Os números são uma forma bastante eficaz de mostrar a dimensão das coisas. Então, neste “Dia Mundial Sem Tabaco” (31 de maio), nada melhor do que trazer à tona dados que reforçam a importância da data e da conscientização da população. Por exemplo, de acordo com pesquisas divulgadas este ano pelo Instituto Nacional de Câncer (Inca), referentes a 2017, 428 pessoas morrem por dia no Brasil por causa do tabagismo.
Isto equivale a 12,6 % de todos os óbitos em pessoas maiores de 35 anos, o que representa 156.216 mortes por ano passíveis de serem evitadas. No Brasil, as estimativas são de que 4 a 17 % das mulheres e 10 a 24 % dos homens fumem regularmente. Mas existe um contingente grande de pessoas que são consideradas fumantes passivos, ou seja, que são impactados pelo fato de conviverem com pessoas que fazem uso do tabaco.
Vale ressaltar que a fumaça do cigarro também contém substâncias tóxicas e cancerígenas,o que contribui para o desenvolvimento de doenças em pessoas que convivem com tabagistas que fumam em ambientes fechados.
A fumaça tragada pelo fumante contém cerca de quatro mil compostos, mais de 200 tóxicos e cerca de 40 cancerígenos. Uma parte dessas substâncias não vai para o organismo do fumante por causa do filtro que têm os cigarros, por exemplo. Mas a fumaça que sai da ponta acesa não é filtrada. Quer dizer que o ambiente recebe, em média, três vezes mais nicotina e monóxido de carbono, e até 50 vezes mais substâncias cancerígenas.
Só esses números já assustam, não é mesmo? Mas a conta ganha muito mais apelo quando se mostra o impacto no restante da população. O mesmo estudo do Inca revela que o país perde anualmente R$ 56,9 bilhões em função de despesas médicas e perda de produtividade. São recursos gastos com o atendimento de pessoas com problemas de saúde atribuíveis ao tabagismo e os custos da incapacidade ou morte prematura dos trabalhadores.
São custos tão altos que nem mesmo a carga tributária imposta sobre a produção e a venda de cigarros é capaz de compensar. Estima-se que a arrecadação seja de aproximadamente R$ 13 bilhões ao ano, valor que chega a cobrir apenas 23% das perdas causadas pelo tabagismo. O aumento do preço dos cigarros através dos impostos é reconhecido mundialmente como a medida mais custo-efetiva para reduzir seu consumo, principalmente quando políticas fiscais sustentadas são mantidas ao longo do tempo.
O estudo divulgado pelo Inca mostra que com o aumento do preço dos cigarros no Brasil toda a população seria beneficiada. Um reajuste de 50% poderia prevenir mais de 136 mil mortes, 507 mil doenças cardíacas, 64 mil novos cânceres e eliminar mais de 100 acidentes vasculares cerebrais (AVC) em dez anos. Além disso, recursos da ordem de recursos de R$ 97,9 bilhões poderiam ser gerados, impactando positivamente na economia brasileira.
Se ampliarmos o universo, as contas ficam ainda mais alarmantes, pois o tabagismo é a principal causa evitável de morte e doença em todo o mundo. Anualmente, são cinco milhões de mortes atribuíveis ao consumo de produtos de tabaco. E as previsões são de que, em 2025, esse número dobre de tamanho.
Como na Matemática, em que os números não mentem, não há dúvidas quanto aos efeitos danosos do tabagismo. E o mesmo se pode dizer da importância da prevenção e da detecção precoce de doenças, especialmente o câncer. Quanto mais cedo for o diagnóstico do câncer e o início do tratamento, assim como quanto maior for a qualidade desse atendimento, maiores são as chances de cura e de sobrevida para o paciente.
Carla Nakata é meoncologista clínica da Oncomed.
Ainda não há comentários.