Dulce Figueiredo
O suicídio é a quarta maior causa de morte de jovens entre 15 e 29 anos no Brasil. Os dados do Ministério da Saúde mostram que esse tipo de morte fica atrás apenas de causas externas, como violência e acidentes de trânsito. No mundo, é a segunda causa nessa faixa etária. Diante de números alarmantes, você deve estar se perguntando, como proteger nossos jovens?
Primeiro, é necessário entender que nesta fase o ser humano está mais vulnerável, pois enfrenta um período de transição da infância para a vida adulta, no qual se depara com inúmeras mudanças físicas, mentais e emocionais. Além disso, tem que administrar cobranças sociais e familiares, quando muitas vezes não possui ferramenta interna disponível para isso.
Hoje, é muito comum os pais ‘blindarem’ seus filhos, impedindo que eles tenham contato com qualquer tipo de frustração. Motivados por um sentimento excessivo de proteção, acabam impedindo que crianças criem anticorpos emocionais e mentais para lidar com as adversidades da vida. Ou seja, falta resiliência para encarar o sofrimento inerente ao rompimento de um namoro ou ao fracasso no vestibular.
A segunda constatação que vamos fazer é sobre a necessidade de entendimento sobre a depressão, que é uma doença muito séria e o maior fator de risco para os casos de suicídio entre os jovens. Então, na prática, como saber que meu filho ou minha filha está em um momento crítico? Quando devo intervir e buscar ajuda de profissionais?
Papais e mamães, o único jeito de saber é observando, até porque cada ser humano tem suas peculiaridades. Mesmo com a rotina diária puxada, cansativa, é vital que vocês estejam sempre por parte, vigilantes, e estabeleçam um canal de diálogo, onde tudo possa ser falado e exposto, inclusive temas considerados tabus, como o próprio suicídio e o abuso sexual.
Outra coisa importante, não espere pelo pedido de ajuda. Há sinais de que algo não está bem, como episódios prolongados de baixa autoestima, isolamento, tristeza, ansiedade, insônia ou sono excessivo, alteração de apetite e pessimismo. Acenda um sinal amarelo para frases, como ‘eu quero sumir’, ‘a vida não faz sentido’ ou ‘viver não vale a pena’, especialmente se acompanhadas de automutilação.
O sentimento de solidão é talvez o mais preocupante dentre todos, pois é comum em adolescentes que tentam o suicídio. Isso significa que ter amigos é fundamental nessa fase. Quanto mais fortes e saudáveis esses vínculos, mais imunizados contra doenças psíquicas, que incluem a depressão, nossos jovens estarão.
É importante frisar ainda que as experiências vividas em grupo influenciam as características individuais de crianças e adolescentes, incluindo comportamentos, temperamentos, cognições e habilidades para resolução de problemas. Também pesa na construção da autoestima, aliviando eventos estressores e sendo importante fonte de apoio emocional e social.
A escola ocupa um espaço importante no contexto de prevenção, pois expõe crianças e adolescentes desde muito cedo à episódios de bullying, que é outro fator de risco. Vários adolescentes que suicidaram estavam envolvidos, seja como agressor, vítima, testemunha ou uma combinação dos três papéis. Por isso, pais e professores devem estar atentos, porque cabe aos adultos o papel de mediação dos conflitos que surgem nas relações interpessoais.
Neste mês, o movimento internacional Setembro Amarelo reúne inúmeras instituições nacionais e internacionais para falar sobre esse tema, que ainda é ‘proibido’, inclusive por famílias onde há casos de suicidas. Mas já ficou comprovado que o silêncio ao invés de ajudar tem atrapalhado, porque não nos permite conhecer e enfrentar o problema.
Claro que nem todos os casos de suicídio vão ser evitados, inclusive a literatura traz explicações para isso, porém, mais de 90% deles pode e é com esse percentual preventivo que devemos trabalhar. Reforçar a estrutura emocional de meninos e meninas para serem mais resistentes às mudanças e aos problemas é imprescindível e isso é algo próprio dos pais, da família.
Por outro lado, há que se manter uma rede de proteção bem entrosada entre casa, escola e amigos para que todos os pontos de apoio estejam funcionando bem. Momentos difíceis todos temos, mas ter com quem contar quando não estamos dando conta é fundamental e requer relações mais humanas e amorosas. Que tal olhar e refletir sobre isso?
Dulce Figueiredo é psicóloga com 24 anos de experiência e pedagoga pela UFRJ, especialização em terapia de família sistêmica, MBA Gestão de Recursos Humanos,@psicologadulcefigueiredo, dulcefig@gmail.com


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