Lícia Soares Pereira de Arruda
Os acontecimentos nas últimas semanas, relacionados ao jogo da “Baleia Azul”, deixou grande parte da população aterrorizada e preocupada. Aparentemente, a figura “inocente” da baleia, traz escondida a monstruosidade de se acabar com a vida de alguém. Antes de tudo, precisamos ter em mente que crianças e adolescentes também podem sofrer com depressão e, consequentemente, apresentarem pensamentos e ideações suicidas.
Dessa forma, através do jogo virtual, que traz uma imagem carismática da “baleia azul”, que muitos jovens são recrutados, seduzidos e coagidos a participarem do jogo. Porém, são jovens que se encontram em situação de vulnerabilidade, e que criminosos aproveitam disso com maldosas e danosas intenções. Assim sendo, o alvo principal escolhido são adolescentes que, de alguma maneira, passam por momentos difíceis em suas vidas, vivenciam conflitos e sintomas da depressão.
Apesar de ser um tema complexo, o suicídio envolve fatores sociais, culturais e psicológicos. As mortes por suicídio, segundo dados da Organização Mundial da Saúde, aumentaram em 60 % nos últimos 40 anos. No Brasil, ela ocupa o terceiro lugar no ranking, atrás das taxas de mortes por acidentes de trânsito e por homicídio. Mas então, por que os jovens estão se matando?
Historicamente, muitos estudos trouxeram discussões importantes acerca do tema, e atualmente, segundo Luciana Christante (2010), o suicídio se trata de um transtorno psicossocial, de causas múltiplas (com fatores biológicos, psíquicos, sociais e culturais) interagindo de maneira muito complexa. Ainda, conforme a pesquisadora e psicóloga Blanca Guevara Werlang, o “comportamento suicida é a manifestação de uma dor psicológica insuportável”. Dessa forma, quando uma pessoa está sofrendo uma dor psíquica, como é o caso da depressão, é preciso estarmos atentos com alguns sinais importantes, como a presença de isolamento social, perda da vontade por algo ou por alguma atividade que já realizava, tristeza profunda, apatia e alterações de humor em diferentes espaços de tempo. Neste sentido, o suicídio não pode ser visto como uma opção, é o extremo do esgotamento emocional e psicológico de uma pessoa.
Então, o suicídio tem prevenção? A resposta para esta questão é afirmativa, no qual existem muitas maneiras de ajudar uma pessoa em sofrimento, e que se tornam eficazes à toda pessoa com intenção de abreviar sua própria vida. Novamente aqui, a rede de apoio familiar, os vínculos afetivos bem cultivados e fortes são essenciais na prevenção ao suicídio. Além disso, há outros meios de referência a um indivíduo, como: o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), que possui caráter aberto e comunitário, dotado de equipe multiprofissional, que atua realizando atendimento às pessoas com transtornos mentais e persistentes e às pessoas com transtornos mentais em geral, que estão em sofrimento; o Centro de Valorização da Vida (CVV), que realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente a população; os profissionais da saúde (hospitais em geral), que podem e devem prestar ajuda e apoio à pessoa que cometeu e não atingiu o objetivo de tirar a vida e àquela que pensa em fazê-lo; à ajuda prestada por um profissional especializado por meio da psicoterapia, como o psicólogo, e em muitos casos críticos, o acompanhamento de outros profissionais, para o tratamento medicamentoso.
Retomando a discussão inicial, é necessário e imprescindível que os pais, ou aqueles que são responsáveis e que cuidam, conheçam seus filhos, conheçam esses adolescentes para perceber quando pedem por “socorro” e se perguntarem o porquê que esses jovens passam tanto tempo em rede social, no celular, ou em qualquer outra atividade. É preciso que as famílias assumam esse papel de ser a principal rede de apoio e suporte de seus jovens, que elas estejam próximas o suficiente para compreender o que eles estão pensando, sentindo e fazendo, não permitindo que facebook, instagram, ou qualquer outro tipo de atividade as substituam. Vivemos em uma sociedade que julga e discrimina pessoas com esse tipo de sofrimento, difundindo o pensamento de que ela “só está querendo chamar a atenção”. E são nesses momentos em que perdemos essas pessoas.
Portanto, eliminar das redes sociais os jogos, proibir de ver filmes, séries, ler livros que podem fazer apologia ao suicídio não é a melhor forma de lidar com a prevenção do suicídio, pois a prevenção está dentro de casa, nas escolas, nos diversos contextos onde existam interações humanas. Devemos parar de tratar o suicídio como um tabu e tratá-lo como um problema real, que precisa ser cada vez mais discutido e que pede por ações mais concretas. Por fim, devemos refletir sobre o quanto estamos disponíveis para a dor do outro e o quanto estamos disponíveis para estarmos com quem precisa de nós.
Lícia Soares Pereira de Arruda é Psicóloga Clínica - CRPMT 18/02664
(liciaarruda.psi@gmail.com)
Aneliza Borsato Jardim disse:
26 de AbrilParabéns ao belíssimo artigo!!! O assunto foi muito bem abordado!!! E que possamos ser presenteados com mais artigos assim.
Flávio Ferreira disse:
24 de AbrilBom dia! Excelente artigo! Parabéns
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