Claiton Cavalcante
Nesses últimos dias temos acompanhado perplexos o drama da população da região sul do país, em maior grau dos nossos irmãos gaúchos. Para os que enxergam tal flagelo apenas pelos meios de comunicação talvez nunca saberão o que realmente aqueles seres, inclusive irracionais, vivenciaram.
Mesmo que em situações como essa, de extrema devastação e desgraça surgem ações de todos os tipos. A maioria delas eivadas de empatia, altruísmo e resiliência.
Temos visto ações voluntárias de pessoas e entidades, ações essas desprovidas de qualquer interesse futuro cujo objetivo principal é tão somente salvar vidas e os poucos bens materiais que restaram.
São ações que nos comovem. Ou você não fica comovido quando um semelhante deixa de alimentar um filho para alimentar aquele que está vendo pela primeira vez?
E quando uma mãe com bebê de colo, presa nas águas, grita pedindo socorro para que os voluntários salvem somente a criança. Não é comovente?
Você tem noção do que é ver o caixão no qual estava sendo velado o ente querido, boiando sobre as águas barrentas? Isso aconteceu, durante aquela que é considerada a maior enchente ocorrida no Rio Grande do Sul.
Como também sobre o relato do Bombeiro que narra o resgate de três crianças em um bote. Uma delas, ao avistar uma boneca boiando na água, implora ao socorrista para salvá-la. Ao se aproximar, o que se revela não é um brinquedo, mas sim o corpo de um bebê, vítima da fúria das inundações.
Mas na contramão desses bons exemplos e dramas não podemos perder de vista a existência de ações com muito interesse posterior... talvez eleitoreiro... talvez midiático... talvez...
Pois em meio as provações, muitas pessoas enquanto degustam uma taça de vinho e usam as redes sociais para difundir discursos interesseiros e não verdadeiros, permanecem no conforto de seus aposentos.
Sem contar a milenar história da arrogância, instinto de dominação e ganância do ser humano. Porque se dizem tão inteligentes ao construírem diques, barragens e adivinham previsões meteorológicas, mas que num piscar de olhos são facilmente derrotados pela força da natureza.
Ademais, são nos momentos de dor que se revela o melhor e o pior de cada um de nós. Pois já dizia os antigos "dê poder ao prisioneiro que ele se rebelará contra o tutor".
Na passagem bíblica do discípulo Lucas é dito que devemos vender o manto para comprar uma espada (Lucas 22:36).
E dado a quantidade de relatos de ações inescrupulosas como por exemplo, criminosos pedindo por socorro e que ao entrarem nos barcos assumem o controle da embarcação, jogam os ocupantes nas águas, para em seguida, usar as embarcações para atacar vítimas e residências.
Prevendo essa malvadeza um dos comerciantes e morador de uma das cidades atingidas após perder quase tudo que tinha, se viu obrigado a permanecer em seu estabelecimento comercial empunhando arma de fogo para (no pensamento dele) evitar o roubo do pouco que restou.
Esse morador, literalmente teve que cumprir o mandamento bíblico vendendo o manto para comprar a garrucha e continuar lutando contra as intempéries e aproveitadores da desgraça alheia.
Mas esses bravos, fortes e destemidos que guardam o lema da liberdade, igualdade e humanidade, mesmo com todo sofrimento enfrentado serão capazes de agir como o Bom Samaritano, que mesmo chagado ainda curou a orelha de Malco.
Até porque, mesmo que exista os malfeitores, aproveitadores, saqueadores e sicários, esses estão com os dias contados face a proximidade do término da fase de provas e expiações.
Portanto, que a cidade de São Leopoldo, uma das mais atingidas por essa singular catástrofe, seja novamente reconstruída e unificada assim como sonhou o "apóstolo da união dos cristãos", São Leopoldo Mandic.
Claiton Cavalcante é Membro do Instituto dos Contadores do Brasil - ICBR.
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