Até o fim deste mês serão realizadas as audiências públicas ou a discussão ampla sobre o Eia-Rima para dois portos na hidrovia Paraguai-Paraná, Barranco Vermelho e Paratudal.
É a primeira vez que se chega a esse ponto quando se fala em avanços naquela hidrovia. Portos bem abaixo no rio Paraguai, depois da sinuosidade daquele rio, onde se tem a maior parte do turismo da área. Os portos, se tudo for aprovado, seriam em lugar que o rio é mais largo e profundo, depois de receber até afluentes.
A hidrovia sempre existiu, foi por aí que se fez parte da conquista de Mato Grosso. Pessoas ou cargas saiam do Rio de Janeiro pelo mar, subiam pela hidrovia e, entrando pelo rio Cuiabá, se chegava até a capital.
MT teve, por longo período, mais ligação com países sul-americanos, por causa da hidrovia, do que com o resto do Brasil. Isso chegou até a preocupar o governo federal. Acredita-se que a chegada da ferrovia ao hoje Mato Grosso do Sul foi para afastar MT dessa proximidade maior com os países do Prata. Ia-se de hidrovia até um determinado ponto e dali por ferrovia para São Paulo, escapando do abraço da Argentina e Uruguai. Ao longo dos anos MT foi afastando da hidrovia. Hoje o Mato Grosso do Sul a usa, MT não.
A hidrovia passa nos países do Mercosul. Uma integração econômica em que os países vendem e compram produtos com preços sem taxação. E ainda transportados numa hidrovia que é o sistema mais barato de transporte que existe.
MT poderia vender e comprar produtos, através da hidrovia, do Uruguai, Paraguai e Argentina, países membros do Mercosul, e mais a Bolívia, membro associado. Produtos da Argentina poderiam vir diretos pela hidrovia e não pelo porto de Santos. MT poderia recebê-los e distribuí-los para Acre, Rondônia e outros lugares.
Permita-me um sonho possível. A ZEP funcionando em Cáceres, com gás da Bolívia, o gasoduto passa naquele território, e podendo, por uma hidrovia, vender bens de uma agroindústria ali, para os países do Mercosul. ZPE tem incentivos fiscais enormes, o gás diminuiria custo de produção e hidrovia é o mais barato dos meios de transporte. Daria ou não para sermos competitivos numa agroindústria nascida no oeste do estado?
Por que o Mato Grosso do Sul usa essa hidrovia e MT não? Por causa do Pantanal? No MS se tem a mesma hidrovia no mesmo Pantanal. É mais do que óbvio que se tem que ter o maior cuidado com esse ecossistema, seguir todas as regras que o meio ambiente pede. Ter bom senso com as coisas do Pantanal.
Tudo bem feito e amarrado com a defesa do meio ambiente, com obediência de todas as regras, por que não ter agora uma hidrovia, como se teve no passado e se tem ainda hoje no estado vizinho? Lá pode, aqui não?
Alfredo da Mota Menezes é Analista Político.
E-mail: pox@terra.com.br Site: www.alfredomenezes.com
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