Daniela Vial
Medicamentos como Ozempic, Saxenda, Wegovy e Mounjaro se tornaram amplamente conhecidos nos últimos anos. Desenvolvidos inicialmente para tratar o diabetes tipo 2, esses fármacos ganharam notoriedade por promoverem também a perda de peso — um efeito que, embora não fosse o objetivo original, passou a ser amplamente explorado.
Essas chamadas "canetas emagrecedoras" agem no organismo simulando a ação de hormônios naturais que regulam o apetite, a saciedade e os níveis de açúcar no sangue. Funcionam como mensageiros que orientam o corpo a reduzir a ingestão alimentar e a melhorar o controle glicêmico. Porém, essa popularização, muitas vezes impulsionada por redes sociais e celebridades, gerou o uso indiscriminado dos medicamentos, sem indicação médica adequada — o que pode representar sérios riscos à saúde.
A semaglutida, presente no Ozempic e no Wegovy, atua estimulando a produção de insulina pelo pâncreas, diminuindo a liberação de glicose pelo fígado e retardando o esvaziamento gástrico, o que aumenta a sensação de saciedade. Embora tenham o mesmo princípio ativo, os dois medicamentos são distintos: o Ozempic é indicado para o tratamento do diabetes, enquanto o Wegovy foi aprovado com foco no emagrecimento, em doses mais altas. Já o Saxenda, que contém liraglutida, também age no sistema nervoso central, reduzindo a fome. O Mounjaro, por sua vez, combina duas ações hormonais que ajudam tanto no controle glicêmico quanto na perda de peso e, em sua versão Zepbound, é usado especificamente para emagrecer.
Apesar de promissores, esses medicamentos não são livres de efeitos colaterais. Náuseas, diarreia, vômitos e dor abdominal são comuns no início do tratamento, quando o corpo ainda está se adaptando. Além disso, há riscos mais sérios, embora menos frequentes, como inflamação do pâncreas, problemas na vesícula biliar, hipoglicemia, desidratação e reações alérgicas. Há também a possibilidade de interferência com outros medicamentos, como anticoncepcionais, além de contraindicações em casos específicos de saúde. Por isso, o acompanhamento médico é essencial — tanto para avaliar se o uso é realmente indicado quanto para monitorar o progresso e os efeitos adversos.
Com a crescente busca por esses medicamentos para fins estéticos, sem indicação clínica adequada, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) atualizou a regulamentação. Agora, é obrigatório apresentar receita médica, que deve ser retida na farmácia para a compra de medicamentos como Ozempic, Saxenda e Wegovy — incluindo suas versões manipuladas. Essa medida visa conter o uso indevido e proteger a população de riscos desnecessários.
Nesse contexto, o papel do farmacêutico é mais relevante do que nunca. Ele é o profissional que recebe o paciente na farmácia, esclarece dúvidas, orienta sobre a aplicação correta da caneta, os cuidados com armazenamento, os efeitos adversos mais comuns e as interações com outros medicamentos. Pode, ainda, identificar situações em que o paciente precisa retornar ao médico para ajustes na prescrição. Mais do que dispensar o medicamento, o farmacêutico atua como elo entre o tratamento e o uso seguro, ajudando a garantir a eficácia da terapia e a minimizar riscos.
Medidas simples também podem contribuir para uma melhor adaptação ao tratamento: fazer pequenas refeições ao longo do dia, evitar alimentos gordurosos e beber bastante água ajudam a reduzir os efeitos adversos. Em alguns casos, com orientação profissional, o uso de medicamentos auxiliares de venda livre pode aliviar sintomas como enjoo e desconforto abdominal.
É fundamental entender que esses medicamentos não são uma solução milagrosa. O sucesso do tratamento depende de uma abordagem multidisciplinar, com orientação médica, apoio farmacêutico e mudanças no estilo de vida — como alimentação equilibrada e prática regular de atividade física. Além disso, a interrupção do uso costuma levar à recuperação do peso perdido, o que exige disciplina e planejamento a longo prazo.
Estamos diante de ferramentas terapêuticas valiosas, especialmente para pacientes com obesidade e/ou diabetes. Mas seu uso exige responsabilidade. A informação correta e a atuação integrada dos profissionais de saúde são fundamentais para garantir que os benefícios desses medicamentos sejam alcançados com segurança.
Portanto, antes de iniciar o uso de qualquer uma dessas "canetas", converse com seu médico. E, ao retirá-la na farmácia, procure seu farmacêutico de confiança. Ele é seu aliado na jornada pela saúde — pronto para orientar, esclarecer dúvidas e acompanhar seu tratamento de forma segura, eficaz e responsável.
*Daniela Vial é farmacêutica, especialista em Análises Clínicas pela Universidade de Cuiabá. Mestre em Biociências – subárea Metabolismo – pela Universidade Federal de Mato Grosso. É conselheira e tesoureira do Conselho Regional de Farmácia de Mato Grosso (CRF-MT).
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