• Cuiabá, 21 de Novembro - 00:00:00

Proibido Proibir

Ano político-eleitoral. Presumia-se, ou, quem sabe, esperava-se que a população, ou, ao menos, uma grande parcela dela puxasse conversa sobre a situação vivida. Situação não. Situações. Plural, assim como a própria condição do país. Não seria outra a do povo. Povo e país em um tecido de pluralidade. Tecido jamais pensado, contudo, por quaisquer partidos, nem pelos políticos, tampouco por supostos candidatos, ainda mais por quem virão a reeleições. Todos agem e se comportam como se a Nação e seus habitantes fossem uniforme, singular.

Sinal de total miopia. Miopia provocada, não causada pela conveniência, preguiça de servirem, até porque veem o Estado, bem como suas respectivas unidades como uma enorme vaca leiteira, cujas tetas estão todas ocupadas, sem qualquer brecha para que alguém de fora invada o ambiente, e faça parte do banquete. Fala-se muito em mudanças. Mas, há de se convir, nem tudo que se muda, vem para melhor. Aliás, as fotos que estão ao alcance do olhar, ainda que anuviado, revelam um cenário desmudado. Substituíram rostos dos álbuns de fotografias. Rostos mais jovens. Outros nem tanto joviais. Mas o filme é o mesmo, idêntico ao que se tinha antes. “Script” carcomido, com as velhas e antiquadas paisagens.  

Equivocaram quem pensou, ou imaginou-se, ou acreditou que tudo se mudaria. Nada mudou. A “velha política”, sequer, teve trocada a sua roupa. Ainda se apresenta como outrora. Até o seu véu é o mesmo, encardido, enfarruscado. Velhos jargões são vendidos como novos, e as práticas são as mesmas, defendidas com iguais palavras, cujas entrelinhas estão tomadas de erva-daninhas, que crescem, e crescem e se alastram para fora dos canteiros, dando ideia das enxurradas, cujas ondas fazem as águas barrentas ultrapassarem os limites, a despeito de toda a parede constitucional.

Mas, nenhum dos atores do campo político-eleitoral, de fato, se preocupa com as trilhas um dia construídas para que o país não perdesse o rumo, a direção. Verdade dura. Bem mais para os ouvidos do eleitor-torcedor. Este não aceita qualquer questionamento sobre seu político de estimação. Não aceita, e parte para a agressão quando o comportamento de seu ídolo-mor se vê em xeque-mate. O que contraria qualquer experiência democrática. O viver em democracia nunca foi, nem é, tampouco será parada a exemplo de um charco, mas, isto sim, por correntezas desconexas, imprevisíveis, e que obrigam cada sujeito a se equilibrar, ainda que em corda-bamba, ou por apenas um salva-vidas meio gasto, até em razão de seu desuso.

É este o ponto. Ponto de equilíbrio da “res publica”. Palavrinha, talvez, desconhecida por muitos. Bem mais por aqueles que estufam o peito para se intitular patriota, sem sê-lo de verdade, e também por quem coloca a si próprio como defensor da família, o que é no mínimo tragicômico, pois os construtores das ditaduras também se diziam ser, no entanto, invadiam as casas de quem discordavam do regime e os arrancavam, à força, depois os jogavam no calabouço, e deste para a morte, destruindo assim as famílias. Faziam isso, muitas vezes, com a bíblia debaixo do braço.

A literatura é rica neste particular. Mas, infelizmente, esta é uma situação que não se pode tocar, nem ao menos mencionar, nem mesmo nas salas-de-aula, senão o professor pode ser acusado de querer impor sua ideologia, crença aos seus alunos. Enquanto isso, outros, de seus postos-chaves, vão ditando regras, normas, e fazendo vistas grossas para as crises - econômica, política, sanitária - que em forma de ondas, alagam todo o Estado nacional, fazendo crescer o terremoto que jogam longe a grande maioria da população, dividindo-a em pertencentes na extrema pobreza e na pobreza, com o sinal fechado do cadastro único, deixando milhões fora do Auxílio Brasil, até porque foi interrompida a linha-direta da entrada automática. Ah!... Oh!... Este também é um tema que não se pode tocar, muito menos em ano-eleitoral. Senão... É isto.

 

Lourembergue Alves é professor universitário e analista político.  



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