Joseph Couri
A tão esperada reforma tributária no Brasil, vendida como uma solução moderna e justa, começa a mostrar seu verdadeiro impacto, e ele está longe de ser positivo para as micro e pequenas empresas. A promessa de simplificação e justiça fiscal, até aqui, não se concretiza para quem mais precisa de previsibilidade: os pequenos negócios que compõem a espinha dorsal da economia nacional.
Um dos pilares do empreendedorismo formal no Brasil, o Simples Nacional, não foi adequadamente contemplado na nova estrutura. O governo afirma que as empresas poderão optar por outros regimes tributários. Mas sejamos francos: isso é, na prática, uma carta branca para a extinção gradual do Simples. É como sugerir que se abandone o único sistema que historicamente trouxe formalização, aumento de arrecadação e inclusão produtiva para milhões de empreendedores.
O cerne da questão é simples: teto de enquadramento do Simples não foi ajustado. E mais grave ainda, as empresas optantes não poderão repassar a integralidade do crédito tributário na cadeia. Isso significa, na prática, perda de competitividade. Como esperar que um empreendedor de microempresa enfrente o mercado com as mesmas regras dos grandes, mas com menos ferramentas?
Segundo a pesquisa nacional realizada pelo SIMPI, 42% dos empresários das micro e pequenas indústrias sequer ouviram falar da reforma tributária aprovada. E apenas 8% afirmam estar bem informados. Isso não é um dado isolado, é sintoma de um processo conduzido sem escuta ativa e sem transparência para os que mais serão afetados. Para mais de 50% dos entrevistados, a reforma "não irá nem beneficiar nem prejudicar o próprio negócio" ou "não sabem opinar". Um país em que o empresariado desconhece a principal mudança tributária das últimas décadas é um país com sérios problemas de comunicação institucional no debate público.
Além disso, ainda nem sequer foi aprovado o chamado "segundo braço" da reforma, o que inclui cláusulas, alíquotas, incentivos e excepcionalidades. Mesmo assim, diversas obrigações passam a valer já em 2026. Como planejar investimentos ou adaptar sistemas se nem ao menos sabemos "quanto, como e por que" vamos pagar? Não existem hoje sistemas informatizados para os pequenos negócios. Enquanto multinacionais contam com soluções robustas como o SAP, os pequenos ainda não sabem nem por onde começar. Isso não é modernização, é improviso.
É necessário perguntar: que tipo de país queremos construir? Um Brasil que penaliza o empreendedor de pequeno porte, que empurra para a informalidade e que ignora a base de sua estrutura produtiva, ou um país que reconhece a importância estratégica dessas empresas para o desenvolvimento sustentável, a geração de empregos e a inovação local?
O SIMPI reitera seu compromisso com o diálogo institucional, mas é preciso dizer com todas as letras: da forma como está sendo conduzida, a reforma tributária deixa os pequenos para trás. Não se pode aceitar que uma das histórias de maior sucesso da política pública brasileira, o Simples Nacional, seja abandonada à própria sorte em nome de uma modernização que só atende aos grandes.
É hora de escutar quem está na ponta. E, principalmente, de agir com responsabilidade antes que seja tarde.
*Joseph Couri é presidente do SIMPI Nacional - Sindicato da Micro e Pequena Indústria do Estado de São Paulo, entidade que há 36 anos atua na defesa e no fortalecimento das micro e pequenas indústrias brasileiras. Desde a fundação do SIMPI em 1988, Couri tem liderado iniciativas para ampliar a representatividade e os serviços oferecidos aos pequenos industriais.
Sob sua liderança, o SIMPI expandiu sua atuação para todos os estados brasileiros como associação civil e iniciou presença internacional em países como Estados Unidos, Japão, China e Portugal.
Ainda não há comentários.
Veja mais:
VG: Prefeitura alerta sobre golpes em programas habitacionais
Ciência não se faz com muros
TJ: banco não poderá descontar valores de aposentadoria de idoso
Por negativa de seguro, TJ suspende cobrança de financiamento
Quando a ordem da vida se desfaz: o luto pela perda de um filho
Governo garantirá gás de cozinha gratuito para 17 milhões de famílias
Flávia debate com MPE criação de Comitê para Recuperação de Ativos
Em Brasília, Wellington e representantes do PL se reúnem com Bolsonaro
Parceria: TCE anuncia Seminário Internacional de Direito Financeiro e Tributário
Receita paga nesta quinta terceiro lote de restituição do IR de 2025