Este artigo origina-se de uma conversa breve com a senadora Margareth Buzetti e a partir de uma postagem dela no facebook. Na conversa, perguntei-lhe como é estar no Senado. Ela disse que lá é um pouco circo. E a sua postagem foi uma queixa grave sobre um problema do governo federal em relação a Mato Grosso. Certamente ela teve muitas curtidas e comentários desencontrados como acontece nas redes sociais. Nada de efetivo, afinal.
A partir daí vem o artigo. O Brasil vive um período crescente de desmonte da real política. Desordem. Falatórios. Comércio de compra e venda de mandato, troca negociada de partidos e opiniões sob encomenda. No início da década de 1970 fui repórter do Jornal de Brasília credenciado na Câmara dos Deputados. Havia alguns deputados que se inscreviam pra discursar na tribuna. Naquele dia o plenário se enchia de deputados pra ouvir. As galerias lotavam de gente que queria ouvir o que os deputados tinham pra dizer.
No Senado era a mesma coisa. Cito alguns senadores desse nível: Petrônio Portela, Nelson Carneiro, Tancredo Neves, Pedro Aleixo, entre outros. Seus discursos eram escritos, ou então eles preparavam e falavam de improviso. Eram aulas de História, de filosofia, de sociologia, de economia, ou avaliações profundas da vida nacional. No dia seguinte eram seguramente manchetes dos principais jornais do país. E apareciam no horário nobre das televisões. O Congresso dividia a pauta com o governo militar.
Na época vivíamos no regime militar. Exceção de alguns ministros do governo, a maioria eram executivos despreparados pra entender a política. Quem pautava o governo e o fazia recuar eram os discursos pronunciados por parlamentares daquele nível nas tribunas do Congresso Nacional. O atual governo brasileiro, em termos de despreparo, é muito pior do que os do regime militar. O presidente da República fala pelos cotovelos e não tem uma voz parlamentar sequer pra contribuir ou pra contradizer. Muito menos questionar. Qualquer bobagem dita vira verdade sem contadita. O resultado é um só: a mediocridade que piora dia a dia na política.
Estão faltando parlamentares na tribuna. Seja no nível das assembleias legislativas estaduais, seja no Congresso Nacional. Queiram ou não a tribuna é o lugar sagrado que garante ao parlamentar e imunidade que lhe dá o mandato. Fora o período de exceção política do regime militar, nada do que se diz na tribuna é sujeito a censura ou a punição. É o templo sagrado onde as verdades dos representantes eleitos pela população tem pra exercer os seus mandatos. Hoje o exercício parlamentar cada dia mais fica no chão de fábrica e na superficialidade passageira das postagens nas redes sociais.
É preciso saber o que pensa o Congresso Nacional, sob pena da democracia cada dia sumir nos conflitos de poderes e nos arranjos comerciais de governantes medíocres. Hoje os poderes executivo, legislativo e judiciário estão completamente disfuncionais. Não funcionam como entes da República. E quando funcionam, funcionam péssimos.
Não vejo há muitos e muitos anos parlamentares de Mato Grosso subirem à tribuna pra falar do Brasil ou pra qualificar as questões que defendem. A tribuna pode ser uma cátedra da política. A sociedade está muito cansada dos conchavos de bastidores e das conversinhas entre parlamentares, como se isso fosse o exercício parlamentar. E encerro lembrando que lá em Brasília e no Congresso Nacional ainda não chegou a verdadeira imagem desse Mato Grosso gigante. Quase um país. É na tribuna que esse tipo de aula é passada à mídia, ao próprio Congresso Nacional e a todo o país. Mas no silêncio dos nossos parlamentares, assim continuaremos mal entendidos. O mesmo raciocínio vale para a Assembléia Legislativa do estado, onde a tribuna mais parece uma coluna de fuxicos da mídia interiorana.
Muito tititi. Poucas ideias. Pouca cultura. Pouca educação política. Pouca educação social. Nenhuma voz apropriada!
Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso.
ponofreribeiro@onofreribeiro.com.br www.onofreribeiro.com.br
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