Rafaela Maximiano
Neste mês de março um decreto estadual revogou a obrigatoriedade do uso de máscaras de proteção contra a covid-19 em Mato Grosso. E, o município de Várzea Grande é um dos poucos que mantém as máscaras faciais como item obrigatório em locais fechados. Apenas em espaços abertos seu uso é opcional na cidade.
Na Entrevista da Semana ao FocoCidade, o secretário municipal de Saúde, Gonçalo de Barros, afirmou que o uso da máscara além de item de proteção indispensável, é simbólico nesta pandemia.
“A máscara tem um valor simbólico e efetivo na prevenção da doença, mas no momento é o que ela simboliza. Se liberarmos o uso da máscara grande parte da população vai entender que a pandemia acabou”, alertou.
Gonçalo de Barros também pontua que retirar o uso de máscaras pode custar caro para o Poder Público e a sociedade. “A retirada das máscaras vai tirar junto os cuidados com as aglomerações, os cuidados com as outras medidas de higiene, o relaxamento com situações de exposições com os familiares”.
Nessa direção o gestor afirma que o município também mantém medidas de biossegurança estabelecidas pela Anvisa e ONU e que o fim da exigência da máscara deve acontecer somente ao menos ter 70% da população vacinada com a terceira dose em Várzea Grande.
A entrevista também abordou: fiscalização de medidas sanitárias, passaporte da vacina, as dificuldades de se vacinar toda a população com as três doses contra a covid e as demais doenças que precisam ser enfrentadas mesmo em tempo de pandemia.
Gonçalo Aparecido de Barros já foi coordenador, superintendente e diretor Administrativo da Associação Mato-grossense dos Municípios, secretário de Cidades do Estado de Mato Grosso, secretário de Infraestrutura de Várzea Grande, e atualmente ocupa o cargo de secretário de assuntos Estratégicos e secretário interino de Saúde de Várzea Grande.
Boa Leitura!
Várzea Grande decidiu manter o uso de máscara em ambientes fechados, públicos e privados. O que pesou para essa decisão uma vez que demais prefeituras no país liberaram o uso de máscaras faciais ou mantiveram apenas para idosos e crianças em locais fechados?
Nós partimos do princípio de que a pandemia, e tudo que já se passou, o que já aconteceu, o mundo nunca mais será o mesmo. E, se tiver 0,1% de possibilidade dessa pandemia continuar ou piorar vamos manter as regras de biossegurança.
Vale ressaltar que essa pandemia ainda não acabou, ela está controlada pela eficácia da vacina, isso está comprovado cientificamente e na prática. Se a ciência pede prudência, recomenda a terceira dose – a quarta dose já está sendo recomendada para a população idosa, se nós temos apenas 45% da população com a cobertura da dose de reforço que é a terceira dose, entendemos que precisamos chegar a pelo menos 70% de cobertura da população com a terceira dose de reforço, para podermos pensar na questão da flexibilização das medidas de biossegurança.
E, a máscara simboliza a pandemia. A mascará marcou muito essa pandemia e entendemos que se a ciência está recomendando a terceira dose e as medias de biossegurança é preciso cumprir. A ciência já dominou por exemplo a paralisia infantil e outras doenças graves, não podemos permitir levar para um debate ideológico a situação, o que está sendo trilhado num caminho de salvação de tratamento para a humanidade que a ciência vem construindo, e acabar em discussão ideológica. Não temos esse direito. Seria expor a situação. Os atos de um gestor podem ter consequências incalculáveis para o bem ou para o mal.
A máscara tem um valor simbólico e efetivo na prevenção da doença, mas no momento é o que ela simboliza. Se liberarmos o uso da máscara grande parte da população vai entender que a pandemia acabou. E, esse recado pode custar caro pois a retirada das máscaras vai tirar junto os cuidados com as aglomerações, os cuidados com as outras medidas de higiene, o relaxamento com situações de exposições com os familiares. Dependendo do lugar onde você frequentou vai estar tranquilo de voltar para o convívio da sua família? E, todas essas preocupações sairão junto com as máscaras. E, neste momento, não tendo ainda chegado à cobertura vacinal completa de ao menos 70% da população – com a terceira dose – nós pelos menos estamos discutindo isso no Comitê Gestor em Várzea Grande, no sentido de resguardar o máximo possível e vamos manter a obrigatoriedade da máscara, pelo menos ainda por enquanto.
