Acredito que nem seja necessário esclarecer o leitor quanto aos significados dos conceitos políticos de ser de “direita” ou militante de “esquerda”, no Brasil de 2019. Mas, para o propósito do artigo, é bom dizer que a Direita prega estado mínimo, liberalismo com possibilidade de negócios sem regulação, detesta leis trabalhistas, benefícios sociais e direitos civis, exceto aqueles que possuam relação com a compra e venda de coisas sem vigilância de governos.
Já a Esquerda possui objetivos de proteger as garantias civis, direitos das minorias, liberdade de ensino e aprendizagem, universidade para todos, sistema de saúde público gratuito à população, concursos públicos e direitos sociais para os trabalhadores. Há uma repulsa da esquerda em relação ao modelo capitalista de acumulação, em que alguns poucos privilegiados, geralmente com a proteção de governos, conseguem acumular terras, empresas e negócios, enquanto a massa populacional morre de fome.
Está em curso em Brasília uma CPMI, Comissão Parlamentar Mista de Inquérito, com o objetivo de investigar as chamadas “fake news”, ou notícias falsas, elementos da pós-verdade, ou no bom português, as mentiras propagadas nos meios de comunicação e redes sociais. Pela gritaria da ala governista no Parlamento, parece que as mentiras propagadas na campanha eleitoral de 2018, inclusive com o uso de dinheiro ilícito para bancar os “bots” (aplicativos robôs usados na difusão das fake news), é possível que seja revelada uma farsa eleitoral de proporções inimagináveis.
A Direita chegou ao poder com a vitória de Jair Bolsonaro numa eleição absolutamente atípica, em que o marketing se valeu de instrumentos novos. Talvez a CPMI constante que não foram ilegais somente os métodos, mas os financiamentos das atividades de propaganda têm origem desconhecida. O fato é que, com a caneta na mão do Jair, houve um ataque sem precedentes a direitos trabalhistas, aposentadorias, direitos sociais, e avança uma pirataria bizarra contra o patrimônio do Brasil.
No mandato presidencial, o gestor ungido pelos setores de direita, incluindo aí os banqueiros, grandes empresários, pastores milionários, empresas de comunicação, setores da maçonaria e parcela dos agentes do sistema de justiça, deflagra um criminoso processo de destruição do Estado. Bastou o COAF descobrir que seu filho Flávio Bolsonaro se tornou um milionário dono de imóveis, com salário de político, e fazia movimentações “atípicas” de dinheiro, que Jair Bolsonaro extinguiu o COAF, transformando-o num puxadinho burocrático, sem autonomia.
Há uma série de evidências de desmandos, inclusive com a ocultação de provas relacionadas ao assassinato da vereadora Marielle Franco - Jair Bolsonaro confessou que se apropriou do sistema da portaria do condomínio que registrou a circulação dos assassinos. Há o esquema de laranjas, uso do Fundo Eleitoral público para fins escusos. Mas vamos nos limitar a mencionar algumas “burradas” econômicas.
A cotação do dólar superou a barreira dos R$ 4 reais, o que implicará na imensa dificuldade dos nossos agricultores, cujos principais insumos (sementes, máquinas, defensivos etc.) são cotados na moeda estadunidense. O gás de cozinha está beirando aos R$ 100,00 o botijão, nas principais cidades e o salário mínimo não está acompanhando o aumento do custo de vida.
A dívida pública, que estava em R$ 640 bilhões em 2004, chega a R$ 4,07 trilhões em agosto de 2019, informa a agência de notícias do governo, a EBC. Trocando em migalhas, o governo que a direita escolheu simplesmente quebrou o país em 10 meses de trapalhadas, e o Brasil caminha para o esfacelamento.
A CPMI deve indicar que a eleição de 2018 foi fraudada, e indicar um processo de impeachment, com novas eleições. É melhor já ir se arrependendo do voto à Direita, porque a gestão é um desastre sob todos os ângulos, além de ser beneficiária de uma eleição ilegítima.
Vilson Pedro Nery é advogado especialista em Direito Público.
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