• Cuiabá, 21 de Novembro - 00:00:00

O tigre pantaneiro acordou

A secretaria estadual de planejamento divulgou nesta semana estudo técnico sobre o comportamento da atividade econômica de Mato Grosso no segundo trimestre de 2019. Os dados confirmam a retomada da trajetória de crescimento chinês do estado após longa letargia dos anos de 2015 a 2017. Estudo elaborado pelo excelente corpo técnico da Secretaria Estadual de Planejamento mostra que no segundo trimestre de 2019 o PIB estadual cresceu 4,5% em relação ao mesmo período de 2018. O crescimento anualizado (últimos quatro trimestres) foi de 3,0%. Análise detalhada do estudo permite verificar que o setor que apresentou o melhor desempenho foi o agropecuário que cresceu 18,8%. O setor de serviços cresceu 3,2% e a indústria teve queda de -4,9%.

Considero que o terceiro e quarto trimestres tendem a ter performance melhor que os dois primeiros, portanto, devemos fechar o ano com crescimento acima de 4%. Muito acima do 1% estimado para o PIB do país.

Apesar de os números ainda serem preliminares, pois o cálculo oficial da atividade econômica do país e dos estados é feito pelo IBGE, analistas da economia estadual e do meio empresarial devem levar em consideração os dados em suas projeções de cenários e tomadas de decisões, visto que o comportamento do PIB dos estados são divulgados com dois anos de atraso. Os economistas da Seplan utilizam a mesma metodologia do IBGE, o que antecipa as tendências econômicas.

A “performance chinesa” da agropecuária mato-grossense foi impulsionada por um ano excepcional da produção de milho,  pecuárias bovina e suína. O milho viveu um ano dourado, embalado pelo aumento do consumo no mercado interno, elevação das exportações, principalmente para a China, e aumento expressivo dos preços pagos aos produtores. No mercado doméstico o milho foi bastante beneficiado pela demanda de rações para produção de carnes ( frangos, suínos e bovinos ) e também pelo aumento da demanda das plantas industriais que produzem etanol à base de milho. No mercado externo, as importações da China atuaram como motor da locomotiva produtiva.. Com forte dependência de carne suína e tendo mais de 40% do seu rebanho dizimado pela peste suína africana, os chineses precisaram importar mais carne bovina e de frango, beneficiando os produtores locais que aumentaram suas exportações. Está tão aquecida a demanda de milho que na safra 2020 é muito provável que a produção de milho supere a de soja em Mato Grosso. A pecuária de corte também teve em 2019 um dos seus melhores anos, com aumento do consumo doméstico, aumento das exportações e elevação de preços.

O setor de serviços, que engloba o comércio atacadista e varejo, serviços financeiros, intermediação bancária, seguros, saúde, educação e serviços públicos, mesmo tendo crescimento menor que o agropecuário, continua sendo o de maior participação na composição do PIB estadual. Segundo dados do estudo da Seplan, o segmento que mais puxou para baixo o crescimento do setor de serviços foi o da administração pública. A administração estadual convive com elevado déficit orçamentário desde de 2015, não conseguindo investir em proporção exigida pela dinâmica da economia local e as prefeituras também apresentaram baixa capacidade investimento.

A nota dissonante continua sendo o baixo desempenho da indústria que apresentou queda de 4,9%, impactado pelo baixíssimo desempenho da construção civil que há 19 trimestres seguidos apresenta desempenho negativo na formação do PIB industrial. A construção civil foi um dos setores mais afetados pela profunda recessão econômica dos últimos anos, ausência de investimentos dos governos federal e estadual e baixa oferta de crédito imobiliário para aquisição de imóveis. No setor industrial, o segmento que melhor performou foi o de biocombustíveis. A indústria do estado enfrenta problemas estruturais que inibe dramaticamente sua produtividade, reduzindo sua competitividade.

O estudo aponta a retomada do ritmo de crescimento do estado acima da média nacional, daí o termo Tigre Pantaneiro, em analogia aos “Tigres Asiáticos”. O lado menos luminoso é a forte dependência que a economia estadual tem da produção de mercadorias agrícolas (agrodependência), muito sensíveis a preços e demanda internacionais.

 

Vivaldo Lopes é economista formado pela UFMT, onde lecionou na Faculdade de Economia.  É pós-graduado em  MBA Gestão Financeira Empresarial-FIA/USP  (vivaldo@uol.com.br)



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