• Cuiabá, 21 de Novembro - 00:00:00

O Falar Sobre Política – Parte 1

Outro dia, alguém chegou a dizer que “muitas pessoas estão conversando, falando sobre política”. Dizia, sem esconder o seu particular contentamento, pois, segundo ele, “as redes sociais fizeram com que elas, as pessoas, se interessassem pela discussão política”. Realmente, muita coisa se pode ler pelas redes sociais. São vozes, antes não ouvidas, agora ecoadas. Reportam, muitas vezes, sobre acontecimentos, ações governamentais e também do jogo eleitoral. “Mas se prendem, quase sempre, as versões” – diria o (e) leitor mais atento. “Versões não são, nem podem substituir aos fatos” – completaria um segundo. “Os fatos, jamais se alteram; ao passo que as versões, mudam-se de acordo com as conveniências” – observou, em boa hora, um terceiro. “Conveniências que, igualmente, se modificam” – concordava o primeiro destes três. “Oh, se muda!...” – balbuciou-se um deles, em meio a sorrisos. “Modificações provocadas pelas vontades dos ‘donos do poder’...” – antecipou quem, até então, mantinha-se calado.  

Mas, neste caso, em que pé se encontra a crítica?” – indagou um garoto que escutava a todos. “Não se encontra...” – iniciava a responder o tio, que foi interrompido pelo irmão mais velho e pai, o qual o fizera para dizer que “tudo era crítica, pois esta sempre está amparada pela opinião”. “Meu Deus!...” – deixou escapulir o segundo (e) leitor. “Não entendi o porquê a evocação de Deus?” – questionou o pai, com o semblante fechado. “crítica e opinião exigem dados, razões, motivos e fatos, por isso, não podem ser confundidas como achismo” – explicou o tio, um tanto professoral. “Ah!...” – tentou retrucar-lhe o irmão. Este, porém, antes dele completar-se, acrescentou: “comumente se vê nas redes sociais, e nos bate-papos cotidianos, tal confusão, assim como também é comum misturar adotar a versão ao invés do fato, e o achismo em substituição a opinião”. “Como, titio?...” “Isto mesmo, sobrinho...” “Mas...” – novamente tentava interromper-lhe o irmão. “Nunca discuta a opinião de ninguém...” – aconselhava ao sobrinho. “Ah!... Então, o que se deve discutir, sabichão?”

 O irmão lhe sorriu. Seu sorriso estava bem longe de ser um deboche, ou pouco caso. Mas, isto sim, de ternura, de respeito ao pai de seu único sobrinho, a quem tratava como o filho que não tivera, embora tentasse, porém sua esposa tinha problema congênito, o que a impedia de engravidar-se. Seu sorriso desapareceu, e, antes da tristeza, ele prosseguiu com o que dizia. “Ao ouvir o que tem a dizer o seu interlocutor” – falava com os olhos fixos no sobrinho – “jamais se precipite no falar” – pai e filho o acompanhavam com atenção – “Pergunte a si mesmo, se o que foi dito é uma opinião ou um achismo?” “Como assim?” – indagou-lhe o irmão. “Achismo e opinião são diferentes. Toda opinião, ao contrário do achismo, requer fundamento”. “Ah!...” – balbuciou-se o sobrinho. “E é o fundamento que você deve questionar e levar para o debate, até para verificar se ele, o fundamento (razões, motivos, dados, fatos, etc.), sustenta o que foi dito”.  

O sobrinho olhava o tio com admiração. “Quando não há fundamento, inexiste a opinião” – chegou a dizer o garoto. “Exatamente...”- concordou com o sobrinho. “Então, neste caso, não tem o que se discutir” – concluiu o garoto, diante do olhar babão do pai. “Isto mesmo!... – prosseguia o tio – “A imensa maioria do que se vê, ouve e se lê nas redes sociais é achismo puro”. “O quê?” – indagou o pai, incrédulo, afinal, fissurado em tudo da rede: Facebook, Instagram, Whatsapp, etc. “Fazemos, muitas vezes, uso equivocado da internet. Milhares de afirmações que circulam por ela são alimentadas pelas paixões... Paixão de torcedor. Torce-se por um político, por um governo, do mesmo modo que torce pelo time do coração. Isto é, sem qualquer olhar crítico, sem filtro algum. “O pior de tudo, é que chega a atacar a pessoa de quem apontou os desacertos do governo e os crimes do político” – falava o tio, compassadamente, sob o olhar do sobrinho. “Mas...” – tentava dizer alguma coisa o pai, porém desistiu de fazê-lo, em razão do adiantado da hora. Tem a segunda parte. É isto. 

 

Lourembergue Alves é professor universitário e analista político. E-mail: Lou.alves@uol.com.br.                      



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