Lourembergue Alves
Horas difíceis de serem vividas. Ele rolava de um lado para outro. O “berço” se tornou pequeno, ainda que “esplêndido”. Tudo se encontrava ofuscado por nuvens carregadas. Fazia um esforço danado para respirar. Quase em vão. Algo o sufocava. Deixava-o sem saída. Sem visão do horizonte. Pois este, na verdade, estava tomado ora por ondas de um mar revolto ora por um redemoinho fortíssimo, sem que tenha sido por ordem de Zéfiro, o qual se encontrava em volto de ninfas que se rolavam a relva toda molhada, e não davam bola pelo que acontecia além deste cenário.
Mas, de repente, “o brado”. Vinha lá das bandas do riacho. Não era bem um grito, nem bramido, embora tivesse o som de um clamor, cujo eco, sem força, não alcançava ao longe, e, por conta disto, pouquíssimos chegaram a ouvi-lo. Continuam pouquíssimos, ainda que crescente, mesmo diante do patrulhamento ideológico reinante, que nada se permite, além do aceitável pelos “novos donos do poder”. Assim, os verbos questionar, analisar e comentar foram levados a proscrição. Ao contrário do paparicar, aplaudir e ovacionar. Estes, diferentemente daqueles, são verbos exigidos, necessários e recomendados. Ainda que suas conjugações sejam realizadas fora do tempo e do lugar.
Não importa. Relevante mesmo é entoar o cântico do personalismo, do mítico e do natural, mesmo que a natureza se sinta deflorada, desvirginada. Afinal, o patriota que se presa, jamais deve ousar-se em falar a respeito dos focos de queimada e das crateras abertas no meio das matas, deve sim esconder a destruição, a pobreza e a fome, ao mesmo que torce com todas as suas forças pelo governante. Ufa! Nada importa se daqui a pouco, não mais será possível repetir o segundo verso da “Canção do Exílio”, de Gonçalves Dias. Lembra-se dele, (e) leitor (a)? Só para recordar-se, e dizê-lo, antes que o agora se torne ontem, e quando o estiver por vir chegar, não se possa mais cantá-lo, ainda que não se esteja em terras distantes como se encontrava o poeta, “em cismar, sozinho, à noite”: “Nosso céu tem mais estrelas,/Nossas várzeas têm mais flores,/ Nossos bosques têm mais vida/Nossa vida mais amores”.
Ah! Doces lembranças. Doces magias. Em um tempo em que a cultura, a prosa e a poesia eram sintomas de grandeza, de pujança de um “povo heróico”. Tudo isto parece estar se esvaindo. Tanto que se deixa para depois, bem depois a assinatura em diploma. Diploma do prêmio “Camões”. O mais laureado dos prêmios da língua portuguesa. O deixar-se para depois expressa o desconhecimento, a ignorância e o desprezo que se tem pela arte, e no caso, pela arte de escrever. Fala mais alto o iletrado, a pequenez e a barbare.
Há um sei lá o que no céu. Fugiu-lhe “o sol da liberdade, em raios fúlgidos”. E, ao fugir-se, desapareceu também com a esperança, que se perde nas correntezas do desemprego, da insegurança e da falta de saúde e de educação. Perdido ficará, pois os pilares do saneamento básico não fora antes, nem o é (presente ou futuro) prioridade. Morre-se um sonho. Some “a imagem do Cruzeiro”, e não se pode mais ver “o lábaro que ostenta estrelado”. E ele, o país, infelizmente, continuará “deitado eternamente em berço esplendido”. Ainda que “um filho teu não foge a luta”. Será? É o que se espera, a despeito de todos os pesares e as situações complicadas e adversas. É isto.
Lourembergue Alves é professor universitário e analista política. E-mail: Lou.alves@uol.com.br.
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