Considero como os grandes desafios econômicos de Mato Grosso para a próxima década: a) acelerar a industrialização; b) garantir a sustentabilidade ambiental e social; c) erradicar a pobreza e reduzir a desigualdade social.
Nos últimos quarenta anos Mato Grosso promoveu o maior salto qualitativo do país na produção agropecuária. Da década de 1980 até os dias atuais, saímos da situação de estado periférico para ser o maior produtor agrícola do país e um dos maiores “players” mundiais em produção de grãos, carnes, fibras e madeiras. Impulsionados por extraordinários incentivos governamentais, sob a forma de oferta de terras, crédito rural barato, vultosos investimentos em pesquisas e desoneração tributária, os agropecuaristas de Mato Grosso desempenharam bem o seu papel de protagonismo na produção de alimentos, fibras e madeiras.
O estado tornou-se referencial mundial de excelência em produção, produtividade, rentabilidade e inovações tecnológicas voltadas ao agribusiness. A intensa exposição ao ambiente altamente competitivo do comércio exterior também ajudou muito para o bom desempenho do segmento. A longa cadeia produtiva da agropecuária alavancou a economia local levando o PIB estadual ao maior crescimento entre os estados brasileiros nos últimos 35 anos. Um verdadeiro “crescimento chinês” encravado no cerrado brasileiro.
Todavia, o setor industrial não teve a mesma dinâmica de crescimento do setor agropecuário. Nunca obteve dos governos federal e estadual impulso da mesma proporção dedicada à agropecuária e não foi exposta, como a agricultura e pecuária, à fortíssima concorrência internacional. E os grandes avanços tecnológicos industriais surgiram muito mais na região sudeste, no exterior e pouco na região centro oeste. Resultado, a indústria estadual não caminhou na mesma velocidade que a agricultura. Colheu avanços na segmento de alimentos e, nos últimos anos, na produção de etanol de milho.
Exigência mais recente de consumidores, mercados, governos nacionais, as práticas ASG ( ambiental, social e governança ) transformaram-se num dos ativos de maior relevância na produção e comercialização de bens e serviços no mundo inteiro. Em sentido oposto, qualquer produção em escala industrial que não demonstre sustentabilidade sob os aspectos ambientais, sociais e rastreabilidade, terá, cada vez mais, dificuldades nos mercados globais.
Primeiramente, por parte dos países mais desenvolvidos, mais exigentes e com maior poder de consumo. Logo são seguidos pelos demais, abrindo ou fechando janelas de oportunidades para exportadores, como é o caso do Brasil e de Mato Grosso. Por conseguinte, a variável ASG é um componente de extrema relevância econômica e comercial para a agropecuária de Mato Grosso que ainda sofre certo grau de desconfiança por parte de mercados mais exigentes, como o europeu, japonês e americano.
O mercado chinês ainda faz vistas grossas. Mas se aderir à onda global e mudar sua visão estratégica, pode reduzir compras de fornecedores que sejam questionados por parceiros comerciais relevantes como Europa e EUA. Daí, a urgente necessidade de os empreendedores locais, governos, instituições representativas do empresariado, melhorarem suas práticas produtivas, aperfeiçoarem sistemas de compliances ambientais, sociais e governança corporativa e demonstrar que é possível produzir de forma sustentável, transformando essa variável em ativo importante da economia estadual.
A economia de Mato Grosso, inclusa a agropecuária, viveu sua melhor década no período de 2012 a 2021, com aumento de produção, da produtividade e da rentabilidade. Mesmo com a tempestade perfeita que foi o ano de 2020 com a surpreendente pandemia da covid-19. Mas, no mesmo período, o estado convive com elevados níveis de pobreza e aumento das desigualdades sociais. Surgiram no estado ilhas de prosperidade com níveis muito elevados de acumulação e concentração de riqueza, ao mesmo tempo que aumentaram os bolsões de pobreza.
Nos cadastros sociais estadual e federal existem 156 mil famílias em situação de pobreza e extrema pobreza, aproximadamente 500 mil pessoas, que dependem dos programas de transferência de renda dos governos para sobreviver. Além de incômodo e constrangedor, esse panorama prejudica a imagem nacional e internacional do estado que se posiciona como o maior produtor de alimentos do país.
A realidade cobra urgência de medidas integradas do setor público federal, estadual e municipal, além dos setores privados e instituições sociais e privadas para redução e posterior erradicação da pobreza em nosso território.
Vivaldo Lopes é economista formado pela UFMT, onde lecionou na Faculdade de Economia. É pós-graduado em MBA Gestão Financeira Empresarial-FIA/USP (vivaldo@uol.com.br)
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