Anvisa no Brasil e a FDA nos Estados Unidos, dão a determinados produtos em caráter provisório e por um tempo determinado. Essa liberação se baseia nas análises preliminares dos testes clínicos. Esses estudos acompanham milhares de voluntários e geralmente demoram alguns anos para serem finalizados.   

O problema é que, durante uma pandemia que afeta milhões de pessoas em todos os continentes, é impossível esperar tanto tempo para encontrar uma solução. Para acelerar um pouco esse processo, os cientistas determinam um número mínimo de eventos e desfechos associados à aplicação do imunizante. Em outras palavras, isso significa que uma análise geral dos estudos científicos, voltada para desfechos amplos como segurança e toxicidade, é feita em amostra representativa de participantes do estudo que estão vulneráveis a contrair a Covid-19. A partir daí, é possível fazer comparações e cálculos para determinar uma taxa de eficácia do imunizante e saber se ele é seguro e não provoca efeitos colaterais graves.   

A CoronaVac e a AstraZeneca passaram por todo esse processo nos últimos meses e mostraram capacidade para conter a infecção pelo coronavírus. Por isso, foram aprovadas para uso emergencial no Brasil. É importante mencionar que isso não significa que os estudos acabaram: eles continuarão para garantir se essas observações iniciais se mantêm ao longo do tempo. A partir dos dados completos, será possível pedir a autorização definitiva dos produtos.   

Esses imunizantes contra o coronavírus utilizam a tecnologia de RNA mensageiro que envolvem boatos até de alteração de DNA humano. Isso é verdade? Qual a diferença desses imunizantes para as vacinas já utilizadas contra outras doenças?  

Pensando nessas três vacinas: a da Pfizer, da Coronavac e a AstraZeneca, apenas a da Pfizer utiliza essa tecnologia do RNA mensageiro, e o que significa isso: eles inoculam na pessoa uma sequência do RNA mensageiro do vírus que foi programada para comandar a produção, pelas células da pessoa vacina, de uma proteína que é do vírus. Isso é uma altíssima evolução do conhecimento da biologia molecular e da genética molecular. O ser humano consegue hoje produzir uma substancia que entra no corpo e vai comandar a célula para produzir uma proteína que é do vírus da Covid. E, essa proteína vai estimular uma resposta imunológica no organismo que ficará completamente armado para atacar o vírus da Covid-19, se por acaso a pessoa for contaminada por ele.  A racional utilizada para esse tipo de vacina é extremamente avançada do ponto de vista científico e os estudos atuais já comprovaram que a eficácia da vacina também é ótima. E, comprovaram também que ninguém teve problemas sérios ao tomar a vacina, ou seja, é uma vacina segura.  

Agora, existem efeitos colaterais, seja pelo uso de remédios ou de vacinas, que são tardios. Nenhuma dessas três vacinas que estão sendo aplicadas no mundo e analisadas pela Anvisa foram testadas e observadas por tempo suficiente para fazermos qualquer inferência sobre reações tardias.  

Então, quando uma pessoa fala que não vai tomar determinada vacina por que ela modifica a sua célula e pode causar problema tardiamente, eu não consigo responder se isso é verdadeiro ou falso. Só o tempo vai nos mostrar isso. Existe plausibilidade biologicamente para isso? Eu diria que não, porque o RNA mensageiro trabalha com alta especificidade de produzir, na célula, aquela determinada proteína para a qual ele foi programado. Eu denominaria esse receio como uma especulação fraca. Não tem nenhuma razão para acontecer essa alteração genética que estão falando, e se houvesse essa possibilidade ela nem seria testada. Mas em termos de outras reações, outros efeitos colaterais, principalmente os tardios, não se sabe ainda.  

Mas se o coronavírus for mutante como é o da influenza, todo ano nós teremos que tomar a vacina atualizada pela indústria com a nova variante.   

Novidades sempre levantam dúvidas em parte da população, como funciona essa imunização onde uma substancia biológica é injetada em indivíduos saudáveis? É possível ficar doente?  

As vacinas com vírus inativados, aquelas em que o vírus é destruído antes de aplicar, elas não produzem a doença. As vacinas de vírus atenuados, os quais ele não é morto e somente enfraquecido, podem produzir uma doença vacinal que é semelhante a natural, por exemplo a vacina da febre amarela, onde poucas pessoas apresentam a doença vacinal após serem imunizadas e pode ser grave, mas em pouquíssimos casos.  

Nós não temos nenhuma vacina de vírus atenuado proposta contra o novo coronavírus. O que temos são vacinas que promovem a replicação de subunidades do vírus no organismo que a recebe. Por exemplo a vacina da Pfizer, ela induz a célula do indivíduo vacinado a replicar uma proteína que é do vírus e como é somente uma proteína não vai reproduzir a doença completa. Pode dar menos reação colateral do que uma vacina de vírus inteiro atenuado.   