Dependendo do lugar onde você frequentou vai estar tranquilo de voltar para o convívio da sua família?
Quais as dificuldades de lidar com a fiscalização dessas medidas sanitárias? Como a Secretaria tem feito para que a lei seja cumprida?
Primeiro que a fiscalização está mais na consciência de cada cidadão. O que o Governo e os gestores públicos podem e devem fazer é não provocar na população situações que ainda não são completamente seguras.
Liberar a questão da máscara – porque o assunto é esse – e depois falar: “eu vou liberar, mas nós vamos fiscalizar”, não funciona. Liberar o não uso da máscara significa liberar o pensamento das pessoas, você está eliminando toda a pandemia da cabeça das pessoas. O que estava controlado acabou. E que bom que assim fosse! Tomaram que estejam certo. Para mim é imprudência.
A questão da fiscalização é importante. Em Várzea Grande tomamos todas as medidas sim, procuramos fiscalizar os ambientes, mas a principal luta é de convencer a população de que precisa ainda de muito cuidado e completar a cobertura vacinal.
A vacina é que vem controlando a pandemia, prova disso é que a população de 60 anos acima foi a que menos sofreu com a última onda em dezembro e janeiro, com as contaminações pelas variantes, por que essa população foi a que mais tomou a dose de reforço. Para nós fica cada vez mais comprovada a eficácia da vacina e a necessidade da terceira dose.
Existem sanções para quem descumpre os itens de biossegurança ou o decreto municipal?
O decreto municipal existe, é regulamentar, estabelece os critérios do que é permitido e do que não é permitido, cabe às autoridades municipais fazer cumprir. Quero inclusive parabenizar toda a Secretaria de Defesa Social bem como a Guarda Municipal, ao Coronel Alessandro que faz cumprir o decreto, nos ajuda muito na fiscalização extensiva e graças a Deus tem funcionado em Várzea Grande.
E, até quando vai a eficácia dessa vacina? A própria ciência vem recomendando: faça o reforço vacinal. Se a ciência dá essa segurança, as pessoas vão jogar fora?
Os municípios é que definem sobre o passaporte da vacina: Em Várzea Grande é uma exigência? E, qual sua avaliação sobre o posicionamento do Governo Estadual que vetou através de lei?
A obrigação do Governo e dos gestores é de conscientizar e disponibilizar a vacina, tomar medidas que não levem a decisões enganosas. A questão do passaporte da vacina é impor limites dizendo que as pessoas por exemplo não podem frequentar a escola se não estiverem vacinados. Acho muito impositivo. Vivemos em um mundo democrático. Pagamos muito caro pela baixa qualidade de educação, de cultura que temos.
Ainda sim temos uma cultua vacinal muito acima de países da Europa e do primeiro mundo. E se temos a cultura vacinal, acreditamos tanto na vacina, com doenças tão graves e já enfrentamos, todo ano vamos aos postos e nos vacinamos, porque não acreditar nisso agora?
Não acredito que a imposição do passaporte da vacina venha resolver. O que precisa é a campanha do convencimento, mostrar para o povo que é a ciência que trará soluções e deixar de politizar um assunto tão importante para todos.
A vacinação em Várzea Grande também tem sido diferenciada, com ações pontuais que chamam a atenção de diversos públicos. No início da vacinação contra a covid, víamos filas de pessoas procurando o imunizante, agora a procura parece ser mais tímida. Como está esse cenário de vacinação contra a covid no município?
Estamos lutando contra essa sensação de que a pandemia acabou. A gente vem brigando para poder deixar vivo na memória de todos o que já passamos nessa pandemia, para que completem o ciclo vacinal e aí sim possamos ter uma vida normal.
No começo, as pessoas brigavam por uma dose de vacina, hoje rezam e brigam para não se exigir passaporte de vacina e para não precisar vacinar.
Mas o que deu essa tranquilidade nas pessoas de acharem que a pandemia acabou, e, de amenizar os casos graves de covid, foi a vacinação. E, até quando vai a eficácia dessa vacina? A própria ciência vem recomendando: faça o reforço vacinal. Se a ciência dá essa segurança, as pessoas vão jogar fora?
