Eduardo Gomes
Minas é terra de pouca conversa e de muitos ditados; um deles diz, “Onde se quebra a bilha e que se acha a rodilha”. Antigo, esse dizer mineiro exige tradução: bilha é pote d’água; e rodilha, um círculo trançado de pano que se põe sobre a cabeça para carregar bilha.
O cenário político desanimador em que nos encontramos fica ainda mais tenebroso quando nos encontramos numa roda de políticos. Nessa sexta-feira, 10, na associação dos prefeitos (AMM) cobrindo um encontro dos anfitriões com congressistas, deputados estaduais e secretários de governo, tive vontade de deixar de lado minha pauta – dispensável é dizer a razão pra tal pensamento que guardei em silêncio.
Sozinho, perdido na multidão de excelências fui cumprimentado pelo prefeito João Cleiton Araújo de Medeiros, de Canabrava do Norte, que é um dos raros que conheço. De prosa curta, mas agradável, João Cleiton em pouco tempo, sem querer nem saber, fez a química que acordou em minha memória o ditado que abre este artigo.
No primeiro momento ouvi João Cleiton choramingar pelos constantes atrasos do governo estadual nos repasses constitucionais ao seu município com 4.630 habitantes num canto afastado do Vale do Araguaia. Seu chororô não era novidade pra mim, que há muito o ouço de bocas de outras cidades, mas em situação análoga àquela que o deixa jururu.
A conversa evoluiu arejada. Perguntei a motivação que o fez disputar a prefeitura daquele município onde nasceu. Ouvi um triste relato. João Batista de Medeiros, o João Grande, pai de João Cleiton, foi um dos pioneiros de Canabrava e exercia a presidência da Câmara em 12 de junho de 1995, quando foi assassinado em sua casa. O crime que vitimou João Grande teve motivação política.
João Cleiton continua falando sobre o pai e seu assassinato. João Grande tinha dois sonhos: ser advogado e prefeito de sua cidade, mas levou ambos para o túmulo com o fechamento da tampa de seu caixão. No cemitério, menino ainda, às vésperas de completar 10 anos em 29 daquele mês, o filho em silêncio, apenas com a força do pensamento, no último adeus, prometeu que cumpriria “os desejos do papai”.
O tempo passou. João Cleiton botou o canudo de Bacharel em Direito debaixo do braço. Pelo PSDB subiu ao palanque, abriu o coração ao povo de sua terra. Foi para as urnas. Saiu carregado pela decisão democrática de sua gente. Tomou posse. Luta para bem administrar com honradez o solo que tem em sua composição o pó do corpo de João Grande.
A bilha e a rodilha saltaram ao meu olho (sou cego do direito). Na corrompida classe política – a bilha quebrada – é possível encontrar a rodilha. Por maiores que sejam os cacos há sempre um João Cleiton de cabeça erguida, pois nos regimes democráticos nenhuma solução administrativa pode ser encontrada fora da legitimidade do mandato.
Eduardo Gomes de Andrade é jornalista.
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