Rafaela Maximiano - Da Redação
Agronegócio e política são os temas da Entrevista da Semana. Dois assuntos que caminham lado a lado em Mato Grosso, sob análise do vice-presidente do PSDB, Nilson Leitão - integrando a Executiva Nacional do partido.
Político experiente, Nilson Leitão acumula também a presidência do Instituto Agro, que o qualifica para falar sobre como o setor do agronegócio vem enfrentando a pandemia; os problemas de infraestrutura e logística do Estado, os impasses envolvendo aumento de produção, desmatamento e o uso de agrotóxicos.
As eleições de 2022, o PSDB e o futuro político de Leitão também foram abordados com o FocoCidade. “Tive 22 anos de mandato ininterrupto como vereador, deputado estadual, prefeito, deputado federal duas vezes, então é hora de pensar um pouco no que eu vou fazer”, revela.
Nilson Leitão acumula a experiência de vereador, prefeito e deputado federal. Ex-presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), o tucano tem forte ligação com o agronegócio, mas garante não defender os chamados barões, que acumulam a maior parte da riqueza do setor no país.
Também foi um dos líderes do antipetismo enquanto esteve na Câmara Federal e defende o enxugamento da máquina pública e a redução de impostos para retomar o crescimento da economia, principalmente no momento pós-pandemia.
Sobre 2022 pontua: “para o futuro eu ainda não pensei, vou pensar mais para frente se eu volto a disputar algum cargo político-eletivo ou não. Isso é um pensamento ainda. Tenho vários convites para candidatura, mas ainda é um pensamento. Estou muito focado agora em ajudar o Brasil, ajudar Mato Grosso nesses temas do agronegócio que falamos aqui”.
Boa Leitura!
O senhor é presidente do Instituto Pensar Agro, nesse campo, como tem se comportado o setor do agronegócio no período de pandemia?
O agronegócio não parou. E ele não é só o que vemos em uma propaganda, uma grande máquina de colheitadeira, ou os grandes campos de soja, milho e algodão. É muito mais do que isso. O Agro é o queijo, o leite, a fruta, a verdura e tudo aquilo que de fato está na mesa das pessoas, da família, mas também é também o etanol, aquilo que se exporta como o açúcar; então é essa maravilha que é mundo da agricultura, da agropecuária, da produção e do alimento que alimenta as pessoas, os animais, o veículo – etanol de milho e de cana – tudo isso gira o agronegócio com muita força e tudo isso não parou.
E, o agronegócio acabou sendo o carro chefe da economia do Estado e do país. Nesse setor não teve desemprego nesse período de pandemia, ao contrário aumentou ainda vagas de empregos porque abriu mercados lá fora do Brasil comprando por exemplo, mais carne bovina, suína de aves, tudo aumentou. Aqui no Brasil mais frigoríficos venderam para fora, principalmente para a Ásia, mais de 80% do que o Brasil vende de alimentos é para a Ásia.
O Brasil é o país que mais fornece alimentos para o mundo, nós alimentamos mais de um bilhão de pessoas fora do Brasil. Então essa máquina que é uma geradora de emprego e renda não parou e o agronegócio é claro, tem seus percalços e problemas devido a pandemia também e devido a outros temas a exemplo de logística que precisam ser combatidos. O agro é a agricultura, o alimento em si em todos os sentidos.
É muito desenvolvido da porteira para dentro, mas discutindo temas do século passado. Um tema que continua com muito discurso e pouca resolutividade.
E quanto à logística para abastecimento interno e exportação. Ainda se discute a implantação dos modais como ferrovias e hidrovias para facilitar e baratear esse escoamento. Como o setor do agro vê essa falta de infraestrutura logística?
Na verdade, esse é um tema muito antigo. O assunto ferrovia e hidrovia no Brasil por incrível que pareça andou na contramão. Tivemos mais linhas férreas funcionando há 30 anos atrás, há 50 anos atrás do que agora. É como se fossem fechando as estradas do Brasil. Uma coisa absurda e é claro que temos uma necessidade enorme. Não só do ponto de vista do custo, mas do ponto de vista ecológico e ambiental. Uma ferrovia - como acontece no mundo inteiro, que tem uma condição de ter alternativas de modais, não só de ficar na estrada como no Brasil que é um país rodoviário muito forte ainda; as ferrovias são muito importantes principalmente para Mato Grosso que é um estado continental com 900 mil quilômetros quadrados no seu tamanho geográfico é mais do que imprescindível.
