Houve uma época, lá na antiga Antenas, que Ágora servia de local para discussão, para o embate de ideias e de posicionamentos políticos. Tudo, ou melhor, quase tudo inflamava os debates. Esgrimistas de relevo. Ainda que movidos pela retórica, e pelos ensinamentos de muitos sofistas, entre os quais, um de seus maiores, Górgias. Séculos se passaram. Restaram apenas os registros desse período.
Registros, no entanto, pouco visitados, a despeito dos instrumentos existentes para tal. Talvez, e por que não, o plenário dos Parlamentos faz lembrar-se do que fora Ágora. Plenário por onde passaram vários oradores, estadistas por certo. Mas, também, este momento se foi. Esvaiu-se. Tocado pelo redemoinho violentador. Ou, quem sabem, pelo minuano, que arrasta o que se vê pela frente, e o joga no sótão. Transformado em pretérito, cujas águas não escorrem mais pelos leitos de agora. Enfraqueceu, então, a esgrima política. Pauperizou a peleja com as palavras. Até a representação se fez dilacerada. Opaca por demais.
Infelizmente, o representante eleito hoje em dia se perde entre o riacho da mediocridade, afogado dia e noite, noite e dia, na ressaca da incompetência. E, assim, o plenário – lugar apropriado para as discussões – se esvazia por completo, mesmo que esteja povoado, pois lhe falta exatamente o oxigênio de que precisa para existir, e existe para não existir. Todos perdem. Bem mais o viver democrático, que se sente empobrecido, cabisbaixo e arreado. Nada parece levantar o astral.
Nem adiantaria tentar, uma vez que tal tentativa sempre será em vão. Afinal, parlamentar algum, em quaisquer dos parlamentos do país, tem na cartola um coelho, e mesmo se a tivesse não saberia o que fazer com o que saísse dela. Ficaria como sempre esteve perdido em pleno santuário do debate. Santuário, ora solitário, apesar da suntuosidade. Bastante distinto do que se tinha em meados dos anos 1950.
Erguido, por exemplo, no coração da Capital mato-grossense, e sufocado por vozes que ecoavam em seu curto espaço, o qual era palmilhado por trinta deputados estaduais, de diferenciado expecto político. Ainda que em sua maioria, óbvio, predominasse o conservadorismo, espremido e, por vezes, em sinuca de bico, proporcionado por dois ou três representantes da esquerda. Quase sempre sob a bandeira do velho PTB. Partido que serviu de trampolim para muitos com tendência esquerdista. Debates aconteciam.
Oposicionistas e situacionistas se pegavam. Pouquíssimos deles não sabiam a arte da esgrima. As atas das sessões são ricas nesta direção. Dão a mostra do que de fato ocorriam naquele acanhado e improvisado plenário em um edifício encravado à meia altura da Getúlio Vargas. Enche os olhos de quem se atreve a folheá-las.
Ao contrário do que se tem hoje. Debate nenhum, ideia nenhuma. Pois não se pode exigir coisa alguma de quem nada tem para oferecer. Não se pode, ou melhor, não se deve cobrar o uso da esgrima de quem jamais se fizera uso dela. Situação preocupante. Preocupa-se muito mais quando se percebe que essa situação se repete em outros palcos-parlamento, e, igualmente, nos seus maiores, o do Senado e o da Câmara Federal.
Senador algum de hoje se compara com a maestria do mineiro Camilo Nogueira da Gama, nem do gaúcho Daniel Krieger, que eram medianos, não os maiorais, e, sequer, iguala-se aos mato-grossenses Mario Motta e Paulino Lopes da Costa – que se situavam nos corredores periféricos, e não da sala de estar da Câmara Alta. Há, hoje, uma pobreza reinante, tornando o ambiente monótono, enfadonho. Despachantes de emendas. Contam, inclusive, com a emenda do relator. É uma aberração. Substituta da discussão, do embate de ideias, de projetos. Penalizando o eleitorado. Pobre país! É isto.
Lourembergue Alves é professor universitário e estudioso do jogo político.
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