Assim como 2022, o ano de 2023 começou desafiador. No mês passado, a Guerra da Ucrânia completou um ano e além do impacto nas vidas, o que por si só já seria terrível o suficiente, um de seus outros muitos impactos negativos tem sido na economia global, com a alta da inflação. O resultado deste ambiente de instabilidade é nítido no apetite dos investidores e executivos. Cautela tem sido a palavra de ordem.
O que vale a pena ser lembrado e reforçado, neste contexto, é que a inovação continua sendo essencial para ganhar competitividade e conquistar a liderança no mercado. É uma prática que sempre será uma das mais promissoras soluções para momentos de crise. Para comprovar esta tese e apoiar executivos que já entenderam que este é um caminho que vale a pena seguir, menciono aqui cinco dicas especiais para quem quer aumentar as chances de fazer a inovação dar certo, mesmo com menos capital disponível e mais exigências de retorno no curto prazo.
1) Inovaç?o é o bote salva-vidas para a crise (e para depois dela)
Em momentos de crise, muitas empresas optam por segurar os investimentos e serem mais cautelosas, o que é natural. Porém, estudos já demonstraram que empresas que continuam investindo em inovação, conseguem não só performar, em média, 10% melhor que seus concorrentes durante o período de instabilidade, como também saem na frente da concorrência após este período. Durante a crise financeira de 2009, por exemplo, segundo um estudo da Mackinsey, aquelas que mantiveram seus investimentos superaram a média do mercado em mais de 30%, despontando como líderes e continuando a crescer nos anos seguintes.
Isso acontece, em grande parte, porque as crises mudam os mercados e o comportamento do consumidor e, portanto, as empresas que continuam fortalecendo a inovaç?o se mantêm atentas a estas mudanças, conseguindo agir mais rápido. A pandemia foi um grande exemplo. Vimos o surgimento de vários novos modelos de negócios, experiências e serviços. Quem estava atento e preparado, saiu na frente.
2) Busque oportunidades de inovar que tragam retornos rápidos
Priorizar desafios que conseguem trazer retornos mais rápidos - como ganhos de eficiência - ou aqueles que podem se tornar uma nova fonte de receita a curto ou médio prazo para a empresa tendem a ter menor resistência dos executivos para avançar, pois s?o oportunidades mais tangíveis e que conseguem trazer um retorno claro mais rapidamente.
3) Seja claro sobre os impactos da inovação
Muitos investimentos em inovaç?o são despriorizados pela falta de entendimento de quais benefícios/retornos a inovação pode trazer. É indicado, portanto, que a empresa, antes de começar um teste ou alocar recursos relevantes, consiga dar clareza sobre o potencial de retorno. Importante ressaltar que quando se trata de inovaç?o, além do retorno mais óbvio - o ROI, Return of Innovation - é possível também apurar resultados em diversas outras dimensões de impacto, como modelos de trabalho melhores, fortalecimento de práticas ESG, ganhos com a imagem de marca, cultura organizacional, entre outros.
De maneira prática: liste as dimensões de impacto que fazem sentido para a sua empresa, atribua uma nota para cada uma delas de acordo com a iniciativa de inovaç?o que se pretende implementar, e veja se os ganhos são relevantes o suficiente para seguir adiante. Caso decida avançar, defina qual é a pergunta norteadora do experimento e determine quais são as hipóteses que devem ser comprovadas. Aí é partir para a execução com disciplina e foco nos indicadores.
Com isso, será possível manter a consistência da estratégia, defender os investimentos e comprovar os ganhos, uma vez que a iniciativa for implementada.
4) Destrave os habilitadores: métodos, processos e cultura organizacional
Priorize definir processos, metodologias e trabalhar a cultura organizacional. Estes três pilares s?o habilitadores para qualquer estratégia de inovação que a empresa queira fazer.
Sem cultura nenhuma estratégia de inovação se mantém consistente no tempo. Invista, sobretudo, em experiências e capacitações do estilo "faça você mesmo", em que os colaboradores colocam a m?o na massa e entendem que é possível resolver problemas de maneiras mais ágeis. Com uma nova mentalidade, as pessoas começar?o a n?o só terem mais habilidades para trabalhar a inovaç?o, mas levar isso para o dia a dia de seus processos e áreas, enxergando os problemas de forma diferente e buscando possibilidades de melhoria, o que de forma geral fará com que a empresa tenha mais flexibilidade e resiliência para lidar com as adversidades.
Mas isso é o primeiro passo. Para que seja possível ter resultados práticos e consistência ao longo do tempo s?o necessários processos e metodologias. Inovação requer muita disciplina e foco. Por isso, caso sua empresa ainda não tenha desenvolvido estes habilitadores, busque referências no mercado de empresas que já o fazem ou até mesmo o apoio de parceiros. Desta forma, é possível ganhar agilidade e evitar erros básicos de execuç?o.
Falando em metodologias, uma que gosto muito é a do "smallest first step" que consiste em entender qual o menor primeiro passo possível para hoje, mas que, ainda assim, irá trazer resultados e aprendizados suficientes para saber se aquela inciativa deve ou n?o seguir. É uma forma eficaz de reduzir os riscos, otimizar recursos com testes rápidos e de menor custo e, portanto, diminuir a fricç?o com o contexto organizacional.
5) Amplie e potencialize seus recursos
Inovaç?o aberta é a forma mais rápida, barata e eficiente de inovar, pois conta também com recursos de fora da organizacão: diferentes visões, expertises, tecnologias e, especialmente em momentos de crise, captaç?o de recursos e incentivos.
Se a sua empresa ainda n?o utiliza captaç?o de recursos com agências de fomento, programas do governo ou até mesmo n?o faz parcerias com outras empresas e institutos de pesquisa, você deve começar isso agora. Existem diversos programas e instrumentos que oferecem recursos financeiros, benefícios fiscais e modelos de trabalho com talentos saindo da vida acadêmica que facilitam para que a empresa possa seguir investindo em inovaç?o.
Para se ter uma ideia, existem editais onde todo - ou quase todo - o capital necessário para testes com startups é financiado com este tipo de recurso, e a empresa precisa somente se comprometer com a execuç?o dos testes. Ou seja, s?o mecanismos essenciais que todo gestor da inovaç?o precisa entender e saber acessar.
*Marina Cassino é head de open innovation da The Bakery Brasil, empresa global de inovação corporativa, com presença em 22 países. Antes disso, construiu uma carreira de cerca de 12 anos no grupo multinacional Natura &Co, que possui destaque global em práticas ESG. É professora convidada no MBA da Inova Business School, mentora de startups na Associação Brasileira de Startups e foi selecionada pela Global Corporate Venturing na lista "39 women to watch in the LatAm CVC world''.
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