No começo desta semana o senador recém-eleito Jaime Campos fez declarações delicadas em duas vertentes. Causaram profundo mal-estar no setor do agronegócio. A primeira, que o setor sonega impostos quando declara exportações de grãos que não acontecem. A outra, de que o setor deveria pagar impostos diretamente ao caixa do Estado pra compensar os benefícios da Lei Kandir.
De imediato dois pesos pesados do setor, o ministro Blairo Maggi e o presidente da Aprosoja, Antonio Galvan vieram a público rebater alegando que não se exporta impostos em lugar nenhum do mundo e que mais impostos implicarão na redução da atividade pelo aumento de custos.
Nem o setor do agro está completamente certo e nem o senador eleito. Até porque a declaração feita imediatamente após a eleição está sendo interpretada dentro do agronegócio como represália por não ter financiado a campanha eleitoral ou colaborado financeiramente. Haveria mágoas e vingança, disse-me um importante executivo do setor. A campanha de Jaime Campos ao Senado foi financiada por parcela do fundo partidário e o restante com recursos próprios.
Em 2018 o agronegócio tomou a decisão de não entrar de cabeça na eleição como no último pleito de 2014. Naquele ano financiou pesado muito gente. Ao longo do mandato do governador Pedro Taques o setor se desentendeu com o governante e se não fez oposição, também não o apoiou. O ex-presidente da Federação da Agricultura de Mato Grosso e vice na chapa de Pedro Taques à reeleição, Rui Prado, disse-me recentemente que teve conversas com os principais grupos do agro pedindo contribuições pra campanha de reeleição do governador Pedro Taques.
Ouviu negativas das empresas, segundo elas porque firmaram acordos de compliance e que ficaram proibidas de investir em campanhas eleitorais por conta de futuros riscos políticos, contábeis e arranhões na sua imagem.
Dentro dessa lógica o senador recém-eleito, Jaime Campos, fez as declarações que fez. Se de um lado elas são reais, de outro destilou sua antipatia à arrogância dos empresários do agro. O que se conclui disso tudo? Conclui-se que novos tempos estão vindo pros políticos, pro financiamento de campanhas e pra vida do setor. O setor construiu uma reputação de muito bem sucedido e colocou-se dentro da política desde a eleição do governador Blairo Maggi em 2002, como a jóia da coroa na economia estadual.
Começou a sofrer oposições. E não tem muito cacife eleitoral pra se defender daqui pra frente, sem representantes eleitos em 2018.
Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso
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