O pacote eleitoral aprovado pelo Congresso é ainda motivo de muita falação. Houve atropelo em regras regimentais, uma votação quase unânime por parte dos parlamentares, inclusive da oposição, com receio de serem acusados de não concordarem com recursos para quem necessita. A lei eleitoral foi atropelada pelo Congresso com a invenção de um suposto estado de emergência.
No dia da aprovação formal do pacote de benefício eleitoral teve a presença do presidente Bolsonaro. O seu discurso foi em cima do que dizem as pesquisas. Fala-se muito que os bolsonaristas não aceitam os resultados das pesquisas, mas o discurso dele foi sobre o que mostram as pesquisas.
Deu ênfase nos recursos para os de baixa renda, segmento que ele hoje perde nas pesquisas para o Lula. Falou sobre o Nordeste, que o auxílio votado ajudará muito a região, chamou o nordestino de “povo maravilhoso”. Eleição faz coisas interessantes.
Falou ainda sobre as mulheres, outro espaço que o ex-presidente está à frente. Disse que o Auxílio Brasil vai para as mulheres, no geral esse beneficio está sempre em nome delas. Baixa renda, Nordeste, mulheres, tudo onde o Lula está mais à frente. E não acreditam em pesquisas.
No pacotão aprovado os congressistas também tiram vantagens ao levarem mais recursos para suas bases eleitorais. Falou-se até que o pacote da bondade eleitoreira permitirá distribuir cestas básicas e tratores em plena campanha eleitoral. Será que vai chegar a isso mesmo? Como reagiria a Justiça eleitoral se ocorrer de fato?
O interessante é que a direita política brasileira criticava duramente o PT e seus governos de promoverem bondades eleitorais para se manterem no poder. O que a direita está fazendo agora é até maior do que os da esquerda fizeram antes.
Outro dado do momento é que as forças armadas estão pretendendo um protagonismo nesta eleição que é claramente inconstitucional. Falam em apuração paralela ao da Justiça eleitoral. O Ministro da Defesa está propondo medidas estranhas para o TSE e que daria força para os militares na apuração dos votos.
Muitos entendem que foi um equívoco o Ministro Barroso, quando no TSE, convidar as forças armadas para dentro do processo eleitoral. Que agora, insuflado pelo presidente, pretendem ir além do que lhe confere a lei.
Mas, por outro lado, talvez tenha sido até bom levar os militares para dentro desse assunto. A Justiça eleitoral pode aceitar algumas ponderações ou ajustes propostos por eles, dar também espaço para, junto a outras entidades convidadas, ser observador da eleição. Com isso, o que poderia dizer Bolsonaro sobre a apuração, se vier a perder a eleição?
Outra fala sobre os militares nesse processo nasce dentro da corporação mesmo. Militares da ativa e reserva estão com receio de que tudo isso, no final, possa respingar desfavoravelmente na imagem deles. Que suas funções estariam sendo desvirtuadas ao jogá-los dentro desse turbilhão que não conhecem e que poderia trazer desgaste. As coisas estão agitadas em Brasília.
Alfredo da Mota Menezes é professor, escritor e analista político.
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