A vacina da Oxford/AstraZeneca testada aqui no Brasil pela Fiocruz e a da Johnson & Johnson (testada pela Janssen) utiliza um vetor viral. Um vírus que não causa doença grave, por exemplo um vírus de resfriado comum, é modificado geneticamente para produzir uma determinada proteína do coronavírus. No organismo do indivíduo vacinado esse vírus, uma vez inoculado, irá multiplicar e produzir essa proteína. Ele se multiplica e não causa doença grave. Mas ele produz, dentro do organismo, a proteína que é do coronavírus, em grande quantidade. É como se fosse uma ‘quimera’, é um vírus modificado para ter características de dois vírus diferentes.  

Os princípios das diversas vacinas são diferentes, mas o objetivo é o mesmo. Essa vacina pode causar manifestação colateral como resfriado, por exemplo, mas não sabemos de todas, só o tempo dirá.  

Tanto a AstraZeneca quanto a Pfizer, no final produzem uma proteína do coronavírus para proteger contra a doença, sem, contudo, causá-la.  

Já nas vacinas de vírus morto, que é o caso da Coronavac, não tem esses efeitos colaterais, porque é de vírus inativado.  

A Anvisa é um órgão que cuida das pessoas e pensa em possíveis danos causados pelos produtos da saúde. No quesito segurança, a Anvisa já sabia que a Coronavac era uma vacina segura. Outro quesito analisado é a eficácia. E nesse quesito a Coronavac fica para trás das outras duas, porém não é certo comparar diferentes vacinas, pois as vacinas de vírus inativados historicamente geram uma resposta imunológica menos eficaz do que esses outros formatos vacinais. Só que a eficácia da Coronavac ficou em um patamar considerado adequado pela Organização Mundial de Saúde, a OMS, que é acima de 50%.  

A vacina aplicada em pessoas que já tiveram a doença tem o mesmo efeito?  

As pessoas que já tiveram a doença confirmada já estão imunizadas para aquela variante do vírus. A vacina serve para lembrar o sistema imunológico da pessoa, caso a sua a sua resposta tenha enfraquecido com o tempo. Se já teve a doença, a pessoa já está imunizada para aquele vírus, porém, se o coronavírus sofre uma mudança, mutação, aí essa vacina já não vai proteger contra essa nova variante. É por razão semelhante que nós temos que nos vacinar todos os anos contra a gripe influenza, por exemplo, que é causada por um vírus altamente mutante. Todo ano a vacina é atualizada, para agir contra aquela nova variante. Acredita-se que o novo coronavírus tenha essa característica também. Não sabemos ao certo, pois agora que estamos aprendendo tudo sobre esse novo vírus. Mas se o coronavírus for mutante como é o da influenza, todo ano nós teremos que tomar a vacina atualizada pela indústria com a nova variante.   

Se a pessoa já teve a doença, ela já tem a memória imune, só vai se beneficiar um pouco mais com o estímulo feito com a vacinação. Mas para essa variante que lhe causou a infecção, teoricamente, ela não precisaria mais tomar a vacina. Só precisa tomar se surgir novas variantes, que as pessoas chamam de cepa, mas eu prefiro usar o termo variante.  

Por que duas doses no caso da Coronavac?  

A vacina com o vírus inativado produz uma resposta imune inicial com a primeira dose, por isso damos um reforço. Toda vacina feita com vírus ina, você tem que dar um reforço e no caso da Coronavac é somente uma segunda dose a ser feita de 14 a 28 dia após a primeira. Essa segunda dose é para reforçar, estimular, porque ela é feita com o vírus morto e quando a vacina entra no corpo o vírus não vai multiplicar, diferente das outras, com vírus atenuado, RNA ou vetor viral, que são em dose única. Basta apenas uma dose e o seu organismo vai multiplicar a vacina, a proteína do vírus.  

E, se uma pessoa acaba tomando vacinas diferentes contra o Coronavírus. Existe algum perigo?  

Não. Inclusive isso deve acontecer nesse período de ansiedade da população com a doença. Algumas pessoas odeiam vacina e outras são ansiosas por ela, a ponto de tomar as duas ou até três, se tivermos. O que vai acontecer é a pessoa ficar mais vulnerável a eventos adversos, pois ela vai somar esses efeitos colaterais que toda a vacina tem. Mas a resposta imune dela vai ser ativada por todas as vacinas que ela tomar. Agora isso não é recomendado se as vacinas são eficazes.  

