O atentado a tiros sofrido a Donald Trump durante um comício em Butler, no estado da Pensilvânia, inflamou as discussões ao redor do mundo sobre a disputa pela cadeira mais poderosa do planeta terra: a presidência dos EUA. Mas, para além dos debates ideológicos e políticos, o ocorrido é um exemplo da má gestão de riscos e controles internos, que, nesse aspecto, pode servir de exemplo às práticas de riscos organizacionais.
Em primeiro lugar, é preciso entender como atua o aparato de segurança de um candidato à presidência. Para ele, é designada uma equipe do serviço secreto, que opera em conjunto com as polícias locais, para garantir a segurança dos eventos de campanha. E, apenas nessa colaboração, já existem diversos fatores de riscos e desafios na elaboração de uma estrutura de controle que proteja a integridade do candidato, uma vez que as polícias locais são órgãos independentes, operando sob comando dos estados e, frequentemente, não possuem o mesmo preparo e a mesma infraestrutura que o serviço secreto Portanto, é essencial que o serviço secreto disponibilize equipes adequadas para supervisionar e operar as atividades de segurança.
Diante disso, analisemos o atentado. De acordo com o especialista em armamentos e oficial da reserva da marinha, Vitor Hirsch,, pela distância do disparo, que foi de 120 metros, e pelo armamento utilizado, fatores como vento e curvatura da Terra não teriam como influenciar na precisão do tiro.. Além disso, a segurança do perímetro imediato ao evento, que seria entre 100 e 200 metros, é de responsabilidade da equipe de segurança no solo e da polícia local, que devem atuar preventivamente para impedir a presença de pessoas desautorizadas ou possíveis ameaças. Os counter-snipers, responsáveis por abater potenciais atiradores, protegem perímetros de até 1,5 quilômetro, onde franco-atiradores podem estar posicionados.
Por esses motivos , é possível compreender que a estrutura de controles internos para mitigar os riscos na proteção de candidatos à presidência apresentou falhas significativas tanto no planejamento, quanto na efetividade, resultando na materialização do risco. Essas falhas ocorreram nos procedimentos dentro do perímetro mais próximo ao evento e sabe-se que algumas pessoas pertencentes ao público avisaram aos agentes de segurança sobre a presença de alguém armado sobre a estrutura ao lado. Mas o que explica a inefetividade em conter a ameaça? Abaixo, são elencados três motivos.
- Falta de preparação do time: uma das falhas está nos fatores de riscos humanos na execução das atividades de controle, como dúvida se o indivíduo não é um counter-sniper do próprio serviço secreto; medo de colocar a própria vida em risco diante da situação; má preparação, resultando em incompetência para lidar de forma correta e rápida; e descrença de que alguém possa ter violado um perímetro supostamente seguro.
Diante desse cenário, fica evidente a necessidade de se estabelecer práticas de treinamento e atualização constantes para que os responsáveis pela execução dos controles estejam preparados para responder rapidamente e de forma adequada quando necessário.
- Falta de estrutura adequada: A estrutura de segurança do serviço secreto no dia do evento foi a mesma que normalmente é dedicada a ex-presidentes. Consequentemente, uma pequena equipe foi alocada para proteger Trump durante a campanha eleitoral. Dessa forma, o primeiro erro está na própria estrutura designada para realizar a segurança do atual candidato, o que abre alguns questionamentos quanto ao processo de avaliação de riscos: eles podem estar sendo mal avaliados ou, mesmo quando corretamente avaliados, podem estar sendo negligenciados pelos gestores responsáveis.
Sendo assim, dentro da realidade organizacional , fica clara a necessidade de processos de avaliação de riscos bem elaborados e atualizados, além de uma cultura voltada para a gestão baseada em riscos para a tomada de decisões adequadas.
- Falta de desenho e execução: para Hirsch, as maiores falhas se concentraram na polícia que cobria o perímetro e na integração com o serviço secreto. Segundo ele, ao receberem avisos da presença de alguém no telhado, a equipe de segurança deveria ter retirado Trump do palco imediatamente. Dessa forma, é possível levantar três hipóteses que explicam essa falha: a inexistência de um controle específico para remover o alvo; um desenho inadequado do controle, possivelmente sem definir corretamente o processo de comunicação entre as equipes de segurança; e a falha dos agentes de segurança, que hesitaram em avisar sobre a ameaça ou em retirar o alvo do púlpito.
Portanto, é crucial entender em que nível de governança dos controles estabelecidos ocorreu a falha de gestão que não mitigou os riscos de segurança do evento, permitindo o atentado. Nesse sentido, a estrutura interna precisa ser periodicamente revisada e testada de forma coerente pela equipe de auditoria das organizações, a fim de evitar que novos riscos não sejam cobertos ou que os controles estabelecidos se tornem ineficazes com o tempo.
O infeliz exemplo mostra que, apesar das falhas na estrutura de controles de segurança das polícias locais e do serviço secreto dos EUA, país que dedica aproximadamente 1 trilhão de dólares anuais ao orçamento de defesa, o acaso garantiu a vida do candidato à presidência Donald Trump.
*Bruno Vaz é consultor de Riscos & Auditoria Interna da Protiviti, empresa especializada em soluções para gestão de riscos, compliance, ESG, auditoria interna, investigação, proteção e privacidade de dados.
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