Vinte e oito mulheres assassinadas em Mato Grosso, só no primeiro semestre de 2025. Vinte e oito vidas arrancadas de forma brutal. Vinte e oito histórias interrompidas pela violência, pela omissão, pela negligência.
E o que choca ainda mais: apenas duas dessas mulheres tinham medida protetiva. Isso nos diz muita coisa.
Nos mostra que as mulheres não confiam no Estado. Que têm medo de pedir ajuda. Que se sentem sozinhas, desamparadas, desacreditadas.
E nos revela, também, o grau de impunidade com que os agressores seguem agindo: Violentam. Ameaçam. Matam. Mesmo com histórico. Mesmo com denúncias. Mesmo com ordens judiciais.
Em uma semana macabra, cinco mulheres foram vítimas de feminicídio em nosso estado. Cinco mulheres em seis dias. Cinco famílias dilaceradas. Cinco futuros interrompidos.
O que todos eles têm em comum? A brutalidade. O controle. O silêncio. O medo. Não são casos isolados.
A violência contra a mulher é estrutural. Ela está nas relações afetivas, nas instituições públicas, no silêncio social e nas omissões do poder público.
Os números alarmantes registrados neste ano já superam os de 2024. Sendo que os 28 feminicídios no primeiro semestre representam um aumento de 31,57% em relação ao mesmo período do ano passado, de acordo com dados da Secretaria de Estado de Segurança Pública.
Ainda de acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança divulgado nesta semana, Mato Grosso registrou 100 assassinatos de mulheres em 2024, sendo 47 feminicídios, colocando o estado na triste estatística de mais inseguro para o sexo feminino pelo segundo ano consecutivo, considerando a proporção de 2,5 crimes para cada 100 mil habitantes.
Os dados mostram que 83% dos feminicídio em 2024 ocorreram dentro de casa, sendo que 41 das 47 vítimas eram mães. Nove delas foram mortas na frente dois filhos.
Por isso, não basta lamentar. É preciso agir. E é o que temos feito.
Como vereadora, mulher e mãe, me recuso a normalizar essa realidade.
Não aceito que a burocracia se sobreponha ao acolhimento.
Não aceito que a denúncia venha antes da escuta.
Não aceito que o medo continue sendo a única companhia de tantas mulheres.
Precisamos de ações concretas, acolhimento contínuo, políticas públicas que cheguem antes da violência, não apenas depois dela.
Enquanto houver uma mulher com medo de voltar para casa, a nossa luta continua.
Enquanto houver silêncio diante da violência, nós vamos falar.
Enquanto houver omissão, nós vamos agir.
Porque cada mulher assassinada é um grito que foi ignorado.
E nenhuma de nós quer ser a próxima.
Katiuscia Manteli é jornalista e vereadora em Cuiabá.
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