Rafaela Maximiano
Soraya Maria Cândida do Amaral, 30 anos, é uma voz incansável na defesa dos animais em Cuiabá. Voluntária dedicada por uma década no Projeto Lunaar, ela compartilhou para a Entrevista da Semana a urgência da missão e os desafios enfrentados no resgate de gatos e cachorros em situação de rua bem como a luta contra maus-tratos.
Ao FocoCidade ela relata a batalha contra os maus-tratos, enfatizando histórias angustiantes de animais resgatados de situações de abandono e negligência. Ela alerta para o aumento desses casos durante as festas de fim de ano, “quando muitos animais são descartados como se fossem meros objetos”, afirma.
A legislação protetora existe, mas a voluntária destaca a necessidade de conscientização e denúncia ativa. A entrevista também aborda os critérios rigorosos na seleção de adotantes, visando garantir que os animais resgatados encontrem lares seguros e amorosos e a importância da castração como parte crucial do processo.
Ela pontua que o Projeto Lunaar, ativo desde 2017, vai além do resgate e tratamento médico, destaca a luta diária da equipe e convida a comunidade a se envolver. “Doações financeiras, de ração, e o voluntariado são fundamentais para sustentar a operação que busca não apenas salvar vidas, mas também mudar a narrativa em torno dos animais de rua”, afirma.
Boa Leitura!
O que é o Projeto LUNAAR e qual é a missão central da organização?
O Projeto Lunaar é uma associação com atuação em Cuiabá, existe desde 2017, resgata os animais de rua, oferece tratamento médico e encaminha para adoção. Sempre estão sendo cuidados cerca de 300, gatos e cachorros. Quando tem o resgate do animal, um animal machucado, primeira verifica se tem espaço pois tem animal que não se adapta com outros animais. Quando ele não se adapta ele vai ocupar uma baia inteirinha para ele, então tem que ver se tem a vaga disponível.
Tendo vaga disponível é autorizado o resgate pela mesa diretora da Associação. Se o animal estiver machucado ele vai para uma clínica parceira, faz todos os exames, se tiver que fazer procedimento cirúrgico ou outro tratamento, isso já é um custo muito alto. Quando ele finaliza o tratamento na clínica, ele vai para a nossa sede, algumas vezes continua o tratamento com medicação na sede do Projeto Lunaar, porque muitas vezes tem animal que fica seis meses ou um ano em tratamento, a exemplo de cirurgia ortopédica e esse tratamento é particular feito em uma clínica parceira que faz um preço acessível, mas temos que pagar.
Mesmo após esse tratamento o animal fica no projeto até ele estar apto para adoção, porque também a gente não faz a doação do animal adulto sem castrar. É uma regra obrigatória. Estando apto para adoção organizamos as feiras de adoção. Aí ele vai ter uma chance de ser adotado ou não. Enfim, o trabalho do Projeto Lunaar é resgatar animais de rua, seja ele machucado ou não, e encontrar um dono para ele. E aí, nesse caso, faz o tratamento de saúde e a castração. A castração ocorre se o animal for adulto, se ele for filhote, tem um tempo que tem que esperar. E, se, uma pessoa adota um gato ou um cachorro filhote assina um termo de responsabilidade. Outro ponto, os adotantes passam por uma entrevista. Já aconteceu várias e várias vezes de adotante ser reprovado na entrevista.
O que vocês levam em consideração na questão dessa entrevista? O que faria uma pessoa ter seu pedido de adoção negado?
Por exemplo, a pessoa mora em uma residência e esse animal vai ter acesso à rua, ou também já teve casos da pessoa de ter outros animais de estimação e passarem por vulnerabilidade muito grande do animal ter ficado doente e morrer ou até mesmo voltar para a rua. Já aconteceu em uma das feiras de adoção, uma família querendo adotar e tinha dois dias que o animal deles tinha fugido. Então não tem lógica a gente autorizar uma adoção nessa situação. Avaliamos também o tempo, a disponibilidade da pessoa e situação financeira. Após a adoção a gente faz o acompanhamento por um tempo também, o dono tem que mandar uma foto, mandar um vídeo, informar se o animal está bem.
Como as festas de final de ano e a queima de fogos afetam os animais?
Muito, afeta muito, porque os animais, a audição deles é quatro vezes mais sensível do que a nossa. Um animal, ele tem uma idade mental de dois a quatro anos, quando ele escuta aquele estouro, aquela luz, ele não consegue ter o discernimento do que está acontecendo e ele desespera. Muitos animais morrem na própria residência e muitos outros fogem porque eles ficam, realmente, em situação de muito desespero.
Então, o animalzinho, ele pode morrer de susto mesmo, de medo e mesmo em ambiente fechado, com segurança para que ele não fuja ele pode se debater e ficar todo machucado. E não é só isso, os fogos prejudicam os autistas, os idosos, e aqui em Cuiabá já tem a lei que proíbe fogos, mas, infelizmente, não é respeitada. Importante dizer que já existem fogos que são silenciosos, eu ainda não vi no Brasil, mas nos Estados Unidos por exemplo eu sei que existe. Aqui como é proibido os fogos não poderia se vender também, o que obrigaria as indústrias a produzirem fogos sem ruído.
Durante o período de festas e férias, é comum observar um aumento no abandono de animais domésticos. E, também temos visto o aumento de casos de maldade contra animais de rua. Existe legislação para punição?
Tem. Já tem uma lei, em nível nacional, inclusive a questão de abandono e maus-tratos de animais é crime. É a lei federal 9.605/98, a principal lei que protege os animais conhecida como Lei dos Crimes Ambientais que em seu artigo 32 diz que é crime praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres e domésticos. Temos também a lei municipal, aqui em Cuiabá, número 6.860 de 2022 sobre penas cominadas de crimes de maus-tratos de cães e gatos.
