Victor Missiato
A mais recente discussão entre os presidentes Volodymyr Zelensky (Ucrânia) e Donald Trump (EUA) na Casa Branca, em Washington, evidenciou mais uma tentativa de acelerar o fim da guerra por parte do chefe de Estado norte-americano. Diferentemente de seus discursos eleitorais, que previa acabar com o conflito entre ucranianos e russos em poucos dias, Trump vem apostando alto em táticas discursivas e movimentos políticos para conseguir, pelo menos, um cessar-fogo na atual conjuntura.
A cada semana, Trump pressiona Zelensky a se posicionar como o lado derrotado da guerra e assumir o resultado como uma forma de sobrevivência do que ainda restará da Ucrânia. O pensamento de Trump é que uma guerra sem fim favorece cada vez mais a China na Europa Oriental e Ásia Central, pois bloqueados geopolítica e economicamente no Ocidente, os russos se encontram cada vez mais dependentes dos interesses de Xi Jinping.
O cálculo trumpista é relativamente simples: a Europa, em decadência econômica, demográfica e asfixiada pelo aumento da energia derivado da guerra, não possui uma posição privilegiada nas mesas de negociações. Uma aliança russo-chinesa enfraquece a posição dos EUA no Oriente, onde a grande fatia do PIB global está migrando. Avesso à guerra e favorável à ampliação do poder comercial estadunidense, Trump recorre à História para colocar a parte oriental da Ucrânia no radar geopolítico do Império Russo, que desde o século XIX vem se tornando cada vez menor.
Ademais, a estratégia conservadora de Trump é atrair cada vez mais as culturas religiosas abraamicas para um consenso de preservação e diálogo possíveis, criando novas pontes entre Arábia Saudita (islamismo), Israel (judaísmo) e Rússia (cristianismo ortodoxo). Com isso, a ideia de Ocidente se espraiaria para as fronteiras com a China, dificultando sua criação de uma grande Nova Rota da Seda. O que aconteceu com a desistência do Panamá desse acordo com os chineses foi uma pequena, mas significativa, amostra do gambito de Trump, que possui apenas quatro anos para reorientar o grande xadrez global.
Victor Missiato é professor de História do Colégio Presbiteriano Mackenzie, Tamboré. Doutor em História e analista político.
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