Então, a expectativa é de que realmente aconteça de tratar essas ferrovias. A Ferrogrão por exemplo, que vai sair de Sinop e vai até o Porto de Miritituba, são mil quilômetros e linha férrea e é totalmente viável. Hoje da região de Sinop a produção tem que ir para Paranaguá ou Santos, que mais de dois mil e trezentos quilômetros de distância. Com a ferrovia andaria mil quilômetros para escoar a soja, o milho e tudo mais por aí, inclusive a carne.
Fico – Ferrovia de Integração do Centro-Oeste, vem da Bahia, Tocantins, passa por Goiás e chega até Água Boa no Araguaia. Imagina que maravilha seria isso, também ter um transporte ferroviário por aquela região. E, ainda ela chegar até Lucas do Rio Verde, um sonho, que se encontre com a ferrovia Leste-Oeste que também passe por ali. São três ferrovias no Estado de Mato Grosso, um sonho enorme que possa ocorrer. Só que tem coisas que também são prioritárias que já deveriam ter acontecido e são temas do século passado, como é o caso da BR-158 na região do Araguaia e própria BR-252 que corta o Nortão e vai até o Sul do estado saindo de Rondonópolis. E tanto a 174 que é de Juína, por exemplo, são estradas que tem uma necessidade enorme e ainda tem que pavimentar, devido a burocracia e ineficiência do Estado brasileiro em resolver os problemas burocráticos para arrumar uma estrada que resolve o problema de todo mundo, do produtor, do cidadão comum, da saúde pública, da educação, do índio. Mas impressionantemente as coisas acabam ficando enroladas. A logística ainda é um tema do século passado num estado moderno em termos de desenvolvimento principalmente no setor rural, porque Mato Grosso tem uma economia do setor rural muito forte. É muito desenvolvido da porteira para dentro, mas discutindo temas do século passado. Um tema que continua com muito discurso e pouca resolutividade.
Como analisa o impasse de aumentar a produção sem aumentar a extensão do território plantado e a polêmica dos defensivos agrícolas?
Na verdade, o Brasil tem um potencial enorme de aumentar sua produção sem aumentar a extensão de terras plantadas. E, na verdade, o Brasil já conseguiu aumentar sua produtividade enormemente nos últimos anos com potencial de crescimento muito grande sem conseguir aumentar muito as áreas plantadas. Aumentou as terras plantadas em pouco mais de 60%, mas aumentou mais de 350% o aumento da produtividade. O Brasil é o segundo por exemplo em produção de soja no mundo- os Estados Unidos são o primeiro, mas o Brasil é o primeiro em exportação. A soja é o carro-chefe, mas nós temos o milho, a parte de proteína animal, a laranja nós somos o primeiro no mundo em produção.
Tudo isso faz uma diferença enorme e isso é que tem sustentado o Brasil Precisa aumentar? Precisa. Isso não é apenas uma decisão apenas de riqueza, de ganância, é uma decisão humanitária. Temos um estudo que o Mundo vai precisar alimentar as pessoas até 2030 em mais 20% no mundo todo e o Brasil é responsável por quase toda a produção de alimento no mundo, 43%. Nós temos sim que termos mecanismo, parar de discutir ideologias e entender que o alimento é o ponto principal, quem não tem alimento não tem vida, não tem dignidade e não tem riqueza. Uma coisa vai puxando a outra. Esse grande desafio, o debate maior é a quebra de paradigmas e parar de discutir a ideologia, como é o caso dos defensivos agrícolas, de perceber que o Brasil é imprescindível no mundo para alimentar as pessoas, nesse sentido a tecnologia é o ponto principal. A tecnologia dá desenvolvimento, sustentabilidade, produzir o economicamente viável e o ecologicamente correto. Dentro desse setor temos buscados os melhores para nos ensinar a produzir mais com cuidado do meio ambiente.
O senhor declarou que o “Congresso ainda discute temas do século passado quando se trata do agronegócio”, o senhor pode dar algum exemplo do que é ultrapassado e também do que deveria se discutir?
Eu falo do Congresso com dois sentidos: o primeiro é que o Brasil está atrasado em relação a esses temas, enquanto a Argentina por exemplo, que é vizinha aqui, consegue comprar um defensivo agrícola moderno o Brasil demora 10 anos para aprovar um novo produto para ser utilizado para combater pragas, insetos, por conta da burocracia e da sua legislação. Então quem é contra a modernização da lei de uso de pesticidas, ele está favorecendo o pior, que é o produto totalmente ultrapassado que já não se usa no mundo mais. O modelo de aprovação desse produto é muito antigo, que demora muito, quando você passar por tudo que precisa ser passado dentro da legislação brasileira para ser aprovado o produto já se passaram cinco, sete, dez anos.