Aqui em Cuiabá, para fazer essa denúncia é através do Bem-Estar Animal e da Polícia Ambiental. O Bem-Estar Animal é da prefeitura de Cuiabá e pode ser acionada pelo número (65) 99207-4318, também é WhatsApp.
Para fazer a denúncia você tem que ter foto ou vídeo, tem que comprovar a denúncia e ter o endereço do local correto, porque hoje 70% das denúncias não procedem. Às vezes, é um animal que chora quando os donos saem, as pessoas acham que está apanhando, enfim... Mas é verdade, o número de abandono de animais domésticos no final do ano aumenta muito porque simplesmente a pessoa vai viajar, não tem com quem deixar e solta na rua.
Às vezes, deixa em casa mesmo, coloca uma quantidade de comida e de água e os animais ficam à própria sorte. Eu já denunciei alguns casos no bairro onde moro de vizinho que some uns três dias e os animais ficam sozinhos, eu vou até lá e pelo muro coloco água, ração, mas isso é maus-tratos. É abandono. Então, não tem explicação ou justificativa simplesmente abandonar o animal só porque não tem como deixar, tratam o animal como algo descartável, com irresponsabilidade. Temos que fazer uma denúncia sim.
O Juizado Volante Ambiental nos dá auxilio, a Polícia Militar também, por exemplo, caso a gente precisar invadir uma casa para salvar um animal em caso de situação de risco. E os casos de violência contra animais é um absurdo. A gente sinceramente não sabe o que leva um ser humano a bater, espancar, porque na maioria das vezes o animal só está com fome e se aproxima do ser humano porque a pessoa está comendo, por exemplo, não precisa machucar, não vejo outra saída a não ser punir esse ser humano. E para essa punição a gente precisa ter provas, comprovar com fotos, com vídeo.
E, apesar dessas violências, eu acredito que as pessoas estão cada vez mais conscientes. Ninguém é obrigado a gostar de animais, todos somos obrigados a respeitar. Então, eu acredito que está tendo mais conscientização e essa geração nova que está vindo eles são muito mais preocupados com a questão ambiental, com os animais, até mesmo o respeito com as pessoas. A internet também ajuda bastante nas denúncias de casos dos mostrados, de abandono, de crime contra os animais, ela tem trazido muita informação, mas ainda a punição é muito pouca. Acho que a prisão hoje por maus-tratos de animais está em torno de um a quatro anos, mas a maioria não cumpre pena.
A gente tem as redes sociais, que são muito fortes, do Projeto Lunaar. A gente faz campanhas, coloca a história do animal agredido, que impacta muito. A gente coloca desde o resgate até a parte de adoção, a história toda. Isso sem falar as vezes o animal está curado, as feridas dele, a parte física, mas o psicológico dele não. O animalzinho não consegue conviver com pessoas ou até mesmo com outros animais, ele tem medo.
Como as pessoas podem ajudar ou ser voluntário?
Tem várias maneiras de ajudar, mas precisamos de doações financeiras, principalmente. Mas é possível fazer doação de ração, doação de medicamento, temos rifas. Neste final de ano estamos com um projeto bem legal onde é possível presentear um animal, temos vários kits com ração, brinquedo, a partir de trinta reais.
A Rifa Solidária por exemplo custa R$ 10,00 e vai sortear um iPhone 15, é possível adquirir pelas redes sociais @projetolunaar. O recurso é utilizado para ajudar animais em situação de rua. Para os animais que já estão amparados pelo projeto temos as cestas de Natal onde uma pessoa pode apadrinhar um gatinho ou cãozinho.
Temos a cesta de Natal bronze que custa R$ 30,00 que tem 2kg de ração, 2 sachês e um brinquedo. A cesta prata custa R$ 60,00 e tem 4kg de ração, 2 sachês, um brinquedo e 1kg de areia sanitária. Tem a cesta de Natal ouro que custa R$ 100,00 que tem 10kg de ração, 8 sachês, 1 brinquedo, 2kg de areia sanitária e 1 vacina. Temos também a cesta diamante e as mesmas cestas com produtos para os cães. Também são possíveis encontrar nas redes sociais do Projeto Lunaar.
As pessoas também podem ser voluntárias como eu, a gente precisa de muita ajuda semanalmente. São muitos animais, então a limpeza é muito pesada, tem as medicações dos animais, tem que dar banho nos cachorros, ajudar a escovar os gatos, limpeza das caixinhas de areia, brincar com eles. Então, sim, serviço é o que não falta.
Importante falar que tem o projeto conhecido como captura e castração de evolução. Às vezes é um animal comunitário, por exemplo, que vive na rua, mas as pessoas da comunidade cuidam dele, deixando ração e água. Para esse animal não procriar, a gente vai, captura ele, castra e depois devolve para rua. Porque hoje a nossa maior dificuldade é como eles se reproduzem, o volume é muito grande, seja cachorro ou gato. Podemos dizer que em Cuiabá temos mais gatos de rua do que cães, mas o número de ambos é grande. Essa também é uma das maneiras da gente conseguir melhorar essa questão do abandono animal e de aumento de animais de rua.
Esse projeto é mantido pela coleta de aerossol que são frascos de desodorante de alumínio que a gente vende e paga a castração deles. E, o contato da Associação Lunaar pode ser feito também pelo WhatsApp pelo número 65 99279-1706, seja para se voluntariar, ajudar em algum projeto ou nos conhecer.
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