Wolney Arruda
Poderia ser uma novela mexicana, daquelas com reviravoltas a cada intervalo comercial. Mas segue os parâmetros do "Tio Sam", uma série de Hollywood, com orçamentos bilionários, egos inflados, efeitos colaterais globais e um protagonista que adora incendiar o roteiro pelas redes sociais. Donald Trump voltou à cena com mais um capítulo do tarifaço — como sempre sem avisar os roteiristas da economia mundial.
Desta vez, o ataque foi direto: tarifas sobre produtos chineses subiram para 125%, com aplicação imediata. A justificativa? A tal "falta de respeito" da China com os mercados mundiais. Enquanto isso, vários países ganharam um alívio temporário — entre eles, o Brasil, que permanece com uma tarifa fixada em 10%. Para quem acompanha esse tabuleiro há algum tempo, nada surpreende: Trump joga no caos, aposta no impacto e, não raro, colhe dividendos eleitorais com o barulho.
O mercado, como sempre, reagiu com oscilação e nervosismo. Mas no Brasil, curiosamente, o Ibovespa fechou em alta, impulsionado pelas ações da Vale e da Petrobras. Um alívio pontual em meio ao vendaval global, mas que sinaliza uma leitura pragmática dos investidores: onde há crise, há também oportunidade.
E é aí que entra o agro. Se há algo que esse setor aprendeu, é encontrar espaço em meio ao colapso alheio, também chamado de resiliência. Durante o primeiro governo Trump, quando o embate com a China esquentou, a soja brasileira disparou para patamares históricos — justamente porque a China precisou buscar no Brasil o que parou de comprar dos EUA. A lógica agora é a mesma. Com o novo tarifaço, os chineses vão cortar ainda mais as compras dos americanos. E quem está na linha de frente para assumir esse espaço? BRASIL!
Soja, milho, proteínas animais como carnes bovina e de frango devem surfar nessa onda. Os europeus também podem redirecionar as importações. Não por solidariedade, mas por necessidade. Já produtos como café e laranja, mais dependentes do mercado americano, tendem a enfrentar uma travessia mais turbulenta. Mas mesmo nesses casos, uma tarifa de 10% ainda é um refresco diante do muro tarifário imposto aos chineses.
Mais que isso: se a nova configuração perdurar, há quem projete até a migração de indústrias globais para o Brasil. Afinal, exportar para os EUA com uma tarifa de 10% começa a parecer um bom negócio diante dos 125% cobrados de outros países. O Brasil pode deixar de ser só fornecedor de matéria-prima e passar a ser alternativa estratégica para manufatura com acesso ao mercado americano.
No câmbio, o efeito foi imediato. Com os mercados tensos e investidores correndo para o dólar como porto seguro, a moeda americana ultrapassou R$ 6,05. Para o exportador rural, isso significa mais reais por tonelada vendida. Um alívio em meio à escalada dos custos e à pressão sobre as margens. É verdade que os insumos importados ficam mais caros — mas no saldo final, o agro ganha tração.
Já no cenário dos juros, o sinal amarelo acendeu. Em um cenário mais instável, o dinheiro fica mais caro. Aquela curva de queda da Selic que parecia desenhada para os próximos 12 a 24 meses agora pode ser adiada, ou melhor, cancelada. Isso deve influenciar em um insumo fundamental do agro- o crédito.
O tarifaço de Trump está longe de ser o último episódio dessa série. Pode ser que, como antes, os protagonistas sentem à mesa, negociem, encenem uma trégua e tudo volte ao "normal". Pode ser que não. O fato é que, neste capítulo atual, o agro brasileiro tem uma janela de oportunidade escancarada diante dos olhos. Quem estiver preparado para entrar em cena, tende a sair fortalecido quando os créditos subirem.
*Wolney Arruda é administrador de empresas e Presidente do Plantae Agrocrédito, que está no mercado há mais de 20 anos com atuação financeira. Com sede em Presidente Prudente/SP, está presente em vários segmentos do agro e tem parcerias com grandes empresas do ramo de pecuária, como MFG, Marfrig e Minerva, setor sucroenergético, com Tereos, Cofco, Adecoagro, Cocal, Grupo CMAA, CMNP, Usina Jacarezinho, Energética Santa Helena, Viterra Bioenergia, ATVOS, setor de citrus, com a Citrosuco, além do segmento de grãos com COFCO, ADM, Cargill, entre outras.


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