• Cuiabá, 24 de Junho - 2025 00:00:00

Como transformar uma atividade empresarial em notícia


Vera Lucia Rodrigues

A resposta a essa questão passa por uma discussão sobre o Futuro da Assessoria de Imprensa que passa por uma necessidade premente de reinvenção e estratégia, já que o assessor de imprensa está na linha de frente dessa transformação de uma atividade empresarial em comunicação. É ele quem precisa traduzir as complexidades dessas práticas para a imprensa e o público. A capacidade de comunicar com autenticidade e consistência o compromisso da organização com a sustentabilidade e a responsabilidade social será um pilar fundamental da reputação futura.

Como jornalista com décadas de formação e atuação fui testemunha ocular e agente de uma grande evolução, ou melhor, de uma grande revolução na comunicação. Viemos do telex à IA em uma velocidade inacreditável e difícil de ser acompanhada. E se há uma área que se reinventou profundamente, essa é a da assessoria de imprensa. Longe de ser um mero "correio de releases", o assessor de hoje — e, principalmente, do futuro — é um estrategista, um guardião da reputação e, arrisco dizer, um jornalista, na acepção exata do termo, dentro da organização.

A prática do release como elemento central do trabalho de assessoria ou o velho modelo de "empurrar" comunicados para as redações está, felizmente, obsoleto. A atenção dos jornalistas hoje, mais do que em qualquer época, é um artigo de luxo, e o tempo, um recurso escasso e difícil de ser disputado. Ninguém mais tem paciência para releases abrangentes e sem informação efetiva. O que deve ser valorizado, e o que o mercado exige hoje, é relevância, conteúdo bem apurado e, acima de tudo, um bom relacionamento que atribui credibilidade à informação que está sendo compartilhada.

Hoje não tenho dúvida da mudança do papel do assessor, que se constitui mais um curador de informações do que um criador de conteúdo sem foco no mercado de jornalismo, e no que cada um espera e precisa receber para as suas respectivas editorias. Ele não espera a pauta cair no colo; ele busca a informação e constrói a pauta adequada para o jornalista do outro lado, na redação, identificando ângulos noticiosos dentro da própria organização e, mais importante, sabendo como "empacotar" essa informação para diferentes editorias e plataformas. O assessor precisa ser um jornalista em tempo integral dentro da empresa, com a missão de traduzir a complexidade corporativa em narrativas acessíveis e interessantes para cada veículo que pretende alcançar.

O valor irredutível do assessor nesses novos tempos reside no entendimento preciso sobre o seu cliente para criar textos interessantes a partir da já mencionada curadoria estratégica, com a construção de relacionamentos genuínos com jornalistas e influenciadores, com fluxos de trabalho adequados, liberando tempo para o que realmente importa: o pensamento estratégico e a conexão humana, sem esquecer, evidentemente, a questão ética, sem a qual nenhuma atividade nessa área consegue persistir e obter sucesso, especialmente quando se verifica a diminuição dos espaços na mídia tradicional, combinada com uma busca incessante por credibilidade.

A ética agregada ao conteúdo da marca não é uma tendência passageira, mas sim uma estratégia central especialmente para garantir que o conteúdo, produzido por uma empresa, mantenha a credibilidade e não seja percebido apenas como publicidade disfarçada. Nesse sentido, o assessor de imprensa tem um papel crucial na manutenção da transparência e da autenticidade. Ele será, cada vez mais, o editor-chefe de blogs corporativos, canais de vídeo e podcasts da marca, assegurando que o "jornalismo de qualidade", mesmo com um viés, seja produzido.

O público hoje está pulverizado. Não se trata mais apenas da TV, rádio e jornal e revistas. Redes sociais, microinfluenciadores, podcasts e comunidades online fragmentaram a atenção. O assessor não pode mais se restringir aos jornalistas tradicionais; ele precisa se conectar e engajar com um universo muito mais amplo, tornando o futuro da assessoria de imprensa altamente desafiador e, ao mesmo tempo, empolgante. Nossos tempos exigem adaptabilidade, visão estratégica e, sobretudo, um profundo entendimento da notícia e do comportamento humano. Para o profissional que abraça essa reinvenção, o horizonte é vasto e cheio de oportunidades para construir valor e reputação em um mundo cada vez mais conectado e exigente.

 

*Vera Lucia Rodrigues é jornalista profissional e mestre em comunicação social pela Universidade de São Paulo, e pertence ao universo 70+. É diretora da Vervi Assessoria de Comunicação, empresa que há 43 anos atua na área de comunicação corporativa. veralucia@grupovervi.com.br 




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