• Cuiabá, 21 de Novembro - 00:00:00

Mais um atentado terrorista: até quando?

A modalidade de ataque que atingiu ontem a já sofrida região do memorial do World Trade Center, em Nova York, não mais representa novidade: um motorista desvairado atira-se contra a multidão e deixa invariavelmente um saldo nada desprezível de mortos e de feridos. Até quando assistiremos a este filme?

As reações dos governos dos países atingidos variam, mas as promessas estão sempre centralizadas no reforço policial ou no controle da imigração, chegando até, no atual caso americano, a tentar proibir (ilegalmente) a entrada de cidadãos de determinados países. O tempo está demonstrando claramente que nem as medidas tomadas pelos países europeus, nem o rígido controle americano dão resultados concretos. Por quê?

A resposta deve ser buscada na falta de diálogo. Como dialogar, porém, com quem não está disposto ao diálogo? O problema está no fato de que, em ambos os lados, no das vítimas e no dos terroristas, propor o diálogo representa um sinal de fraqueza, que pode levar à perda de autoridade e de liderança, quer se manifeste na deposição ou eliminação do líder do grupo de militantes armados, quer se manifeste em derrota nas próximas eleições.

A linguagem da violência, portanto, não está apenas no lado dos que cometem os atentados, mas em ambos. O recurso às armas e a atitudes guerreiras constitui ainda a tônica dos discursos das lideranças, mesmo quando não há uma guerra declarada em curso.

O diálogo que é preciso propor, porém, deve ter consistência e não pode se esgotar em retórica inútil e populista. Das palavras deve-se passar subitamente aos fatos, uma vez cessadas as negociações. No caso do terrorismo de matriz fundamentalista islâmica, à mesa deveriam sentar-se urgentemente as lideranças de todos os países árabes, dos principais países europeus e, sobretudo, dos Estados Unidos e de Israel.

A mobilização de lideranças pode, contudo, resultar em um grande fiasco se não houver um contato (pacífico) com os grupos terroristas. A ação violenta tende a esvair-se quando enfrentada com serenidade e com abertura ao diálogo. Para desmobilizar e enfraquecer um grupo violento seria preciso enfrentá-lo não com as mesmas armas, mas com uma sinalização concreta de mudanças, que não devem necessariamente parecer fraqueza ou rendição.

Tudo que se tentou até agora foi baseado em respostas duras e em medidas de exceção que se revelaram inúteis. Mesmo que fosse possível prender ou eliminar todos os elementos mais radicais e violentos, não estaríamos eliminando os fatores que os levam à violência: radicalismo, maniqueísmo, militarização da sociedade, ignorância, facilidade de acesso às armas, desinformação e, last but not least, prepotência dos países ocidentais ricos.

Ao longo dos séculos, todos os conflitos que cessaram pura e simplesmente com a rendição do mais fraco tiveram como consequência a geração de fatores que, mais tarde, levaram a novos conflitos ou a situações de tensão permanente. Os exemplos são muitos, no Ocidente e no Oriente. O melhor modo de solucionar problemas, entre os cidadãos e entre as nações, sempre foi e sempre será o que se desenrola em volta de uma mesa de negociações, desde que os acordos estabelecidos a duras penas não sejam traídos posteriormente e, sobretudo, desde que se passe imediatamente às atitudes concretas, isto é, aos fatos.



Sérgio Mauro é professor da Faculdade de Ciências e Letras da Unesp de Araraquara.



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