Rafaela Maximiano - Da Redação
A Entrevista da Semana é dedicada à inclusão social da pessoa com deficiência e tem como tema o Dia Nacional de Luta das Pessoas com Deficiência, comemorado neste 21 de setembro.
Sabemos que ainda ocorrem, por exemplo, de escolas não aceitarem crianças com deficiência ou planos de saúde se recusarem a atender determinados casos. Em muitas empresas, a política de cotas é apenas fachada. O FocoCidade discorreu sobre esses e outros assuntos com a presidente da Associação Mato-grossense de Deficientes (AMDE), Rosilene Garcia de Souza.
Ela alerta: “denuncie sempre que um de seus direitos, que são garantidos por lei, for violado”. Rose, como é conhecida explica na entrevista que a inclusão da pessoa com deficiência passa por sua participação mais ativa na economia, a qual também determina o papel do Ministério Público e de Estados e Municípios na fiscalização e no cumprimento das leis no âmbito do trabalho, da educação, da saúde e das políticas públicas em geral.
“Quando qualquer um direito é negado a uma pessoa com deficiência, configura-se um crime. Caso isso aconteça, é importante que se apresente uma queixa formal na delegacia ou uma representação no Ministério Público ou na Comissão de Direitos Humanos da OAB, para que esse tipo de atitude seja extinto. Quando o crime acontecer contra uma criança, o Conselho Tutelar deverá ser acionado”, afirma a presidente.
Formada em Gestão Estratégica do Setor Público e Bacharel em Administração, Rose é servidora estadual efetiva na Casa Civil do Estado de Mato Grosso, mãe, cadeirante e apaixonada pela vida. “Vivo intensamente cada instante como se fosse o último e mesmo vivendo em um país preconceituoso isso não me faz parar, muito pelo contrário, os olhares de preconceito que recebo no meu dia a dia me deixam mais segura e forte”.
Confira a entrevista na íntegra:
Presidente, segunda-feira, dia 21 de setembro, é comemorado o Dia Nacional de Luta das Pessoas com Deficiência. Quais as principais conquistas a serem comemoradas?
Falta muito, mas já temos enormes conquistas a serem comemoradas, como por exemplo o nosso direito de ir e vir, este sim é muito importante. Hoje por exemplo no nosso estado temos pessoas com deficiência que exercem cargos em órgãos públicos, é de suma importância pois apesar de muito preconceito conseguimos mostrar que temos capacidade em executar funções e as pessoas conseguem ver a deficiência saindo do corpo físico a estar no corpo social.
O que significa ser deficiente hoje em Mato Grosso, quais são as condições de vida, existe cidadania, inclusão e participação plena em nossa sociedade?
Ser deficiente hoje no Estado é diferente de anos atrás, quando éramos esquecidos em quartos nos fundos de quintais e muitas das vezes ignorados pelos próprios familiares, hoje temos entidades que nos representam, Centro de Reabilitação nos dando o acolhimento diferenciado, temos manifestos sim de inclusão e participação de Eventos Sociais, que tornam a nossa caminhada mais fácil.
Quando qualquer um direito é negado a uma pessoa com deficiência, configura-se um crime.
Qual o trabalho realizado pela Associação Mato-grossense de Deficientes (AMDE) e quantos associados possui?
A AMDE, Associação Mato-grossense de Deficientes, foi fundada em 12 de junho de 1983. É uma entidade filantrópica, sem fins lucrativos. Tem uma diretoria que representa seus associados e que está sempre trabalhando em busca de melhorias para todos seja no lazer, transporte, emprego, acessibilidade, com vistas à inclusão social da pessoa com deficiência. Somos mais de 7 mil associados em todo o Estado.
Quanto a luta para garantir a integralização dessas pessoas na sociedade de maneira igualitária e sem preconceitos: como pode existir tanta diferença de comportamento dentro de uma mesma sociedade?
Infelizmente o preconceito não acaba, sempre chegaremos em lugares e pessoas virarão o pescoço para nos ver chegar. Mas se a pessoa com deficiência tiver amor próprio elevado e confiança em si próprio estes olhares só iram fortalecê-lo.
De acordo com o Estatuto da Pessoa com Deficiência, trata-se de “uma restrição física, mental ou sensorial, de natureza permanente ou transitória, que limita a capacidade de exercer uma ou mais atividades essenciais da vida diária, causada ou agravada pelo ambiente econômico e social”. Uma definição que leva à reflexão de que nem sempre a pessoa nasce com deficiência e ela pode ser adquirida, por isso a necessidade de sermos mais conscientes.
Como está a questão de acessibilidade nas cidades mato-grossenses, escolas, prédios públicos, praças e logradouros públicos?
Ainda tem que melhorar muito, infelizmente no nosso Estado temos muitos prédios públicos antigos, nestes infelizmente encontram-se não muito acessíveis, mas aos poucos estão mudando, pois afinal fazemos parte desta sociedade também.
As leis que envolvem o deficiente físico são colocadas em prática, funcionam?
As leis existem tanto no Estadual como no municipal ao contrário do que muitos dizem que não existe. O que ocorre é não serem respeitadas e cumpridas como gostaríamos. A cada eleição vêm mais promessas e sempre temos a esperança de que irão cumpri-las. Apesar, de nem sempre dar certo nunca desistimos.
Quando qualquer um direito é negado a uma pessoa com deficiência, configura-se um crime. Caso isso aconteça, é importante que se apresente uma queixa formal na delegacia ou uma representação no Ministério Público ou na Comissão de Direitos Humanos da OAB, para que esse tipo de atitude seja extinto. Quando o crime acontecer contra uma criança, o Conselho Tutelar deverá ser acionado.
A vida é linda, e vale a pena continuar vivendo mesmo estando em uma cadeira de rodas, com deficiência visual ou intelectual, ou qualquer tipo de deficiência.
O que poderia ser feito em questões de políticas públicas para assegurar os direitos da pessoa com deficiência?
Políticos que olhassem realmente com respeito e fizessem cumprir as leis que estão apenas no papel. Temos ótimas entidades com pessoas que nos representam muito bem, só que infelizmente não recebem o apoio necessário como verbas, doações, e, estas entidades acabam ficando presos sem conseguirem agir, se tivéssemos políticos que olhassem para a pessoa com deficiência com igualdade, com certeza, seria mais fácil a nossa inclusão.
Com relação à inclusão da pessoa com deficiência, o que cada cidadão pode fazer para contribuir, colocar em prática a inclusão social?
Se as pessoas respeitassem os nossos direitos como pessoa com deficiência, como por exemplo não estacionar em vagas para deficientes; não nos repreendessem por termos atendimento preferencial e o mais importante, as pessoas precisam olhar para os deficientes e ser capaz de enxergar o ser humano, como pessoa, antes da sua deficiência. Atitudes simples que, tenho certeza, seriam essenciais para melhorar a vida em sociedade.
Fique à vontade para fazer considerações finais sobre o tema e deixar uma mensagem ao público.
Aproveito a oportunidade de deixar sim uma mensagem: às vezes as pessoas pensam que ser deficiente é a pior coisa do mundo. Não veja desta forma, lembre-se que nesta vida nada é por um acaso, tudo tem um porquê de Deus. A vida é linda, e vale a pena continuar vivendo mesmo estando em uma cadeira de rodas, com deficiência visual ou intelectual, ou qualquer tipo de deficiência.
Vivo intensamente cada instante como se fosse o último e mesmo vivendo em um país preconceituoso isso não me faz parar, muito pelo o contrário, os olhares de preconceito que recebo no meu dia-a-dia me deixam mais segura e forte.
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