Faz certo tempo que esta coluna se ocupa das coisas políticas, do jogo político-eleitoral. Poucos foram os textos que desviaram desta rota. Rota caminhada por anos. Mesmo assim, não caminhada a contento. Pois sempre há algo a ser revisto, reolhado e reanalisado.
Detalhes que se perderam ao longo do caminho. Um caminho conhecido, embora não mudado, ainda que figuras ou imagens costumeiramente encontradas tenham sido trocadas, substituídas, mas, definitivamente, iguais como eram antes, a despeito de suas vestes, ou aparências. Aparências, aliás, próprias do ambiente, cujos discursos que o sustentam são construídos por vazios de ideias. E tende, infelizmente, a aumentar esse vazio, prenhe de falações ocas de conteúdos, especialmente num período em que mais se precisam deles, afinal, vive-se em plena pandemia.
A redução de internação e de óbitos não significa que o Covid-19 foi controlado. Nada disso. Uma nova cepa do vírus, tida pela OMS (Organização Mundial de Saúde) como “variante de preocupação”, que se espalha com tanta rapidez em seis países da África. Países que passaram a ter seus voos impedidos de chegarem a algumas das nações europeias, que, por sua vez, sofrem horrores com uma nova onda do Covid-19.
Onda que ameaça outras partes do mundo, entre as quais a América Latina, amedrontando a todos, bem mais ao Brasil, cuja lista de mortos ultrapassou a seiscentos mil. Vidas que se foram, deixando famílias enlutadas, viúvas, viúvos, pais sem seus filhos e órfãos. Enquanto essas perdas cresciam, o Estado se apequenava com a divisão em que fora submetido, requentada com a defesa estapafúrdia de remédios sem qualquer comprovação científica no combate ao Covid-19.
Agora, diante da nova onda e da nova cepa, os que estavam na linha de frente daquela defesa se volta para o combate ao passaporte de vacinação. O presidente da República fala em abrir as fronteiras, sem a cobrança do tal passaporte, reforçado pelo seu ministro da Justiça, ao contrário da recomendação da ANVISA, que propõe, advoga e recomenda a combinação a testagem dos viajantes com a vacinação como forma de impedir a disseminação do vírus.
Uma vez mais, a técnica e a ciência são trocadas pelo achismo alimentador de vontades egoísticas, ovacionadas por parte dos especialistas das redes sociais, em um espetáculo a parte, que se soma, não diminui ao outro, o da política. Ambos movidos pelo disque-me-disque, achismo e pela ausência de ideias. Aliás, o jogo político-eleitoral, há muito, é todo norteado por esta ausência. Ausência associada por outras, em especial a de estudos a respeito dos problemas nacionais.
Partido algum se deu ao trabalho de encomendar, ou mesmo fazer determinadas análises, embora tendo, alguns deles, fundações e entidades que bem poderiam estar incumbidas de tais tarefas. Mas, ao contrário disso, se perderam em bobagens políticas, como se estas fossem o bastante para eleger, ou reeleger mandatários regionais e nacionais em 2022.
Ignoraram os fatos, substituíram o conhecimento pelo chute. Chute para qualquer lado, ainda que seja para o meio do mato, como se dizia nas peladas realizadas na região rural. Eleitos ou reeleitos, uma vez empossados, tocam as administrações com a improvisação. Improvisam de tudo. “Script” de um velho filme, embora refeito com a ajuda da tecnologia, com novos brilhos, roupas da moda, continua arcaico, antiquado e inapropriado para o momento em que a saúde pública clama por socorro, a educação escolarizada capenga, a segurança posa de insegurança, o desemprego se espalha e a fome se alastra muitíssimo, em meio à produção de grãos, que bate seu próprio recorde ano a ano, e de riqueza para poucos.
A onda da desigualdade se avoluma, as águas da intolerância saem pelo ladrão, e a sensibilidade por parte de parlamentares e governantes se evapora entre nuvens do efeito estufa. Sem que haja, ao menos, o arco-íris da esperança. Prevalece, então, o redemoinho oco das faltas. Inclusive, e, sobretudo, a de ideias, que cedem lugar para a mediocridade. É isto.
Lourembergue Alves é professor universitário e analista político.
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