Até agora, pouco mais de 50% da população da cidade foi imunizada com o reforço no município. Não podemos desistir, vamos continuar a campanha para vacinar todos os públicos em Várzea Grande. Temos que ir até o final buscando a conscientização da importância da cobertura vacinal completa.
E, quanto as demais doenças, há algum alerta, pois, as pessoas estão esquecendo de completar o esquema vacinal de outras doenças, há uma preocupação da Secretaria com isso?
Nós temos várias doenças que todos os anos acontecem a vacinação, e outras doenças. Mais recente a influenza, a dengue, que são perigosíssimas. O problema é que a covid monopolizou todas as atenções e todos os receios e cuidados da população. Outro problema maior é que os primeiros sintomas da dengue e da gripe são muito parecidos com a covid.
Em dezembro do ano passado, por exemplo, tivemos em Várzea Grande um susto de gripe registrados pelas nossas Unidades de Pronto Atendimento, as UPAS. Em dezembro do ano passado e janeiro desse ano atendemos 120 mil pessoas com as características dessas três doenças. Quem apresentava a testagem de covid alta teve baixa complicação pela pessoa ter sido vacinada. Mas teve muita gripe, muito pânico. Uma criança com gripe, na cabeça do pai, mesmo com teste negativo para covid, a criança está com coronavírus.
Estamos caminhando para o final do período chuvoso e essas aguas acumuladas, reservatórios, caixas d’água, terrenos baldios, etc., são o cativeiro para a dengue e chikungunya. Já sabemos que vamos passar por um período grave dessas duas doenças, estamos desenvolvendo projeto para fazer uma limpeza ampla no município, principalmente onde se aponta os principais focos por região. Estamos fazendo esse levantamento com todo cuidado para tentar eliminar, chegar nas residências sabendo o que tem no quintal de cada casa.
Tudo isso são medidas preventivas, precisamos ser pró ativos. A gestão pública necessita de ser proativa e ela vem sendo a muito tempo somente reativa. Quando trabalhamos apenas com reação só corremos atrás, não combate, só trata as consequências.
Quanto as demais vacinas, já existem campanhas nacionais que seguimos à risca e disponibilizamos à população conforme calendário do Ministério da Saúde bem como divulgamos amplamente. Todos precisam estar atentos.
Qual avaliação que o senhor faz da gestão em saúde em Várzea Grande?
O bom resultado da pasta se deve ao comprometimento de todos os profissionais de saúde. Eu nunca havia trabalhado diretamente com a área de saúde, é uma das que mais dão dor de cabeça, mas ela é apaixonante. Você lida com sentimento e para quem gosta de povo, quem se mistura é muito importante. Trabalhando aqui está sendo um aprendizado muito grande, aprendi que um gestor só tem condições de tomar decisões precisas ou que sejam melhores para toda a coletividade, se ele vivenciar o meio. Se ele não vivenciar ele pode ter o estudo que for, mas ele não será assertivo nas soluções para a coletividade. Precisamos correr atrás do conhecimento, mas não podemos esquecer do que está dentro do peito, e do sentimento de humanidade.
Essa passagem pela Secretaria de Saúde interinamente, me mostrou que o cargo é simbólico, o bom resultado e as conquistas como por exemplo fazer funcionar uma nova maternidade onde nasceram mil e trezentas crianças durante a pandemia, essas conquistas são ímpares e só ocorreram por causa do comprometimento dos profissionais da área de saúde. Eu me sinto orgulhoso de fazer parte dessa equipe, que compreendeu o que queríamos realizar e juntos estamos concretizando. Foca aqui o meu agradecimento especial ao profissional da área de saúde.
Ainda não há comentários.
Veja mais:
Governo sanciona lei para flexibilizar hora-atividade dos professores
Verba para crianças e adolescentes sobe, mas não chega a 2,5% do PIB
Entenda sobre o Transtorno Desintegrativo da Infância
Entre avanços e riscos: os limites do uso da IA no Judiciário
Justiça mantém anulação de doação irregular e imóvel retorna a prefeitura
Publicidade Enganosa: Seus Direitos como Consumidor
Oncologia e Vida
Seu corpo fala o tempo todo
Eleições 2025
Desaparecimento de 5 maranhenses: Operação da PC mira facção