Em muitas campanhas de vacinação as pessoas esquecem de levar a carteirinha de vacina e acabam tomando sim vacinas de marcas diferentes e doses adicionais, mesmo estando com o calendário vacinal em dia. Por exemplo, as pessoas viajavam e eram obrigadas a tomar a vacina da febre amarela em fronteiras ou aeroportos por que não tinham o comprovante em mãos. Isso já aconteceu e não tem problema nenhum.  

A vacina Coronavac é eficaz para evitar a doença de forma grave, então 10 a zero para ela e para o Instituto Butantan neste momento.

Qual a diferença entre a taxa de eficácia e a segurança da vacina?  

Na primeira análise da Coronavac, a grande eficácia da vacina foi contra a internação, isto é, contra casos graves da doença. Do grupo de pessoas que recebeu a vacina em período de teste e foram contaminadas pelo Coronavírus ninguém foi internado, do grupo que recebeu placebo tivemos sete internações. Analisamos também o grupo que precisou ir ao médico, por conta de sintomas mais fortes da Covid-19. Do grupo vacinado apenas 7 precisaram ir ao médico e do grupo que recebeu o placebo mais de 30 precisaram.  

O valor divulgado de eficácia de 78% da Coronavac é a proteção contra a necessidade de ir ao médico, ou seja, ela evita que a doença venha a ser moderadamente grave em quase 80% das pessoas, e evita que a doença fique muito grave em 100% dos vacinados, porque nenhuma pessoa precisou de internar. Já em termos gerais, isto é, contra a transmissão do vírus, ela protegeu 50,4%.  

Esse resultado representa o grande trunfo do Instituto Butantan para defender a eficácia da Coronavac, pois todos estamos mais preocupados com a doença grave que afeta os idosos e grupos de risco, do que com os jovens que são na maioria dos afetados pela doença, com formas mais leves. A vacina Coronavac é eficaz para evitar a doença de forma grave, então 10 a zero para ela e para o Instituto Butantan neste momento. Assim, mesmo sendo imunizada, a pessoa entrará na estatística da doença, mas não da estatística da morte. Isso também acontece com o vírus H1N1, da gripe influenza que vacinamos todos os anos. Ela é boa para evitar a gravidade, mas não para evitar a transmissão. Tem a eficácia de transmissão também na de 50%.  

Todos nós trabalhamos muito satisfeitos, aos sábados e finais de semana ficamos o dia inteiros, às vezes até as 22 horas, por conta de uma satisfação pessoal altruísta, digamos assim.

O que é o placebo?  

Uma coisa é vacina e outra completamente diferente é o placebo. Acontece que, durante os testes clínicos antes da aprovação, os cientistas precisam saber se o imunizante é seguro e eficaz. Para isso, os voluntários são divididos em dois grupos. O primeiro toma doses do produto ativo, que vai gerar a imunogenicidade. Já o segundo recebe doses de placebo, uma substância sem nenhum efeito no corpo. A expectativa é que, na comparação dos resultados, o grupo que foi vacinado esteja mais protegido contra determinada doença infecciosa e com menos efeitos colaterais em relação àqueles que receberam placebo.   

Como foi a experiência de realizar testes do imunizante aqui em Cuiabá?  

A experiência minha e da equipe é de satisfação de poder contribuir com essa busca de estratégia para mitigar esse grande problema mundial que é a Covid-19. Todos nós trabalhamos muito satisfeitos, aos sábados e finais de semana ficamos o dia inteiros, às vezes até as 22 horas, por conta de uma satisfação pessoal altruísta, digamos assim. Agora, a experiência técnica tem sido desgastante. Mesmo sabendo de tudo isso que estamos conversando, as pessoas chegam com contra informações, informações erradas, mentirosas, inventadas e que só atrapalham a condução adequada de nosso trabalho. Isso gera um estresse muito grande além de termos que estar enfrentando pessoas preconceituosas e, muitas vezes, agressivas. Até no meio dos profissionais de saúde encontramos situações assim. O embate político e ideológico que estamos vendo na sociedade também é reproduzido aqui, no local do trabalho.  

Tivemos uma fase inicial de pouca demanda para participar do teste da vacina, aí com o tempo essa demanda aumentou. Tínhamos que atingir 800 participantes e conseguimos cerca de 450. Ainda estamos incluindo, mas somente idosos. Começamos dia 06 de outubro de 2020, mas tivemos que parar dia 10 de outubro, devido a um problema estrutural no centro de vacina. Depois retornamos dia 27 de outubro.   

Pessoas elegíveis para o teste foram voluntários profissionais de saúde que estão em atividade onde existe atendimento com covid, e se não tivessem contraindicação médica para receber uma vacina, eles eram incluídos.  

Os testes continuam mesmo com o início da vacinação?  

Sim. Em breve não iremos mais incluir voluntários, apenas acompanhar os que já foram imunizados. Nós vamos acompanhar esse grupo por um ano. Nos dois primeiros meses a cada quinze dias e a partir daí a cada três meses, para fazer pesquisa de anticorpos e ver como se mantém essa imunidade.   

