• Cuiabá, 21 de Novembro - 00:00:00

Quatro a três

O resultado da votação da cassação da chapa Dilma/Temer pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral), no dia 9 de junho, acabou com o resto de autoestima que o bom brasileiro ainda tinha. Fazendo um paralelo com o futebol, ao conversar com as pessoas eu revivi o clima dos sete a um sofridos por nossa seleção no jogo contra a Alemanha no dia 8 de julho de 2014, durante a Copa do Mundo.

Quatro a três no futebol é um resultado apertado, mas quatro a três da forma escandalosa que foi na justiça eleitoral é uma enorme goleada do “jeitinho brasileiro” sobre a ética e a moral de tudo que acreditamos. Até mesmo porque acredito que ninguém duvida que se na cadeira da presidência ainda estivesse sentada a Dilma, o resultado teria sido outro muito diferente. Logo não foi um julgamento, foi um ajeito escandaloso.

O triste disso tudo é a total ausência de passeatas vermelhas ou verde e amarelo nas ruas protestando. Não ouvi carro de som gritando que é golpe e nem panelas batendo durante o Jornal Nacional, por que será? Fica claro nem todos os gritos que param o serviço público em pleno dia de semana, ou passeateiros coloridos de finais de semana, querem um país melhor. Querem apenas ocupar o poder para dele serem beneficiados.

Como afirmou o ex-presidente dos Estados Unidos da América, John Kennedy, “a vitória tem mil pais, mas a derrota é órfã”. É este o sentimento. O cidadão cumpridor de seus deveres, pagador de impostos e respeitador das normas estão momentaneamente órfãos. O parlamento está presidido por Eunicio Oliveira no Senado e Rodrigo Maia na Câmara. O TSE sob o comando de Gilmar Mendes e a presidência nas mãos de Michel Temer. Quer mais ou acha pouco?

Muitas perguntas ficarão para a história responder. Quais interesses ou comprometimento moveu cada árbitro de toga para falar o que falaram e para votar como votaram? Por que o resultado da votação (4 a 3) já era conhecido mesmo antes do relator se pronunciar? Por que de ministros se exaltaram e bateram boca sob as luzes das câmeras de televisão para o mundo todo ver? Descontrole ou teatro?

Tudo o que vem ocorrendo com o Brasil e com os brasileiros é muito perigoso, pois as sentenças criam culturas comportamentais. Como afirmou o filósofo existencialista alemão Friedrich Nietzsche: “Em uma grande vitória, o que existe de melhor, é que ela tira do vencedor o receio de uma derrota”. Podemos afirmar que a cultura de que pode errar que depois se dá um jeito está sedimentado e reforçado agora também pelo judiciário brasileiro.

Como educar as próximas gerações para o que é certo ou errado, o que é público ou o que é privado, o que é verdade e o que é mentira, o que é honra e o que é insensatez quando os homens dos supra poderes constituídos se locupletaram de ignomínia

Apesar de eu acreditar que o voto é sagrado e a eleição imprescindível para a democracia, que ninguém venha com a lengalenga de que uma eleição direta agora ou apenas em 2018 irá fazer o Brasil melhorar. Não vai, pois não temos instituições melhores, não temos uma educação melhor, não temos um eleitor melhor e os melhores brasileiros, não tenho dúvida, já são minoria.

O que houve no dia 9 de junho de 2017 foi uma violência sobre o bom cidadão. Como afirmou o filósofo Jean Paul Sartre, “a violência, seja qual for a maneira como ela se manifesta, é sempre uma derrota”. Temer/Dilma venceram, mas o Brasil foi derrotado. Foi impiedosamente goleado pela desfaçatez e desonra daqueles que deveriam dignificar o cargo que exercem e o salário que recebem.

Mas precisamos encontrar forças para educarmos as próximas gerações, educar as pessoas, educar nossos filhos e acharmos caminhos onde não temos, pois assim como afirmou Theodore Roosevelt, “é muito melhor arriscar coisas grandiosas, alcançar triunfos e glórias, mesmo expondo-se a derrota, do que formar fila com os pobres de espírito que nem gozam muito nem sofrem muito, porque vivem nessa penumbra cinzenta que não conhece vitória nem derrota”.

 

João Edison é Analista Político, Professor Universitário em Mato Grosso



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