Meu primeiro artigo acadêmico abordando a relação entre gênero e competências foi publicado em 2008, pois desde muito jovem observava que as participações de homens e mulheres não eram equilibradas em vários espaços.
Nos esportes, sempre via uma maioria de homens, tanto na televisão quanto nas minhas práticas. Ao ver pilotos de avião ou de caminhão, percebia a mesma coisa. Assim como notava que eu tive muito mais professoras do que professores do sexo masculino no ensino fundamental. Isso tudo me chamava a atenção, de alguma forma, pois muitos lugares pareciam predominantemente de algum gênero. E fui buscando mais e mais informações, ao longo do tempo.
A população brasileira conta com quase 52% de mulheres e, no mercado de trabalho formal, elas são 44%. Além disso, no mundo corporativo, temos sempre uma participação feminina que, quando vemos por nível hierárquico, forma uma espécie de funil, ou seja, mulheres mais ou menos representadas na base, mas muito menos frequentes na cúpula.
Nesse topo das empresas, as mulheres são cerca de 20% na alta liderança, cerca de 10% dos cargos de CEOs (3% segundo a Bain, nas 250 maiores empresas brasileiras), e no Conselho de Administração, pouco mais de 10% (de acordo com o IBGC), mas que era metade há uns cinco ou seis anos.
Quando observamos as horas de trabalho, 2/3 do trabalho do homem é remunerado, enquanto só 1/3 do trabalho da mulher é remunerado. E não só isso, elas têm menor favorabilidade, na média ganham 22% a menos para os mesmos cargos quando comparamos com os ganhos masculinos. Essa diferença pode alcançar os 50% de gap, quanto mais alta for a escolaridade.
Mas será que não é por falta de qualificação? Novamente, uma discrepância: as mulheres são mais de 50% dos formandos do ensino superior desde 1999, no Brasil. E elas atualmente são a maioria nos cursos de Medicina, Direito, Odontologia e Enfermagem, porém apenas 15% nas Engenharias. Esse efeito de funil acontece para os estudantes (da graduação à pós), inclusive nas bolsas CNPq, em que as mulheres até são maioria nas bolsas de iniciação científica, mas menos de 25% nas bolsas de maior impacto e valor concedido. Na ponta, hoje temos 28% de reitoras nas universidades.
Não é só na educação formal que observamos a diferença. Na Wikipédia, as mulheres estão em 17% de todas as páginas biográficas, e são somente 10% de todos os editores. Há um viés mesmo num espaço em que "todos podem editar".
E vamos para os outros contextos. No prêmio Nobel, as mulheres ganharam apenas 3% dos prêmios em ciências. Na política, no Brasil, apesar de as mulheres serem 52,5% do eleitorado e 30% das cotas de candidaturas, as mulheres são menos de 18% do total dos cargos políticos.
No mundo, as mulheres são 6% dos chefes de estado com eleições (10 de 153). Na saúde, 70% dos profissionais são mulheres, mas em torno de 20% dos profissionais que aparecem na mídia para falar de resultados relevantes nas suas especialidades.
Na publicidade, 3% dos personagens que aparecem como líderes são mulheres, os homens têm 62% mais chance de aparecerem como pessoas inteligentes, e 75% dos personagens que trabalham são homens (de acordo com levantamento da ONU Mulheres). Na música, as mulheres são 2,6% dos produtores de música, 12,6% são compositores de música, e quase não há DJs mulheres. Na arte, apenas 4% de todos os artistas que assinam as obras do Museu Metropolitan de Nova York são de mulheres, mas elas são 76% das obras com corpos nus.
De acordo com inúmeros estudos, a diversidade – de gênero e de outros pilares – gera resultados mais positivos, pois uma liderança balanceada prevê mais riscos e atende melhor às necessidades do mercado.
Muitas coisas ainda precisam mudar, precisamos de maior equilíbrio entre homens e mulheres. Se não for por convicção e por crença na diversidade, que seja por interesse financeiro. Um mundo com equidade de gênero pode acrescentar de 5 a 6 trilhões de dólares na economia mundial. Por quê? Teríamos melhor desempenho das empresas, já que cabeças diferentes pensam melhor e de maneira mais criativa, haveria mais mulheres ganhando a mais e girando maior consumo e, principalmente, um mundo com mais oportunidades e pertencimento.
Não é necessário apenas dizer que "não discrimina ninguém", mas sim atuar com ações afirmativas. Vamos acelerar porque todos podemos ganhar com isso, ou podemos levar mais de 200 anos para alcançar a equidade, de acordo com a previsão do Banco Mundial.
Lina Nakata é professora da FIA Business School.
Ainda não há comentários.