• Cuiabá, 21 de Novembro - 00:00:00

Pêndulo político

Ainda em 2019, durante palestra no Fórum Liberdade e Democracia, organizado pelo Instituto de Formação de Líderes, em Belo Horizonte, alertei que o Brasil caminhava a passos largos para concretizar a teoria do pêndulo. Avisei que o discurso e prática de Bolsonaro na presidência eram a forma mais fácil e rápida de devolver o poder para a esquerda. Dito e feito. Quatro anos depois, estamos diante do terceiro mandato de Lula.

Bolsonaro perdeu para si mesmo, para seu destempero, arrogância, prepotência e insensibilidade diante de uma pandemia. Certo de que encarnava o eixo principal e a essência do antipetismo, escolheu o adversário certo de sua vitória. Diante de um duelo de rejeições, levou a pior e perdeu a oportunidade de ser reeleito. Entregou o poder de volta para o petismo em uma bandeja de prata.

O poder enebria, cega e muitas vezes encobre a razão. Esta é uma característica que se debruça sobre a maioria daqueles que chegam ao topo. É preciso muita moderação, sensatez e prudência para saber que os mais perigosos inimigos estão ao seu lado. A arte da política consiste em entender que do outro lado estão seus adversários, jamais seus inimigos. Uma lição aprendida de forma dura por Churchill em sua carreira na Câmara dos Comuns.

Assim como Bolsonaro se transformou no melhor cabo eleitoral de Lula, o atual inquilino do Alvorada precisa ter muito cuidado para não se tornar o principal artífice da volta de Bolsonaro ao poder. Voltamos a teoria do pêndulo. Se um político radicaliza de forma demasiada seu discurso, as chances de a oposição roubar seu lugar com um discurso antagonista se torna muito provável. Um choque de radicalismos que paralisa o sistema político e as políticas públicas de um país.

Ao fornecer eco aos radicais e a um discurso fora de tempo e realidade, as chances de Lula fortalecer Bolsonaro crescem a cada dia. A melhor forma que o presidente tem em desmontar a máquina bolsonarista é governar pelo centro. Ao se aproximar de práticas moderadas, deixa de alimentar o discurso da oposição, esvaziando seu capital político. É uma tática inteligente que neutraliza os adversários.

Muitos dirão que Bolsonaro está inelegível, porém, Lula estava preso quando Bolsonaro chegou ao Planalto. Como aprendemos com Magalhães Pinto, "política é como nuvem. Você olha e ela está de um jeito. Olha de novo e ela já mudou". Bolsonaro encarna uma força política e pode ainda fazer muito barulho nas próximas eleições, dentro ou fora do pleito, afinal quem imaginava que ele se tornaria presidente apenas quatro anos depois da quarta vitória nacional seguida do petismo na disputa pelo Planalto?

Assim como em 2019, repito as mesmas palavras, ou seja, radicalismo leva a radicalismo, sendo a forma mais fácil de perder as rédeas do poder. Bolsonaro foi o governo dos sonhos de uma oposição que pretendia voltar ao Planalto. Agora, o petismo precisa tomar cuidado para não se transformar no atalho de volta do bolsonarismo para a cadeira presidencial. Se Lula deseja manter o poder e prorrogar sua estada no Planalto diante de uma reeleição, o melhor caminho é governar pelo centro, a mesma trilha que lhe entregou a vitória nas urnas em 2022.

 

Márcio Coimbra é Coordenador da pós-graduação em Relações Institucionais e Governamentais da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Brasília, presidente do Conselho da Fundação da Liberdade Econômica e. Cientista Político, mestre em Ação Política pela Universidad Rey Juan Carlos (2007). Ex-Diretor da Apex-Brasil e do Senado Federal.

Sobre a Faculdade Presbiteriana Mackenzie  

A Faculdade Presbiteriana Mackenzie é uma instituição de ensino confessional presbiteriana, filantrópica e de perfil comunitário, que se dedica às ciências divinas, humanas e de saúde. A instituição é comprometida com a formação de profissionais competentes e com a produção, disseminação e aplicação do conhecimento, inserida na sociedade para atender suas necessidades e anseios, e de acordo com princípios cristãos.

O Instituto Presbiteriano Mackenzie (IPM) é a entidade mantenedora e responsável pela gestão administrativa da Universidade Presbiteriana Mackenzie nos campi São Paulo, Alphaville e Campinas, das Faculdades Presbiterianas Mackenzie em três cidades do País: Brasília (DF), Curitiba (PR) e Rio de Janeiro (RJ), bem como das unidades dos Colégios Presbiterianos Mackenzie de educação básica em São Paulo, Tamboré (em Barueri - SP), Brasília (DF) e Palmas (TO). Além do Hospital Universitário Evangélico Mackenzie Paraná (Curitiba), que presta mais de 90% de seu atendimento a pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) e integra o campo de estágios da Faculdade Evangélica Mackenzie do Paraná (FEMPAR).



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