No dia 2 de junho de 2022 completará 100 anos do nascimento do ex-governador José Garcia Neto. Sergipano radicado em mato Grosso desde o fim da década de 1950, foi o primeiro prefeito eleito de Cuiabá. Foi vice-governador, deputado federal e governador entre 1975 e 1978.
Tenho carinho especial em registrar o seu centenário por uma série de razões. A principal delas é a amizade que mantivemos desde 1976 quando cheguei a Mato Grosso até a sua morte em novembro de 2009.aos 87 anos. A nossa amizade extrapolou da nossa convivência no governo para a família. Tem sido uma relação amorosa e muito carinhosa com todos. Especialmente sua esposa, dona Maria Lygia. Em 1976, no meio das discussões sobre a divisão de Mato Grosso fui convidado a me transferir de Brasília para Mato Grosso e trabalhar no governo na área de comunicação. Acabei por dirigir essa área entre 1977 e 1979.
Passaram-se mais de 40 anos desde o governo de Garcia Neto e da divisão do Estado. A memória vai apagando as presenças de cada época. Recuperar essas lembranças é necessário para respeitar e registrar parte da História de uma época. Claro que precisaria de muito mais do que o espaço de um artigo pra retratar a época e o homem Garcia Neto, com quem convivi intensamente naquele período e pelos anos seguintes até a sua passagem em 2009.
Dr. Garcia era, de fato, um estadista. Pesou sobre os seus ombros a divisão do Estado em 1977. O projeto era do governo federal por razões da geopolítica. Mas as divergências históricas entre as regiões Sul e Norte de Mato Grosso politizaram a divisão como se fosse uma decisão estadual. E foi posta na conta do governador. Acompanhei muito de perto tudo isso e sei com exatidão os detalhes da divisão. Foi uma luta política regional entre o Sul e o Norte, com grandes ingredientes nacionais de proteção à Amazônia.
Faço dois registros. Antes da divisão Garcia Neto cuidou de criar igual infraestrutura nas duas regiões, de modo a prepará-las. O segundo, foi muito estratégico. O projeto da Lei Complementar 31/77 que criaria a divisão, preparado por técnicos do Ministério do Interior, foi encaminhado ao governador para análise. Havia muitos pontos obscuros ou prejudiciais às duas regiões. O governador e equipe de secretários foram a Brasília e ficamos uma semana no Escritório de Representação alterando esses pontos da lei.
O presidente Ernesto Geisel acatou todos os pontos sugeridos. Alguns muito profundos em relação ao projeto original. Preciso ressaltar que as alterações beneficiavam as duas regiões, independente das divergências entre ambas. Por isso considero-o um estadista de larga visão.
O peso da divisão cortou-lhe a continuidade da carreira política. Mas a memória dele e da sua visão de estadista estão no sucesso de Mato Grosso de hoje. De Mato Grosso do Sul também.
Os meus profundos e carinhos respeitos à sua memória e à sua história neste momento em que a Assembléia Legislativa, por iniciativa do deputado Carlos Avalone, homenageia o centenário de nascimento do governador Garcia Neto. Justo, merecido, oportuno. E absolutamente necessário!
Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso.
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