O céu estava meio tristonho, sem estar carrancudo, ainda que, vez ou outra, alvas nuvens se escondiam por trás das mais escuras. O arco-íris não se fazia presente. Talvez, nem deveria mesmo estar. Até porque, apesar do tempo que se arrastava por todo o dia, chuva alguma havia caído. Muito menos em forma de garoa, ou de raros pingos que mal davam para molhar a grama espalhada pelo canteiro da praça, cujos passeios denunciavam os maus-tratos sofridos.
Embora a quase totalidade dos moradores da comunidade quitava, ano a ano, o valor do IPTU cobrado. Ou, quem sabe, a prioridade da gestão seja bem outra, e os seus olhos não alcançam as áreas periféricas. Filme antigo. Igual “script”. Decorado e encenado por atores de rostos distintos, que concorreram nas eleições por partidos e alianças diferentes, mas, durante toda a campanha, fizeram-se passar por “novos” e contrários “a velha política”.
O eleitorado se deixou levar. Embevecido, por certo, pelas ondas fantasiosas, as quais nada têm a ver com fantásticas ou algo do gênero, pois não passaram de “conto do vigário” com uma roupagem modernosa. Embeveceu-se tanto que mesmo hoje, depois de tanto tempo da disputa, continuam embriagados, crentes de que fizeram a melhor das escolhas. Mal se dão conta de que suas escolhas caíram no “velho”.
Isto porque os escolhidos em nada se diferenciam dos não escolhidos, dos rejeitados. Estes e aqueles são rostos do mesmo álbum fotográfico, da mesma cena, cujo desenho resulta em igual comportamento. Assim, pretérito e presente se confundem, se misturam a ponto de se tornarem um só corpo, indistinguíveis até nos passos, no comportamento. É a partir daqui que se deve discutir a situação surgida dos votos depositados nas urnas. Votos que foram paridos, em grande parte, pelo batuque das redes sociais, e foram estas que abortaram a “velha” política, ao mesmo tempo em que gestaram a “nova” política.
Gestaram-na sem que tivessem a clareza do que, de verdade, pariram. Afinal, o gestado tem a cara do abortado, gesticula-se como e comporta-se igualmente. Mesmo assim, estranhamente, há quem diz, com todas as letras, tratarem de dois perfis diferentes. Mas como isso é possível? Diferentes se agem como se fossem o mesmo corpo? Ah!... Respondem: “há um novo político”. Espere um pouco: como assim, “novo político”?
Eles falam, falam, e nada dizem. Fazem malabarismo com as palavras para explicar o inexplicável, justificar o injustificável, uma vez que o “novo” não pode ser explicado pelo fato de apresentar habilidades com twitter, facebbook, whatsapp, e distribuir Fake News. O uso destes veículos não faz das notícias falsas novidade no jogo político-eleitoral. Jornais já serviram este papel. Além do mais, existiam panfletos e apócrifos. Portanto, não se podem apegar as redes sociais para traçar o perfil do “novo político”, nem da “nova política”. Até porque todos os atores políticos, hoje, se valem das redes sociais, independentemente de suas idades, cores partidárias ou do posicionamento político e ideológico. Tudo, então, é “velho” em se tratando de comportamento.
Comporta-se mal o gestor que joga para plateia todo tempo e se recusa a respeitar a Constituição, age igual o parlamentar que estufa o peito para dizer que fiscaliza o Executivo, mas demonstra ser um despreparado no que tange a fiscalização de si mesmo, da Casa que pertence, com a contratação de fantasmas e o descaso com dinheiro público, sugado em Verba Indenizatória e pagamento antecipado de salários. Coragem e habilidade às avessas. A força do leão e a astúcia da raposa para lembrar o que dizia Maquiavel no capítulo XVIII de “O Príncipe”. É isto.
Lourembergue Alves é professor universitário e analista político. E-mail: lou.alves@uol.com.br.
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