• Cuiabá, 21 de Novembro - 00:00:00

A guerra de vaidades no mundo da comunicação

A guerra de vaidades que tomou conta da categoria de profissionais em jornalismo nas últimas décadas tem imposto regras que impedem a difusão de notícias e favorecem a indústria da venda de informação. De um lado assessores de imprensa que pensam que podem escolher sempre onde divulgar seu material. De outro, repórteres e editores que acreditam ser os mandatários dos veículos e os donos da verdade.

Vivemos, então, uma dicotomia burra. Repórteres e editores precisam de fontes ao mesmo passo em que assessores precisam de voz e de holofotes para seus clientes. A questão não está em saber quem beneficia quem, mas em ater-se a regra de que os dois lados fazem parte de uma só moeda: o jornalismo. Não se faz reportagem sem que se tenha informação. Não se publica “verdades e certezas” sem que se tenha veículo.

Esquecemos que os assessores mais experientes foram repórteres em redações de ontem. Fingimos não ver que as assessorias são hoje as grandes portas de emprego para jornalistas. Vivemos a estagnação das redações e a não renovação do quadro de pessoal. Os grandes veículos continuam a demitir profissionais todos os dias. Seja no Rio, em São Paulo ou Brasília, grandes capitais até ontem contratadoras de jornalistas, ou em cidades do interior do país, a grande manchete publicada versa: “Não há vagas.”

Precisamos deixar de acreditar que são sempre os outros que precisam de nós e de nossos produtos. Temos de lembrar que a via é de mão dupla: precisamos das assessorias porque queremos personagens e especialistas em temas variados a cada matéria que redigimos. Elas precisam de nós, caso contrário, estarão fadadas a feitura de house-organs e clippings. Precisamos viver a democracia da informação e da gestão editorial se quisermos, de fato, levantar bandeiras de ordem e progresso no jornalismo brasileiro.

Não podemos mais perder tempo com picuinhas baratas. A carência de informação de qualidade é comprovadamente fruto das guerras entre profissionais de comunicação. Eticamente aprendemos, nos bancos das faculdades, que a preservação da verdade, ainda que subjetiva, e a apuração de fatos através de fontes idôneas – se possível na investigação junto a especialistas, é fator primário a ser observado na apuração de qualidade.

Certa vez um professor de Redação e Edição de Jornais, das Faculdades Integradas Hélio Alonso (RJ), disse em alto e bom som: “jornalistas são profissionais desinformados quando recebem suas pautas, por isso, precisam da investigação detalhada e prudente da informação sugerida para que redijam com qualidade e isenção. Mais que isso, precisam a cada minuto se embriagar da leitura, ainda que de bulas de remédio. Precisam ser colegas para trocarem informações e detalhes. Uma pauta só se esgota quando diz a que veio. Informação, boa rede de relacionamento e prudência nunca são demais.”

Portanto, fica claro que precisamos uns dos outros. Somos todos farinha de um mesmo saco. Somos seres famigerados carentes de informação, fontes, verdades e de espaço para veiculação de nosso material. Fazemos parte de uma categoria que precisa aprender, o quanto antes, a se transformar em comunidade. Quando aprendermos a olhar para o colega sem enfrentamento poderemos dizer que aprendemos a ser jornalistas, estejamos em redações ou em assessorias.


Robson Fraga é jornalista, assessor de imprensa em Mato Grosso



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