Alfredo da Mota Menezes
Tem um viés da literatura latino-americana chamado realismo fantástico. Uma mistura de realidade com coisas inventadas por mentes criativas, como a do Prêmio Nobel, Gabriel Garcia Marques.
Em Mato Grosso, nos últimos anos vivenciamos tantos casos que lembram o realismo fantástico. Se um autor pusesse num livro e não dissesse de onde veio, se acreditaria que ele inventou aquilo tudo num lugar que nunca existiu. Mas o lugar existe, é aqui mesmo. Vejam somente os fatos mais recentes.
No Detran do estado um grupo montou uma ladroagem e estabeleceu um contrato com o estado de que, entra ou sai governo, não poderiam impedir o roubo por 20 anos. Diz gentes do governo que, se o contrato fosse rompido antes, o estado deveria pagar aos ladrões dos cofres públicos 100 milhões de reais.
Conhecido empreiteiro, ensinando o filho a roubar, passou para ele a tutela do roubo no Detran. O filhinho ganharia 30% da rapina. Por que casos como esse só são descobertos depois de uma delação? Parece que vivemos num lugar de faz de contas.
Disse o Silva Barbosa que na Assembleia Legislativa o Colégio de Lideres criou uma comissão especial encarregada de extorquir o governo em 600 mil reais para cada deputado. Deu o nome dos deputados na comissão. Disse ainda que foi informado por três deputados, aos risos, que um deputado gravara a reunião. A coisa é tão surreal que o Silval foi aplaudido na Câmara de Cuiabá por sua “honestidade” nas respostas.
Disse também que foi pressionado por membros do TCE para tomarem dinheiro do governo. Em contrapartida a Assembleia e o TCE não perturbariam mais com as obras e ainda aprovariam suas contas. Os fiscais do povo não fiscalizariam o Executivo.
Na Assembleia se criou uma comissão para seguir as obras da Copa. Fizeram umas apresentações em público e depois sumiram, lembram? Também se apresentou por algum tempo gente do TCE com relatórios sobre as obras da Copa. Devagar foi sumindo também.
Seriam falas montadas para amedrontar o governo e tomar o tal dinheiro? Não esquecer que o estado tinha mais de três bilhões de reais para gastar na Copa e no MT Integrado.
Lembram do depoimento do Eder Moraes, aquele que ele depois disse que não era verdade, que falara sob forte emoção? O que ele conta ali, se colocado num romance, todos acreditariam que era invenção, não fatos acontecidos. Ficamos sabendo pelo Silval que o recuo dele foi por um acerto de tantos milhões de reais pagos por ele e um ex-governador.
O mais sugestivo nesses tantos assuntos de roubos é que os caras que os praticam são altamente conceituados. Você já encontrou um desses sei lá onde? Eles dão aulas de conhecimentos em todos os campos do saber. E a plateia ao redor concorda com a “sabedoria” deles.
Parece um mundo irreal, em que os honestos são os bestas e trouxas e os larápios e maus caratistas militantes, como diria o Odorico Paraguaçu, são heróis locais.
Alfredo da Mota Menezes escreve nesta coluna semanalmente.


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