Antônio Vieira, ou Padre Antônio Vieira, nasceu em Lisboa, no dia 06 de fevereiro de 1608, para fazer história em terras brasileiras. Da era barroca, filósofo, escritor e incomparável orador, além de pertencer à Companhia de Jesus foi personagem de grande influência política do século XVII. Primogênito de família humilde de quatro filhos, releva considerar o fato de ter sido brilhante aluno do Colégio Jesuítas de Salvador/BA.
Padre Vieira viveu na época em que a escravidão e a exploração eram modelos naturais de uma realidade econômica e humana cruéis. Todavia, militou a defender os direitos indígenas e enfrentou a opressão e a exploração. Em tupi, recebeu o nome de ‘Paiaçu’, ou Grande Padre/Pai. Quanto aos judeus, lutou para que não houvesse distinção, com a eliminação dos vernáculos cristãos-novos (judeus convertidos) e cristãos-velhos (famílias católicas tradicionais), herança da inquisição, criticando os próprios sacerdotes.
O “estalo de Vieira” (lembram?) foi marcado por um episódio que, segundo o próprio escritor, aconteceu ainda na adolescência, o qual “clareou’ a sua vida”. A história narra que uma forte dor de cabeça o acometeu e, após o dolorido episódio, passou a entender e estudar com maior facilidade, se destacando em todas as suas ações como pessoa de extrema inteligência. As suas obras se destacaram especialmente no cenário barroco, escola literária da qual fez parte, sendo leitura obrigatória na formação de jovens e adultos. É dele: “Todas as guerras deste mundo se fazem para conseguir a paz.”
Ingressou na Companhia de Jesus depois de completar o noviciado no ano de 1626, lecionando sobre humanidades e retórica. Também conhecida como ‘Ordem dos Jesuítas’, a Companhia de Jesus foi fundada em 1540 pelo Papa Paulo III, sendo a congregação religiosa a valorizar a fé católica e com grande envolvimento com a educação, se perfazendo em ordem a qual pertencem sacerdotes que fizeram história, inclusive o Papa Francisco.
Ficou conhecido como evangelizador e salvador das almas dos aborígenes. O trabalho forçado dos indígenas foi combatido duramente por ele que falava pelo menos sete idiomas dos nativos, se indispondo com a classe mais abastada. Disse: “Quem quer mais que lhe convém, perde o que quer e o que tem.” Chamado de “o imperador da língua portuguesa” por Fernando Pessoa, tem em sua conta literária correspondências, textos poéticos, peças de teatro e sermões. Crítico e polêmico, usava de suas obras, principalmente dos famosos “Sermões”, como forma de falar dos excessos da Inquisição. As obras mais lidas são “Sermão de Santo Antônio aos Peixes” e o “Sermão da Sexagésima”.
Ainda, fazia questão absoluta de escrever e ser entendido para que as palavras chegassem e ecoassem em um público mais ampliado, se antecipando em responder futuros questionamentos. A mensagem transmitida por ele, principalmente em tempo de muito sofrimento para determinados segmentos da sociedade, o fazia evitar uso de linguagem direta, tendo preferência que os seus interlocutores dessem asas ao pensamento.
Padre Antônio Vieira jogava com as palavras através do gongorismo. Conseguia mesclar a visão medieval e a renascentista pelo fusionismo. Fazia uso de antíteses e paradoxos. Cultuava o contraste com a oposição das ideias, visto ser pessimista. Usava da hipérbole e sinestesia com a fugacidade do tempo. Combinava as suas ideias com o conceptismo e o quevedismo. Criticava a vaidade e estava à serviço da fé com a temática religiosa.
Era de seu costume dar valor ao momento: “Carpe diem”. E não por menos, antes de falecer, em agonia, perdeu a voz que tanto fez eco, silenciando seus sermões e discursos. Morre na Bahia, em 1697, aos 89 anos, deixando cerca de 700 cartas e 200 sermões.
Fiquem com uma das suas mais belas citações: “Para falar ao vento bastam palavras, para falar ao coração são necessárias obras.”
É por aí...
Gonçalo Antunes de Barros Neto tem formação em Filosofia, Sociologia e Direito.
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