Vive-se hoje um “bum” das especialidades. Especialidades várias, para todos os gostos e serventias, decantadas em prosa e verso, com os especialistas de um tudo sendo divulgados pelas redes sociais. “Isto é bom” – diria alguém, com olhar jovial, sem ter chegado à adolescência. “Mais do que bom” – outro, de igual idade, trataria de corrigir aquele. “Viva a época do marketing” – completaria a adolescente. “Uau!...” – balbuciaria o descolado, com piercings no nariz, orelhas e no lábio inferior. “A democracia é mesmo maravilhosa!” – observaria o de meia-idade. “É à força da liberdade de expressão” – acrescentaria a esposa, aparentando-se mais nova que o esposo. “Não se pode impedir a opinião” – tratou-se, logo, de acrescentar o de terceira idade. “Sufocá-la é autoritarismo, é ditadura” – concluiu-se o idoso. Grupo bastante eclético. Antenados aos acontecimentos, às tendências do momento vivido e defensores, pelo que pareciam ser do livre-alvedrio.
Tripé importante. Bem mais do que se possa imaginar, e em especial quando se percebe a aproximação de pequenas nuvens de sombras, ameaçadoras tanto para o pássaro e o que ele simboliza com suas asas a desafiarem o vento e a navegarem em águas feitas de ar, como para o canteiro e o que nele foi plantado, pois, sobre eles, despejam insetos e pulgões, sugadores e transmissores de vírus para o sorgo, causando-lhe dano direto quando da sucção de seiva, e na transmissão de viroses com potencial na redução da produção ou mesmo a morte de plantas jovens.
Daí a necessidade de se matar as pragas ou de se munir de instrumentos para impedi-las de aparecerem, sem se descuidar das sementes, que irão aflorar, tão logo venham romper com o ventre que a fizera germinar, e, uma vez transformada em planta viçosa, começa a florir. O que não deixa de ser um processo. Processo que se inicia lá atrás, no plantio, prossegue na fase de crescimento, e vai, nessa toada, até o fechamento do ciclo.
Nem toda planta, contudo, é um sorgo. Ainda que uma porção de outros, também são cereais, e ricos em propriedades nutricionais. Mas sorgo é sorgo, e jamais poderia ser trigo, cevada, painço, centeio, arroz, etc. E estes todos, cereais de verdade, jamais poderão ser confundidos com grãos, também ricos em nutrientes, a exemplo da soja e da lentilha. Do mesmo modo não se pode, nem deve confundir os grãos com as sementes (linhaça, chia, abóbora, girassol, etc.). Cada qual é cada qual. Detalhe relevante, porém deixado de lado pelo grupo eclético, mencionado no início deste texto.
A liberdade de opinião, de se expressar, que é democrático e deve ser preservada e garantida, não faz de qualquer pessoa um especialista nas mais variadas especialidades, como parecem levar a crer as redes sociais, cujas ondas veem carregadas de “críticas” a estudiosos, de fato. Outro dia, inclusive, um cientista de renome mundial, foi demitido do posto de comando do INPE, simplesmente porque o presidente da República não gostou dos dados científicos apresentados; o ministro da saúde, que nada entende de medicina ou de saúde pública, ignorou as recomendações do comitê sanitário do próprio ministério.
Seguiram-nos religiosamente muitos dos internautas. Propagandeiam remédios, sem jamais terem estado por um só instante pela sala de aula da Faculdade de Medicina. Ano passado, eles refutaram livros do patrono da educação do país, embora, sequer, tivessem lidos um único parágrafo de apenas um deles. Rejeitam qualquer voz que lhes soa diferente aos ouvidos. Rejeitam os fatos que contrariam suas “verdades”, e abraçam o negacionismo como se esta fosse uma seita a ser cegamente seguida, e a seguem, e ai de quem os contesta. Ainda assim se dizem defensores da liberdade de expressão, e, por conta disso, sentem no direito de opinar sobre quaisquer coisas, mesmo que nada saibam a respeito. Especializar-se, obviamente, demanda dedicação, estudos e pesquisas sobre uma área do saber. Mesmo assim, sujeitos a erros. É isto.
Lourembergue Alves é professor universitário e analista político. E-mail: lou.alves@uol.com.br.
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