Precisamos da modernização da lei dentro da realidade brasileira. Nossa lei era de um período em que éramos importadores de alimentos. Hoje o Brasil exporta alimentos em alta escala e para produzir em alta escala não é só cultivar solo, não é apenas irrigação e ter uma semente boa, você tem que combater a praga, o inseto que vai lá se alimentar dessa produção de frutas e verduras, mas em alta escala não é o cultivo do fundo de casa onde a gente passa alguma coisa e tira a lagarta e está resolvido. Em alta escala precisa ser pulverizado com aviões, são produções de 10 mil, 20 mil hectares, que não atinge apenas a soja, o milho ou o algodão, atinge também a laranja, o mamão, todas frutas, sementes.
Assim como a lei de licenciamento ambiental que é também atrasada e interfere nessa produção em grande escala. Somos um país muito exigente nos critérios de licenciamento ambiental, não está errado em ser exigente só que não precisa ser burocrático, ou dificultar a vida. Por isso que acaba existindo tanta coisa errada. Você dificulta o próprio cidadão acaba achando uma maneira de desviar da lei. É preciso ser eficiente, transparente e combativo. Esse é o nosso grande debate para que o Congresso aprove a modernização de leis como esta.
Qual avaliação que o senhor faz da gestão do governador Mauro Mendes?
Eu não gosto muito de avaliar, mas é um momento de pandemia com todos os seus contrabaixos, mas eu acho que principalmente na pandemia ele deixou de liderar o processo. Ficou muito bate-boca com prefeito, secretário acusando prefeito. São 141 prefeitos, é impossível estar todo mundo errado. E não é uma questão de certo ou errado é questão de liderar um processo, segurar o volante, o manche na mão, para poder acalmar todo mundo.
Uma casa com muitos filhos sem comida você precisa no mínimo ter uma liderança que acalma. Não é o mandar, é comandar, dar o caminho que precisa ser seguido com muito debate, muito diálogo, muita paciência, muita tolerância, porque é um momento de muito desespero para todo mundo. Ninguém tem uma cartilha para seguir. Na pandemia eu não dou uma avaliação boa para a forma como foi tocada. Acho que faltou um pouco mais de coerência, experiência e da política do diálogo. E, acho também que aumentou muito os impostos no Estado de Mato Grosso. Acho que Governo tem que reduzir a máquina cada vez mais. Esse é um grande debate. Eu lembro quando Dante de Oliveira deixou o Estado um superávit financeiro, orçamentário e patrimonial e isso fez uma diferença enorme.
Com certeza o Wilson é um grande nome, mas a decisão dele ser vice do governo, dele estar com o Mauro, é uma decisão pessoal, unilateral e individual.
Como está o PSDB hoje no Estado?
Eu sou vice-presidente do PSDB no Estado, o Avalone é nosso presidente. E, sou vice-presidente do PSDB nacional. Eu presidi o partido em Mato Grosso por seis anos, um período muito rico para o PSDB que teve quatro deputados estaduais, teve federal mais votado no Estado, teve governador, enfim mais de 40 prefeitos, e aí acabamos vivendo outro ciclo. O PSDB está se reorganizando para disputar as eleições. Terá uma boa chapa para estadual, chapa para federal e vai discutir essa questão majoritária e como será essa questão majoritária nesse momento. Então eu acho que pode ter muitas novidades aí para frente, tem que aguardar, teremos uma política dinâmica, lá atrás quando você pensa que está tudo parado, perdido, aí aparece alguma coisa para reacender, reabastecer.
Vamos aguardar as novidades pois o PSDB é um partido importante de Mato Grosso, tem uma história bonita. No dia 06 agora, infelizmente comemoramos 15 anos da morte do Dante de Oliveira, que levou a ferrovia, o Manso, a energia, transformou Mato Grosso no Estado que é hoje e muitos esquecem a memória do Estado, mas é o maior estadista que Mato Grosso teve, foi Dante de Oliveira. E o partido tem essa história bonita dos seus mandatos. É importante não deixar isso ficar apenas no retrovisor, é importante ter isso no retrovisor, mas olhando para frente que nós temos ainda muita coisa para colaborar com o Estado.
Eu lembro quando Dante de Oliveira deixou o Estado um superávit financeiro, orçamentário e patrimonial e isso fez uma diferença enorme.
