Onofre Ribeiro
Não vejo outro assunto mais forte do que o terremoto provocado pela delação dos dirigentes do grupo JBS. Abalou de verdade as estruturas da República. Mas no fundo, ao somarmos as delações anteriores, especialmente as da Odebrecht, que pareceram o fim do mundo. Aí veio o grupo JBS e pôs literalmente gasolina na fogueira. Começou na cozinha do Palácio do Planalto, passou pelos partidos e entregou que nas eleições de 2014 financiou 1.829 candidatos no país.
Então, cabe a pergunta: do que afinal, estamos falando quando nos referimos a essas delações que vem se arrastando a três anos na Operação Lava Jato? Falamos de um Estado paralelo construído no Brasil, onde o verdadeiro poder político foi determinado a partir dos interesses desses financiadores. Diante dos escândalos políticos e das desigualdades sociais e às injustiças da década de 1980, cantor Cazuza protestava na sua música “Brasil, mostre a tua cara”, gravado um protesto aos escândalos políticos:
“Brasil, mostra a tua cara /Quero ver quem paga /Pra gente ficar assim /Brasil /Qual é o teu negócio? /O nome do teu sócio /Confia em mim”. O autor de “Ideologia” (“quero uma pra viver”) morreu queixando-se de que suas ilusões haviam sido perdidas. Deixou este outro verso de triste atualidade: “Os meus sonhos foram todos vendidos”.
A lição que nos deixam a política, o Estado brasileiro, as suas instituições e os políticos é esta mesmo. O país vendido. Aqui o leitor deve estar se perguntando “onde vamos parar?” A resposta não é simples. Mas é realista. Um país como o Brasil que sempre suportou desaforos sem fim, suportará mais este.
O tsunami que neste momento nos assola promete derrubar esse velho conceito de Estado-tirano usurpador dos cidadãos, para um de política mais igualitária no tempo. Por maior que seja este tempo, a História nos redimirá. Haverá futuro no futuro.
A mesma História que é cruel na passagem do tempo, também é generosa na oferta de oportunidades. Porém, desde que as novas gerações sejam capazes de superar as incoerências dos seus antecessores.
Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso


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