• Cuiabá, 12 de Julho - 2025 00:00:00

'Muitos empregos e modelos de negócios vão desaparecer. Sobreviverá quem se inovar', alerta especialista


Vinícius Bruno ? Especial para o FocoCidade

O contemporâneo mal começou, e cada dia que passa, a impressão é que uma grande carga de ontem é enterrada todos os dias. Em menos de uma década a humanidade já mudou substancialmente diversas formas de lidar com o cotidiano, exemplo disso é que ninguém, entre os pobres mortais, imaginava uma geração atrás que o filme fotográfico seria substituído pela imagem digital, ou que aos poucos, ferramentas como o Uber têm colocado profissões como a dos taxistas em fase de extinção. 

No começo dos anos 2000, a transição entre as tecnologias de alta performance da segunda metade do século 20 e a poderosa revolução da internet e da nanotecnologia do começo do século 21 fez com que a humanidade mudasse de hábitos, alterasse a relação de consumo, encontrasse meios de agilizar os processos e aperfeiçoar o conhecimento.

Do ponto de vista ontológico – disciplina filosófica que estuda o ser – o mundo transforma o ser humano, ao mesmo tempo que o ser humano transforma o mundo. Sem essa transformação ainda estaríamos vivendo em cavernas.

Sem se adaptar às novas tecnologias e sem a intuitividade da inovação, as empresas também tendem ao encerramento das atividades. No futuro próximo, já iniciado, sobreviverão os que se aperfeiçoarem, sejam empresas ou pessoas. Para o professor doutor Fabrício Ziviani, da Fundação Dom Cabral (FDC), o único caminho a ser seguido é o da inovação.

Fabrício Ziviani é doutor em Ciência da Informação pela UFMG (2012). Possui Mestrado em Administração Pública - Gestão da Informação pela Escola de Governo - Fundação João Pinheiro (2005), Especialização em Gestão de Tecnologia pela Universidade Estácio de Sá (2001) e Graduação em Administração com Habilitação Análise de Sistemas pelo Centro Universitário do Espírito Santo (1999). Atualmente é professor convidado do Programa Pós-Graduação Lato sensu da FDC. Atua principalmente nas áreas de Gestão do conhecimento e da Informação; Inovação; Redes de Colaboração e Aprendizagem; Transferência de Tecnologia e Conhecimento e Estratégia e Estrutura Organizacional.

Inovar, na perspectiva do professor Ziviani, é algo inerente à condição humana, embora nem todos estejam propensos a essa forma de aperfeiçoamento. Quanto às organizações, a inovação é uma forma de se lançar no mundo em longo prazo.  Nesta entrevista, conheça o que estes temas – criatividade e inovação – reservam à humanidade.

Confira a entrevista na íntegra:

 

Quais são os passos para que pessoas e empresas sejam inovadoras? Em qualquer área a inovação é eficiente?

Hoje a inovação é um imperativo para qualquer modelo de negócio. A única alternativa que as organizações possuem hoje para se tornarem competitivas no mercado é por meio da inovação. Isso porque, a inovação promove a sustentabilidade, melhoria do desempenho, seja na qualidade percebida pelo cliente, no faturamento da organização, no aumento da produtividade. O caminho é a organização pensar nas fontes/ starts da inovação. E esses starts podem acontecer por meio de parcerias com universidades, alinhar-se com o que os fornecedores vêm desenvolvendo. Outra questão é participar de feiras, visitas técnicas, o que no agronegócio, por exemplo, já é uma realidade muito presente. A inovação parte do princípio do compartilhamento do conhecimento.

O maior valor que alguma organização possa possuir é o valor do conhecimento.

Como explorar o conhecimento para ajudar no sucesso de um empreendimento?

O conhecimento necessário para uma empresa alcançar o sucesso ou o desempenho satisfatório já está presente na organização, só precisa ser mobilizado. Conhecimento é uma questão fluida, é inerente ao sujeito, e isso já faz parte da essência da empresa, esta só precisa mobilizar. Essa mobilização pode ser realizada por meio do gerenciamento das ideias, promovendo maior autonomia para os colaboradores nas atividades desempenhadas. Refletir a inteligência coletiva, criando um ambiente organizacional mais participativo e colaborativo, no qual as pessoas se sintam parte desta atividade.

As empresas pagam por criatividade e inovação? E rentável ser criativo?

Hoje, o maior valor que alguma organização possa possuir é o valor do conhecimento. E por essa razão, a criatividade e a inovação são questões altamente rentáveis. Um grande exemplo é a Google, que não se preocupa com preço dos produtos que desenvolve, ela simplesmente cria. Mas ao criar é movida pela motivação de que aquele produto vai se transformar em uma necessidade. Com esse intuito, a Google demonstra acreditar que as pessoas vão pagar, na medida que verem aquela inovação como necessidade. O investidor precisa se antecipar a necessidade do cliente, criando a necessidade para que consumidor pague. A criatividade tem valor para o indivíduo e para a organização. É claro que este valor pode se dimensionar de diversas formas. Cabe a cada organização criar mecanismos para valorizar essa criatividade e manutenção desta valorização. Obviamente que quando o funcionário é convidado a contribuir com uma ideia, é importante que ele também seja valorizado, recebendo uma contrapartida por isso, seja em prêmios, incentivos financeiros ou em bônus.

Conhecimento é uma questão fluida, é inerente ao sujeito, e isso já faz parte da essência da empresa, esta só precisa mobilizar.

