• Cuiabá, 23 de Outubro - 2025 00:00:00

Saúde mental nas empresas: a conta já bate à porta

Durante muito tempo, a saúde mental foi tratada como um tema secundário, algo íntimo e distante das prioridades das empresas. Pouco se refletia sobre o impacto profundo que o estado emocional dos colaboradores exerce sobre a eficiência, a segurança e a resiliência das operações. Hoje, as empresas começam a compreender que o equilíbrio emocional não é apenas uma dimensão do bem-estar individual, mas um elemento fundamental para a sustentabilidade e o desempenho dos negócios. 

O impacto da saúde mental no ambiente corporativo já é uma realidade concreta e custosa. Problemas como depressão, ansiedade e burnout não são apenas questões individuais. Eles aumentam o risco de acidentes, afetam a produtividade, geram afastamentos e podem causar perdas financeiras e reputacionais. Dados do Ministério da Previdência Social apontam que quase meio milhão de trabalhadores brasileiros se afastaram em 2024 por transtornos mentais e comportamentais.

Apesar da pouca atenção que o tema ainda recebe, o ambiente regulatório está em transformação. Embora algumas atualizações da NR-01 tenham sido prorrogadas, auditores do trabalho vêm atuando com foco na NR-17, norma que trata da ergonomia física e emocional. Empresas despreparadas correm risco de sanções, autuações e até responsabilização de gestores. No exterior, essas penalizações já são realidade e devem chegar com força ao Brasil.

Cenários do cotidiano ilustram esse perigo. Imagine um profissional de linha de produção sob forte estresse. Sua mente dispersa, ocupada com angústias, pode causar um erro grave. Em hospitais, um médico ou enfermeira emocionalmente abalado pode administrar medicação errada e colocar vidas em risco. No universo corporativo, um e-mail enviado ao destinatário errado pode comprometer um projeto ou gerar danos jurídicos. É um risco real.

Exposição ao risco não é uma escolha. No universo corporativo, ignorar essa realidade é subestimar a complexidade do jogo. Prazos apertados, decisões sob pressão, cenários de crise fazem parte da dinâmica. Reconhecer o risco cedo e transformar vulnerabilidade em estratégia pode ser o que separa quem sobrevive de quem lidera.

Muitos gestores ainda veem a saúde mental como tema intangível. Mas os impactos já foram reconhecidos por organizações como a OMS, que aponta perda econômica global de quase um trilhão de dólares causada por transtornos como ansiedade e depressão, refletida em dias de trabalho perdidos. 

Desacelerar é mais do que bem-estar, é decisão estratégica. Operações em alta velocidade sem avaliar os impactos custam caro. Empresas que negligenciam a saúde mental enfrentam riscos operacionais, jurídicos e financeiros. Assim como investem em segurança de máquinas, compliance e proteção de dados, devem investir com a mesma seriedade na saúde emocional. 

Ignorar o tema não é apenas insensível, é financeiramente irresponsável. Companhias que entendem a relação entre saúde emocional e desempenho conseguem antecipar crises, reter talentos, reduzir custos e proteger sua reputação. Conscientização é apenas o começo. O momento de agir é agora — a conta já começou a chegar. Quem entender isso estará mais bem preparado para o futuro.

 

*Claudia Machado é VP de Benefícios na Howden Brasil.



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