Há quem diga que o tempo é uma linha reta, implacável, sempre avançando. Mas às vezes me convenço de que ele prefere curvas — círculos que retornam, espirais que amadurecem, como acreditam os mais otimistas. Os estóicos já nos lembravam: Carpe diem. Aproveite o dia. Não por um hedonismo raso, mas por uma escolha consciente: estar inteiro onde os pés pisam, sem permitir que o passado puxe a barra da camisa nem que o futuro nos empurre antes da hora.
O presente não é um ponto apressado entre o que foi e o que virá. Ele guarda, silencioso, a densidade de uma eternidade íntima — não a infinita, mas aquela que se revela quando habitamos de verdade o instante.
E, ao longo destes 343 dias de 2025, quantas vezes realmente paramos para respirar fundo e perceber que estávamos vivendo? Houve alegrias breves, faiscando como reflexos na superfície de um rio. Houve tristezas profundas, daquelas que vergam a alma apenas para ensiná-la a se recompor. E houve também o trabalho discreto das ideias que germinam, o reajuste do próprio leme enquanto navegávamos por mares que nem sempre se mostraram gentis.
Alguns ciclos se fecharam. Uns com alívio; outros com a dor necessária do desapego. Novos caminhos se abriram, trazendo aquela esperança tênue e forte que só o recomeço conhece. E nesse ir e vir, aprendemos. Aprendemos que os dias se reinventam e, com eles, nossas chances: no trabalho que nos ocupa, nas amizades que nos sustentam, nos pequenos rituais que moldam o cotidiano e lhe conferem uma beleza quase sagrada.
Viver carrega sua magia — não a do truque, mas a da construção contínua. A magia de quem reconhece que está sempre erguendo, desfazendo e reconstruindo o próprio mundo. E que o presente é o único chão onde essa obra realmente acontece.
Às vésperas de encerrar mais um ano, é natural revisitar o caminho percorrido. Mas talvez a conta mais valiosa não esteja nos acertos ou nos dias mal vividos, e sim nos momentos em que estivemos acordados para nós mesmos. Porque cada encerramento não é um ponto final: é apenas uma vírgula, uma pausa breve antes da próxima frase.
E o recomeço? Pede humildade — a coragem de admitir que ainda há passos por trilhar — e a delicadeza de agradecer quem caminhou ao nosso lado. Mas exige, acima de tudo, fidelidade ao que somos: às promessas silenciosas que fizemos quando decidimos viver com mais consciência.
O outro será sempre outro, com seus ritmos e verdades. Você será sempre você. E é no presente, limpo do peso do que já passou e da pressa do que ainda virá, que essa essência se mostra inteira.
Que possamos encerrar este ciclo com gratidão pelos momentos de real vigília interior. Porque o tempo pode ser linha, pode ser círculo ou espiral — mas é sempre no agora que ele se deixa tocar. E que possamos dizer, com a serenidade de quem finalmente entende: Estou aqui. Este instante é meu.
*Kamila Garcia é bacharel em Língua Portuguesa e Literatura Brasileira, com pós-graduação em Psicanálise. Atualmente é estudante de Psicologia.

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