Canal de televisão mostrou matéria sobre produção e transporte de soja em uma fazenda em Nova Ubiratã em Mato Grosso e outra em Greenville no estado de Illinois, EUA.
A produção por hectare de soja em MT é 11% maior que nos EUA. Não esquecer que os EUA são os maiores produtores de grãos no mundo. Só de milho produzem mais de 350 milhões de toneladas por ano, maior do que toda produção brasileira de todos os grãos juntos. Não esquecer ainda que os EUA têm os melhores estudos sobre prática agrícola do mundo. Pois bem, MT produz por hectare mais que eles. E aqui ainda se produz mais barato também.
Produtores daquele país vêm a MT constantemente para tentar entender o que ocorre aqui. E quase ninguém no estado ou no país comenta sobre um fato desse porte.
Mas os norte-americanos não têm um mínimo de receio de competição na produção no campo porque é gigante o nosso problema na logística de transporte. Na fazenda de lá tomam minutos para levar por caminhão os grãos para os silos. Dali para as barcaças é um pulo para transporte pelo rio.
No caso da fazenda em Nova Ubiratã o calvário é enorme. Carretas até Roo ou Alto Araguaia, dali por ferrovia ao porto de Santos. Leva-se uma semana de um ponto a outro. Aparece na matéria um entendido em logística de transporte nos EUA dizendo, com certo ar de deboche, que as ferrovias aqui seriam como as dos EUA lá por 1850.
Nos EUA, por causa do transporte eficiente, sobra no bolso do produtor 130 dólares a mais por tonelada de soja vendida do que no do produtor de MT. Multiplique isso por milhões de toneladas produzidas no estado e veja quanto o produtor perde por ano.
A inciativa privada no campo funciona em MT. Funciona também a Fundação MT que cria os novos cultivares. Fico encabulado como no estado ou no país não se divulga o trabalho dessa Fundação. Encabula também como a Unemat e a UFMT não participaram com praticamente nada nesse boom no campo. Encabula mais ainda ver a incompetência do setor público em resolver a aguda falta de transporte.
Nos EUA boa parte do transporte de grãos é por hidrovias. MT poderia ter, com eclusas e outros trabalhos de engenharia, as hidrovias Teles Pires-Tapajós, Araguaia-Tocantins e Paraguai-Paraná (esta não necessita obras, só um novo porto). Quando se fala em hidrovias aparecem gentes dos EUA fantasiadas de defensores do meio ambiente para atrapalhar qualquer trabalho nesse sentido. Por que não impedem as de lá?
A do Mississipi, a maior de todas, passa nos Bayous ou o Pantanal deles, um meio ambiente sensível. Aqui é pecado mortal só de falar em hidrovia. Lá não, por isso a competição é desigual. A ADM, Bunge, Cargill e Dreyfus, que sabem como a coisa funciona nos EUA, deveriam ajudar para a coisa funcionar aqui também.
Alfredo da Mota Menezes escreve nesta coluna semanalmente.
E-mail: pox@terra.com.br site: www.alfredomenezes.com
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