Lourembergue Alves
Construção alguma se dá sem a argamassa. Há dois ou três tipos de argamassa. Escolhe-se uma delas, sem que lhe seja tirada a misturança de agregados miúdos, aglomerantes inorgânicos e água. Mistura usada para o assentamento de tijolos e o acabamento de superfícies. Tijolos e superfícies que sustentam, inclusive, a construção do Estado. Mesmo quando este nada tem de democrático, ainda que revestido de populismo. Afinal, ditador algum se furtou de, por vezes, fingir que agradava as massas. Quer seja da esquerda ou da direita. Ou já caíram na vala do esquecimento os discursos apelativos de Josef Stalin diante das massas na União Soviética? Ou deixaram guardados no escaninho da ignorância as falas de Adolf Hitler e de Benito Mussolini, em eventos pelas ruas e praças da Alemanha e Itália, respectivamente? Stalin ditador de esquerda e Hitler e Mussolini ditadores da direita.
A relembrança destes eventos não pode, nem deve ser confundida com o viver novamente, em absoluto. Mas, isto sim, com o intuito de impedir que tais cenas voltem a ser repetidas. Espírito impeditivo capaz de afastar quaisquer ameaças de se ter a repetição do regime burocrático-militar no Brasil (regime de direita). Ainda que se viva em um ambiente de intolerância, hostil ao respeito às vontades e aos desejos de outrem. Ambiente de hostilidade e de intolerância há muito alimentado, e reforçado com a disputa eleitoral de 2018, e prossegue, infelizmente, no transcorrer deste ano. O que afasta de vez o diálogo, a despeito do avançar dos meios que deveriam ser utilizados para aproximação e para as conversas entre autores de posicionamentos diferentes.
Assim, infelizmente, as redes sociais, por exemplo, se transformaram em escoadouros de maus-humores de grupos, de acusações infundadas e preconceituosas contra quem ousam a ver o cenário com os próprios olhos, longe da vigia severa e permanente do “Grande Irmão”. Referência ao romance “1984”, de George Orwell. Tem o filme também, baseado neste clássico, com igual título. Vale à pena! Aliás, não há como abrir mão das artes, da literatura, pois estas são janelas, através das quais se podem ver as situações vividas, e os espelhos que levam a psique, a reflexão do próprio “EU”. Mesmo assim, há uma porção de gente que teima em ignorá-las, e as ignora por não conseguir compreender as mensagens nelas contidas. O que empobrece o seu viver, encurta a sua compreensão de mundo e reduz-lhe o próprio vocabulário. E, neste caso, passa a servir-se de eco para a voz autoritária, totalitária. Condição que o mantém preso no fundo da caverna, cujas sombras são por ela tidas como reais, ainda que sejam névoas, as quais obscurecem a atmosfera e embaraçam a vista. E isto lhe dificulta se soltar das amarras, que a mantém presa, impossibilita-a escalar as paredes da caverna, e, o que é pior, encarar de fato a luz da realidade. Seus olhos não suportariam a claridade do Sol. Preferirão a ilusão, o faz de conta e o suave balançar das ondas do discurso único. E o repete, ainda que não saiba bem o porquê faz.
Ao falar, logo se improvisa uma multidão em torno dele, diria Nelson Rodrigues, em “Os idiotas confessos”. A propósito, há uma passagem em “O Idiota”, de Dostoiévski, em que um dos personagens diz: "... não sabe quanto eu dou a vida, por exemplo, para ler nos jornais os debates ... Não me refiro ao que eles discutem, mas aprecio o modo com que falam uns com os outros e se comportam como políticos" (p. 413). Trecho muito apropriado para o momento vivido no país. Importante para uma reflexão, como toda o obra, que poderia ser analisada. O livro de Dostoiévski, inspirado na figura de “Dom Quixote”, de Cervantes, provocou perplexidade no meio intelectual da época, além de ser elogiado por Tolstoi, senão lido, mas citado por muitos. Mas... Deixa prá lá. É isto.
Lourembergue Alves é professor universitário e estudioso do jogo político.
E-mail: Lou.alves@uol.com.br.
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