Então a publicação de que a imunidade permanece por apenas 4 meses é incerta?  

Nós não sabemos. É tudo o que o Instituto Butantan quer saber com esse projeto agora. O Butantan está com duas pesquisas de Covid-19 aqui em Mato Grosso e no Brasil.  Uma é essa da vacina que nós vamos acompanhar a curva da resposta imunológica pós vacina e outra que éna população, para entender essa curva após a infecção natural pelo vírus. Aqui em Mato Grosso vamos acompanhar cerca de160 famílias, examinando periodicamente a família inteira. Faremos os exames deles durante 18 meses para ver como se comporta os anticorpos adquiridos pela doença, ver se eles declinam, se aumentam de novo caso tomem a vacina ou se peguem a doença. Enfim, a dinâmica desses anticorpos é desconhecida, ela está sendo procurada no mundo inteiro e cada população tem o seu perfil genético de resposta imunológica. Qualquer coisa que se diga no momento atual sobre a imunidade de 4 meses ou 6 meses é especulativa.  

Nas redes sociais, as pessoas compartilham receitas caseiras que supostamente ajudariam a prevenir ou fortalecer o sistema imunológico contra essa nova doença. Existe alguma orientação para as pessoas, no sentido de preparar o corpo, fortalecer a imunidade para a vacinação?   

A vida saudável produz um organismo capaz de executar todas as suas funções. Qualquer pessoa que não tenha uma vida mais saudável, ela tem a suas funções vitais reduzidas. É claro que uma pessoa saudável, sendo estimulada pela doença ou pela vacina, vai produzir uma resposta imunológica mais poderosa. Se a pessoa está doente e aí incluímos a gestante – que não está doente, mas tem uma depressão da imunidade – ela vai ter respostas mais fracas. As pessoas que usam drogas ilícitas, que se alimentam mal, que são alcoolistas, tudo isso pode interferir na resposta imune ou ainda se ela estiver com outra doença tomando medicamentos que atrapalhem a resposta imune.  

Como será a vacinação no Brasil?  

O Ministério da Saúde lançou um plano nacional de imunização contra a covid-19. Nesse documento, foram definidos os grupos prioritários e algumas etapas do processo. Esse planejamento pode ser acelerado ou sofrer atrasos, a depender da chegada das doses das vacinas. De qualquer maneira a vacinação vai trazer alívio ao sistema de saúde e garantir uma melhora mais rápida no panorama da pandemia.  

Em resumo, o esquema e o público alvo foram definidos da seguinte forma: Primeira fase: trabalhadores da área da saúde, indígenas, indivíduos com mais de 75 anos e pessoas com mais de 60 anos que vivem em asilos e hospitais; Segunda fase: idosos de 60 a 74 anos; Terceira fase: pessoas com comorbidades, como diabetes, hipertensão grave, doença pulmonar obstrutiva crônica, doença renal, doenças cardiovasculares e cerebrovasculares, indivíduos transplantados, com anemia falciforme, câncer, obesidade grau III ou deficiência permanente severa; Quarta fase: trabalhadores da educação, população em situação de rua, membros das forças de segurança e salvamento, trabalhadores do transporte coletivo e transportadores rodoviários de carga, funcionários do sistema prisional e população carcerária.   

Então é logico que vamos ter dificuldades para ter a vacina para todo mundo em prazo curto.  

O senhor gostaria de fazer alguma consideração final sobre o assunto?  

Sim. Um alerta aos leitores do site FocoCidade: diminuam um pouco a ansiedade em relação à vacina porque nós temos muitos problemas logísticos e ela ainda está sendo produzida agora para uma demanda imensa no mundo inteiro. Então é logico que vamos ter dificuldades para ter a vacina para todo mundo em prazo curto.  

A notícia que a vacinação começou no Brasil gerou na população muita expectativa de se vacinar. No ouvido das pessoas significa a vacina no braço. E não é, precisamos lembrar que esse é um processo de imunização de uma população muito grande no país e que o número de doses iniciais ainda é muito pequeno. Por isso que estamos priorizando grupos. Grupos de maior risco da doença e com maior risco de morte, são os mais importantes para a vacinação neste momento. Devemos diminuir a expectativa de vacinação um pouco e continuar fazendo o distanciamento social, o uso de máscaras, higienização das mãos e evitar aglomerações, todas essas sabidamente medidas eficazes. Não é porque a vacina chegou que eu posso relaxar. A segunda onda está aí, veio como era prevista, parece que mais grave que a primeira onda. Estamos vivenciando alguns estados em situação de calamidade e inclusive a possibilidade de uma variante do vírus.  




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