• Cuiabá, 03 de Dezembro - 00:00:00

Quando o líder de Israel relativizou a culpa de Hitler no Holocausto


Por Ricardo Noblat/Blog do Noblat/Portal Metrópoles

Em outubro de 2015, já como primeiro-ministro de Israel e às vésperas de uma viagem a Alemanha, Benjamin Netanyahu relativizou a culpa de Hitler no Holocausto, que dizimou 6 milhões de judeus, ciganos, poloneses e gays durante a 2ª Guerra Mundial.

Seu discurso em um congresso sionista correu o mundo e foi alvo de duras críticas, tanto mais por ser ele filho de um historiador e saber como tudo acontecera de fato. Hitler, segundo Netanyahu, não queria exterminar os judeus, mas expulsá-los da Europa.

O pai da “Solução Final” teria disso o mufti de Jerusalém, Haj Amin Al-Husseini, um líder religioso mulçumano, mais tarde procurado pelo Tribunal de Nuremberg por crimes de guerra, e que não queria colher os judeus na Palestina, contou Netanyahu.

Hitler então perguntou ao mufti:

“E o que eu faço com eles [os judeus]?”

Ao que o mufti, reproduziu Netanyahu, teria respondido:

“Queime-os”.

A reportagem da televisão portuguesa sobre o assunto mostra Netanyahu na Alemanha ao lado da primeira-ministra Ângela Merkel e da atual presidente da Comunidade Econômica Europeia, Ursula von der Leyen, que em junho último esteve com Lula, em Brasília.

Ah, Lula, de propósito ou não, você pediu para apanhar quando comparou a matança promovida pelo governo de Israel em Gaza com a matança em escala industrial dos judeus na Alemanha de Hitler. Não poderia ter comparado com tantas outras? A história está repleta delas.

Em outubro passado, no início da guerra Israel x Hamas, com os palestinos no meio, desarmados, tangidos para lá e cá por mísseis e bombas de alta ou de pouca precisão, o presidente da Turquia, Tayyip Erdogan, disse sobre Netanyahu o que Netanyahu jamais ouvira.

Disse, por exemplo, que o primeiro-ministro de Israel não é diferente do que foi Adolf Hitler, e comparou os ataques de Israel a Gaza ao tratamento dado pelos nazistas ao povo judeu. Netanyahu ficou furioso com Erdogan, mas não o declarou persona non grata a Israel.

Pelo que se vê, a crise diplomática provocada por uma fala improvisada de Lula repercute mais aqui do que em Israel, e tão cedo o barulho cessará. Os principais jornais do mundo publicaram notícias a respeito, mas por ora não editoriais ou artigos de opinião.

O governo israelense convocou o embaixador do Brasil para dar-lhe uma reprimenda pelo que disse Lula: o governo brasileiro convocou o embaixador de Israel com o mesmo objetivo. Coletivos de judeus se dividiram, uns acusando Lula de antissemitismo, outros o apoiando.

Lula pode ter arriscado sua credibilidade, mas a do Itamaraty está intacta. Não foram os diplomatas que aconselharam Lula a agir como ele agiu. Diplomatas americanos aconselharam o presidente Joe Biden a ser mais duro com Israel, e ele não é. Pode ser derrotado também por isso.

As relações do Brasil com os países democráticos não esfriaram com a fala de Lula, e não há sinais de que esfriarão. Os Estados Unidos estão às vésperas de apresentar à ONU uma resolução que, pela primeira vez, pede o cessar-fogo em Gaza “o mais rápido possível”.

Lula não pedirá desculpas pelo que disse, mas por meio de Janja, sua mulher, explicou o que quis dizer. Ela postou nas redes sociais:

“[…] Tenho certeza que se o Presidente Lula tivesse vivenciado o período da Segunda Guerra, ele teria da mesma forma defendido o direito à vida dos judeus. A fala se referiu ao governo genocida e não ao povo judeu. Sejamos honestos nas análises.”

Agora, afirmar que Israel está numa campanha de bombardeios apenas contra o Hamas, e adotou medidas para reduzir a morte de civis, é uma grossa mentira. Israel – ou melhor: seu governo de extrema-direita – pratica um genocídio; o que envergonha a maioria dos judeus.




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