Na hipótese do DEM vir com a reeleição de Mauro Mendes, há possibilidade de uma coalizão com o PSDB considerando que o deputado estadual Wilson Santos (PSDB) é hoje vice-líder do governo na Assembleia?
Com certeza o Wilson é um grande nome, mas a decisão dele ser vice do governo, dele estar com o Mauro, é uma decisão pessoal, unilateral e individual. E eu respeito e todo mundo tem que respeitar a decisão do parlamentar. Agora, decisão partidária se faz coletivamente. Tem que ouvir todo mundo, tem que ouvir todos que carregam o piano, que cuidam do partido independente de ser vereador, ex-vereador, prefeito, ex-prefeito, se é deputado, se é ex-deputado; não interessa quem seja tem que ouvir todo o diretório e todo mundo e o momento ainda não chegou para isso. Ainda está tudo incerto. No momento certo estará todo mundo se reunindo e decidindo se o caminho é o que o Wilson está falando ou é outro.
Terá uma boa chapa para estadual, chapa para federal e vai discutir essa questão majoritária e como será essa questão majoritária nesse momento.
Para as próximas eleições, qual será o caminho de Nilson Leitão: pode tentar encabeçar uma majoritária para Senado por exemplo?
Para o futuro eu ainda não pensei, vou pensar mais para frente se eu volto a disputar algum cargo político-eletivo ou não. Isso é um pensamento ainda. Tenho vários convites para candidatura, mas ainda é um pensamento. Estou muito focado agora em ajudar o Brasil, ajudar Mato Grosso nesses temas do agronegócio que falamos aqui. Mês que vem por exemplo traremos um grande evento para Mato Grosso sobre a logística, junto com o Instituto Pensar Agro, a Frente Parlamentar de Agropecuária; também estou ajudando na regularização fundiária, nos licenciamentos. Estou ajudando da forma que posso ajudar de forma coletiva.
Essa decisão eu ainda não tenho, não é por estratégia, não é por nada. Estou deixando todas essas conversas para o mês de agosto. Tem muita coisa acontecendo, mudanças de leis eleitorais. Existe todo um mapa político acontecendo nacionalmente e é claro, eu foco meu olhar no Estado e vou decidir com muita cautela e tranquilidade. Mato Grosso não me elegeu para senador em duas oportunidades. Então eu tenho que ter muito pé no chão, entender o que o eleitor quer da gente. Às vezes eu não sou o melhor perfil para isso, talvez seja para outra coisa, então eu não posso nem ser soberbo nem humilde demais, eu preciso ter equilíbrio e ouvir muitas pessoas para decidir o que vamos fazer.
Tive 22 anos de mandato ininterrupto como vereador, deputado estadual, prefeito, deputado federal duas vezes, então é hora de pensar um pouco no que eu vou fazer porque a minha vitória em 2018 me levou para um outro campo, vamos ver como o leitor vai avaliar a minha história, o meu trabalho, o meu perfil. Quem comanda é o eleitor.
O que considera legado para Mato Grosso dentro da sua trajetória política?
Fui deputado federal de 2011 a 2019, acho que fui o parlamentar que mais apresentou propostas naquele período na bancada, cumpri com todas as minhas emendas parlamentares. Levei curso de medicina para Sinop e Rondonópolis, levei a radioterapia para Sinop e Rondonópolis, até então somente Cuiabá tinha esse tratamento para o câncer, foi uma luta do meu gabinete e hoje a Santa Casa de Rondonópolis inaugurou com muita alegria e fiquei muito emocionado de ver a radioterapia em Rondonópolis. A luta começou comigo, outros da bancada ajudaram, também para Sinop. Além de outros temas de outros municípios que conseguimos atender nos setores da educação, da saúde, do desenvolvimento do pequeno produtor.
Fui líder da oposição num período em que o PT comandava com 420 deputados, nós éramos apenas 80 e eu era o líder desses 80 deputados contra o PT à época. Fui presidente da maior Frente Parlamentar do Congresso que era a Frente Parlamentar da Agropecuária, ajudei na reforma trabalhista, na terceirização, na modernização do ensino médio, ajudei a liderar o impeachment e tudo isso me dá muito orgulho. Nos dois mandatos que Mato Grosso me deu como deputado federal eu me senti muito realizado e deixei grande amigos, parceiros, pessoas que passaram pela minha vida.
Depois que terminou o meu mandato é que veio o setor do agronegócio, o convite para ser consultor da CNA, também sou presidente do maior Instituto da agricultura e pecuária do Brasil, são 48 entidades dentro desse instituto. Tenho muito orgulho e responsabilidade da minha trajetória. Obrigado pelo espaço.
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