Como ser criativo? É um dom ou é algo possível de ser explorado e aperfeiçoado?

Todo sujeito é criativo por natureza. Eu acredito que todo indivíduo tem potencial criativo. Nós não podemos rotular as pessoas como indivíduos criativos ou não criativos. Obviamente que o indivíduo não tem essa obrigação de mobilizar a criatividade. Existem pessoas mais comprometidas com a criatividade e outros com a rotina ou a previsibilidade. Isso vai da essência do sujeito. Uma organização não pode tolher essa capacidade. Ela tem que dar abertura, mas também tem que entender que existem indivíduos que não estão dispostos a contribuir, e isso precisa ser respeitado.

Quais são os modelos de negócios que vão desaparecer nos próximos anos, considerando que alguns já desapareceram ou foram aperfeiçoados, ou  precisaram se reinventar. Existe uma perspectiva de quais negócios correm esse risco?

Algumas profissões e negócios vão desaparecer. Hoje uma profissão ameaçada é a do sistema financeiro, que está sendo substituída pelas tecnologias. O modelo como conhecemos hoje de bancos vai mudar muito nos próximos anos, e será substituído pela tecnologia, como celular e cartão virtual. É claro que o banco não vai desaparecer, mas serão muito menos que hoje. Sabemos que muitas plataformas têm sido alteradas, e precisamos nos adaptar a elas, como é o exemplo da educação à distância. Um professor  que grava um vídeo e disponibiliza o conhecimento na internet, tem possibilidade de alcance deste conhecimento muito maior do que se estivesse em uma sala física. Não quer dizer que a profissão do professor vá desaparecer, mas vai mudar a forma como se ensina e se comunica, ou se dissemina o conhecimento.

Existem pessoas mais comprometidas com a criatividade e outros com a rotina ou a previsibilidade.

A automação vai substituir o recurso humano ou até mesmo minimizá-lo?

A automação não vai substituir os recursos humanos. Na Revolução Industrial, dizia-se que as máquinas iriam substituir o ser humano, na Revolução Digital, dizia-se que o computador iriam substituir o ser humano. O que se percebe é que na Revolução Industrial foi o ser humano que se adaptou à máquina, e na revolução digital o homem se adaptou ao computador, visto isso, que hoje se não houver internet ou o sistema cai na empresa, ninguém mais sabe trabalhar. O que vai acontecer é que surgirão novas profissões. Vamos ter menos profissões com baixa qualificação e mais postos de trabalho mais especializado. Neste momento histórico o sujeito precisa avançar, melhorar a qualificação.

Quem sobreviverá a estas novas tecnologias?

A sociedade ainda não conhece de fato os impactos da tecnologia na vida do sujeito. No futuro muito próximo, a geração que hoje está entre cinco e oito anos de idade, vai perceber essa revolução tecnológica muito maior. A sociedade vai acolher mais sustentabilidade, mais qualidade de vida com o uso de tecnologia. De fato, o impacto da tecnologia na vida da sociedade, nós não conhecemos ainda o precedente.

Qual é a diferença de inovação e de projeto?

Inovação tem um gap de risco muito maior. O projeto tem foco, objetivo, é mais pragmático. Em um projeto você tem a obrigação de entregar o resultado previsto. Na inovação não existe essa obrigação, ela por si só não é completamente controlável. O projeto é focado no curto prazo, enquanto que a inovação é focada no longo prazo.

As pessoas têm medo de inovar, e por essa razão têm mais confiança em se projetar?

De modo geral, as pessoas têm medo da inovação. Porque não se conhece o precedente. A inovação é como se estivesse pulando de um penhasco para o desconhecido. Então, não se sabe o que vai se encontrar no caminho ou qual será o percurso. Por isso, que existe um medo, uma certa resistência ao processo de inovação.

Quais são as principais falhas das empresas ao lidar com novas tecnologias ou com a inovação?

É ignorar que a tecnologia é a principal ferramenta do momento. As tecnologias estão aí postas, e a empresa que recusa a usá-las está cometendo uma grande falha. Hoje no agronegócio, existe uma abertura muito grande para a incorporação de novas tecnologias, por isso, este setor tem se destacado. O agronegócio representa 30% do PIB brasileiro, emprega  37% da mão de obra qualificada do país. Então o uso de tecnologia só tende a ampliar a competitividade e inserção na economia, além de elevar a média salarial e a necessidade de qualificação nos empregos.

Como na inovação não existe a previsibilidade dos resultados, como mensurá-los? Em que momento é possível fazer esse cálculo?

A empresa precisa de bons indicadores. A máxima é: o que não pode ser obtido não pode ser gerenciado. Com isso, a empresa precisa criar dentro de sua cultura uma dinâmica de indicadores. Mas precisam ser indicadores que fazem sentido para a estratégia da organização, e que estejam alinhados a essa estratégia. Os indicadores podem ser a melhoria do faturamento, a satisfação do cliente, o desempenho organizacional e a produtividade.

Existe receio ou morosidade das pessoas se profissionalizarem para trabalhar com as novas tecnologias?

Existe uma barreira do desenvolvimento profissional, mas não é uma barreira voltada para o sujeito. Não é um desafio para o indivíduo, é para o poder público. O governo é que precisa investir na qualificação da mão de obra. O que falta no país é uma política pública responsável para desenvolvimento da qualificação da mão de obra. 




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